"Por mim não vai para lá outro", disse Sebastião, de 87 anos. "Nem por mim", concordou Aurora, de 77, que bateu palmas ao Presidente da República e recandidato ao cargo quando este passava na rua, depois de dar uma entrevista a uma rádio local da Azambuja, no distrito de Lisboa.
Marcelo Rebelo de Sousa aproximou-se e ao saber que Sebastião, padeiro de profissão, tocava acordeão pediu-lhe que tocasse "um bocadinho". Teve direito a duas músicas.
"Estive no programa do João Baião, na SIC, eu a tocar esta valsa e ela a dançar. Ela era viúva e eu viúvo e casámos", contou Sebastião.
"Foi muito bonito o nosso casamento. É a minha maior fortuna, somos muito amigos, somos muito felizes", acrescentou Aurora.
O chefe de Estado e candidato presidencial apoiado por PSD e CDS-PP desejou-lhes saúde e prometeu voltar para provar o pão feito por Sebastião: "Mal passe a pandemia havemos de ver esse talento, que eu tenho esse defeito enorme, adoro pão".
"Adoro este professor, desde sempre", declarou Aurora à agência Lusa, enquanto Marcelo se afastava.
O professor catedrático de direito jubilado tem tido ações de campanha diárias para as eleições presidenciais de domingo em instituições de solidariedade social, desde sexta-feira, para as quais se desloca sozinho ao volante do seu carro.
Hoje, visitou o Centro Social Paroquial da Azambuja, para enaltecer o papel das instituições particulares de solidariedade social (IPSS), que no seu entender "têm uma missão que é insubstituível, apoiadas pelas autarquias", atuando "onde o Estado não pode chegar".
Quando estava a prestar declarações aos jornalistas, que aguardaram pelo final da visita no exterior do edifício, uma mulher a alguns metros de distância criticou aquela concentração de pessoas, apesar de ser ao ar livre: "Não há covid? Podem estar em cima todos uns dos outros?".
Interrogado se fazer campanha na rua em período de confinamento geral não pode passar uma mensagem errada aos portugueses, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu: "Eu tenho tentado reduzir ao mínimo as intervenções, e confesso que numa primeira fase estava quase tentado a reduzir a praticamente nada".
"Mas depois, como via que era interpretado como sinal de arrogância e de sobranceria, de distanciamento, de autoconvencimento, e era difícil explicar que era uma questão de precaução e de contenção sanitária, passei a ter uma ação praticamente todos os dias", justificou.
Marcelo Rebelo de Sousa referiu que há quem passe por ações como esta e diga que "devia estar confinado no Palácio de Belém", mas se fosse esse o caso diriam "lá está ele, convencido, acha que já ganhou, devia mas é vir para a rua".
"Podia ser considerada uma atitude intolerante, distante, incompreensível o não aparecer na rua pelo menos uma meia dúzia de vezes", reforçou, defendendo ser importante frisar "que não há uma ausência de campanha democrática em véspera de eleições".
As eleições presidenciais, que se realizam em plena epidemia de covid-19 em Portugal, estão marcadas para 24 de janeiro e esta é a 10.ª vez que os portugueses são chamados a escolher o Presidente da República em democracia, desde 1976.
A campanha eleitoral termina em 22 de janeiro. Concorrem às eleições sete candidatos, Marisa Matias (apoiada pelo Bloco de Esquerda), Marcelo Rebelo de Sousa (PSD e CDS/PP) Tiago Mayan Gonçalves (Iniciativa Liberal), André Ventura (Chega), Vitorino Silva, mais conhecido por Tino de Rans, João Ferreira (PCP e PEV) e a militante do PS Ana Gomes (PAN e Livre).