Filas que contornavam parques de estacionamento, outras que se estendiam por várias dezenas de metros. Era este o cenário, cerca das 11:00, na Cidade Universitária, em Lisboa, para os eleitores que optaram por votar antecipadamente para as presidenciais.
Apesar da extensão das filas, o tempo de espera era curto e a maioria das pessoas não ficava mais do que dez minutos à espera para votar.
Contudo, algumas pessoas mostravam-se insatisfeitas quando chegavam a uma secção de voto e, afinal, estavam no local errado.
"Tem de ler o edital", respondiam os funcionários à porta de cada uma das faculdades encarregues de encaminhar as pessoas para a respetiva secção de voto.
Descontentes, as pessoas que se equivocavam diziam que tinham estado numa fila enorme e que agora teriam de ir para outra.
"Pensava que [vir votar antecipadamente] era mais simples para mim, afinal há aqui alguma resistência com esta fila", disse à agência Lusa Francisco Menano, de 71 anos, que estava há "pouco mais de sete, oito minutos" na fila em direção ao edifício da Universidade de Lisboa.
Francisco acrescentou que quando chegou à Cidade Universitária ficou surpreendido com a fila "monstra" e pensou até "desistir" e voltar mais tarde. Contudo, mostrou-se contente com a "facilidade" com que a fila estava a progredir.
Luís Esperidião, de 42 anos, também decidiu votar hoje porque achou "que era importante diversificar os dias de voto, para que houvesse menos dias de concentração de pessoas", mas "estava à espera que estivesse menos gente", apesar de a fila estar a "andar bem".
Por seu turno, Luís Fernandes descreveu "um bocado e confusão", já que está "tudo misturado, uma pessoa não sabem onde é que pode pedir as informações e mete-se numa fila errada".
Contudo, o eleitor de 33 anos acredita que, se as pessoas "se mantiverem afastadas", não haverá problemas com a pandemia.
Ivo Pires, de 41 anos, já tinha votado antecipadamente em mobilidade nas europeias de 2019 -- primeiras eleições que contemplaram esta modalidade de voto em Portugal.
Na altura, votou antes do dia do sufrágio nacional "por razões profissionais", desta vez foi "por uma questão de organização familiar", tendo em conta "a situação atual da pandemia".
Contudo, outras maneiras de votar eram bem-vindas: "Vivemos numa época em que se devia facilitar muito mais o voto. Há imenso apelo ao voto, mas quem apela ao voto nada faz para facilitar o voto. Só esta modalidade de voto antecipado... Podia haver voto por correspondência, voto eletrónico".
Esta opinião é partilhada por Luís Esperidião que disse não compreender como é que ainda "não existe o voto 'online'", tendo em conta a pandemia.
Já Ana Ornelas, de 19 anos, disse que estava "bastante contente" por ver tantas pessoas a votar hoje.
A estudante de Direito, natural da Madeira, acrescentou que as longas filas são "sinal de que as pessoas não vão ficar em casa" e que vão exercer o direito de voto "independentemente da pandemia".
O dia de hoje "tem tudo para correr bem" e Ana Ornelas espera que seja assim no dia também no próximo domingo, com "as mesmas medidas" de distanciamento físico e de proteção.
Diogo Melim, de 20 anos, também natural da Madeira, disse estar surpreendido por ver "muita gente", mas defendeu que é importante votar porque está em causa o futuro do país.
Entre todas as pessoas que a Lusa entrevistou, apenas uma confessou que não trouxe a própria caneta para votar.
Os portugueses começaram hoje a votar, a uma semana das presidenciais de 24 de janeiro, através do chamado voto antecipado em mobilidade, para o qual 246.880 eleitores, um número recorde desde que esta modalidade foi introduzida, em 2019.
Lisboa é o concelho com mais inscritos, 33.364, seguido do Porto, com 13.280, e Coimbra, com 9.201, de acordo com o mapa publicado pelo Ministério da Administração Interna, em que se informa quais os locais de voto em cada um dos concelhos.
Os concelhos com menos inscritos são Porto Moniz, na Madeira, com oito inscritos, seguindo-se Nordeste, São Miguel, nos Açores, com nove, e Barrancos, distrito de Beja, com 14.
Depois da experiência de 2019, nas europeias e legislativas, o voto antecipado em mobilidade alargou-se, das capitais do distrito para as sedes dos concelhos, e o objetivo é simples: evitar grandes concentrações de pessoas devido à epidemia de covid-19 no país.
Quem estiver inscrito para o voto antecipado de hoje e não o fizer, pode fazê-lo no próximo domingo.
As eleições presidenciais, que se realizam em plena epidemia de covid-19 em Portugal, estão marcadas para 24 de janeiro e esta é a 10.ª vez que os portugueses são chamados a escolher o Presidente da República em democracia, desde 1976.
A campanha eleitoral termina em 22 de janeiro. Concorrem às eleições sete candidatos, Marisa Matias (apoiada pelo Bloco de Esquerda), Marcelo Rebelo de Sousa (PSD e CDS/PP) Tiago Mayan Gonçalves (Iniciativa Liberal), André Ventura (Chega), Vitorino Silva, mais conhecido por Tino de Rans, João Ferreira (PCP e PEV) e a militante do PS Ana Gomes (PAN e Livre).
Leia Também: Mais de 246 mil eleitores começam hoje a votar para as presidenciais