A presença e saída de António Costa da Comissão de Honra de Luís Filipe Vieira e a remodelação de secretários de Estado que o Governo fez na passada semana foram temas que estiveram em cima da mesa no habitual comentário de Marques Mendes, aos domingos, na SIC. "Com ironia, diria que tivemos duas remodelações esta semana", afirmou.
Recordando que tinha dito na semana passada que o "primeiro-ministro ainda se ia arrepender" de pertencer à lista do presidente do Benfica, o ex-líder do PSD acrescentou que António Costa "deve estar aliviado por um lado e arrependido pelo outro" e "tão cedo não vai meter-se noutra deste género".
"No seu íntimo, António Costa percebe que lhe correu mal, que deu um mau exemplo e que deixa mesmo uma mancha que, de alguma forma, o vai marcar um pouco para o futuro", advogou.
Marques Mendes referiu, em seguida, que se o chefe do Governo não tivesse saído da Comissão de Honra até à sexta-feira passada, dia em que foi conhecida a acusação da Operação Lex - em que Luís Filipe Vieira é um dos arguidos - "era uma vergonha nacional, era quase chacota e não se sei se não chegava mesmo lá fora". "Era um primeiro-ministro a dar o seu apoio e o seu aval a alguém que é acusado de um crime".
Já quanto à remodelação governamental - em que a saída de Jamila Madeira chegou a surpreender a própria - o comentador sublinhou que esta "já estava mais ou menos anunciada" e que "não parece que fosse para desviar atenções nem que conseguisse desviar as atenções" deste caso.
"Acho que estão aqui [na remodelação] maus sinais. É mais um erro de António Costa. De resto, esta semana correu-lhe muito mal", considerou. "São cinco secretários de Estado que saem e porquê? [...] São substituídos por cinco outras pessoas que são ex-assessores ou ex-chefes de gabinete de ministros. Portanto, prata da casa, do aparelho. E isto dá um sinal de um Governo esgotado, fechado, cada vez mais divorciado da sociedade".
Outro dado que fez "imensa impressão" ao ex-líder do PSD foi o facto de um dos secretários de Estado que saiu do Executivo, Alberto Souto Miranda, ir para "administrador do futuro Banco de Fomento". "Isto é um exemplo de clientelismo. Então uma pessoa sai do Governo e já está logo anunciado que vai para administrador de um banco?", questionou.
Apontando que o "clientelismo não é exclusivo deste Governo", Marques Mendes diz que neste caso há também um problema "de independência". "Dá a ideia que isto não é um banco independente, que é uma nova direção-geral do Governo". Estes são, para o comentador, "muito maus sinais do estado do Governo".
Sobre o desempenho do primeiro-ministro, o advogado opinou que "António Costa veio de férias e, praticamente neste mês depois das férias, são só erros". E exemplificou: "Comprou uma guerra com os médicos, depois recuou, foi a ideia de abrir uma crise política, também recuou, depois o disparate monumental do apoio a Luís Filipe Vieira, depois esta remodelação em circuito fechado".
E como se justifica? "A razão principal, do meu ponto de vista, é que há aqui sinais. Os primeiros sinais de que estamos no princípio do fim de um ciclo político. Não é ainda no fim, até chegar ao fim leva um ano ou até mais".
"Acho que há aqui os primeiros sinais: cansaço, esgotamento, falta de paciência, que depois, normalmente, dão em arrogância, intolerância, sentimento de impunidade - que é um bocadinho isto que aconteceu com Luís Filipe Vieira - que normalmente acontece quando os Governos estão em fim de ciclo. Isto não é novo, já aconteceu nos Governos de António Guterres, de José Sócrates", apontou
Assim, "estes são os primeiros sinais do princípio do fim do ciclo de António Costa", na opinião de Marques Mendes, sendo que "se António Costa não muda, isto já se torna irreversível, e que o desgaste e a degradação só têm tendência a piorar". "Uma coisa é certa: se não mudar, acho que corre o risco de já não completar o mandato".
Contudo, no entender do comentador, há questões que agravam o "cansaço" e os "sinais de esgotamento" do chefe do Governo, como o "não ter maioria", uma vez que tem ainda de aprovar três Orçamentos, a "candidatura de Ana Gomes" e a "sucessão" no PS.
A presidência portuguesa da União Europeia "não ajuda nada" à situação. "Não tenho dúvida que vai correr bem lá fora mas, normalmente, as presidências dão prestígio lá fora mas desgaste cá dentro, porque um primeiro-ministro não pode acudir a tudo" e Costa "não tem um grande Governo para o ajudar".
Marques Mendes concluiu dizendo "não ter dúvidas que este próximo Orçamento ainda vai passar", mas "provavelmente, daqui a um ano é muito difícil". Também o "desgaste da crise social" contribuirá para a 'queda'.