Ana Gomes diz que objetivo "patriótico" foi atingido e deixa recado ao PS

Ana Gomes, candidata presidencial que alcançou a segunda posição nas eleições Presidenciais, afirmou que se não tivesse entrado nesta disputa, "estaríamos hoje a lamentar ainda mais a progressão da extrema-direita". No discurso na noite eleitoral, a militante socialista deixou ainda recados à direção do seu partido.

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Melissa Lopes
24/01/2021 23:15 ‧ 24/01/2021 por Melissa Lopes

Política

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A candidata Ana Gomes felicitou este domingo Marcelo Rebelo de Sousa "pela sua reeleição como nosso Presidente da República", garantindo "empenho para tudo fazer para que o seu segundo mandato sirva para ajudar a reforçar a democracia e a não dar mais argumentos aos que a querem destruir e que conseguiram tantos votos tirar ao PSD e ao CDS". 

Ana Gomes agradeceu depois a todos os portugueses que integraram as mesas de voto e permitam a realização das eleições em condições tão difíceis. 

"Quero ainda prestar tributo e expressar a minha solidariedade para com as vítimas da Covid-19 e as famílias das vítimas, e aos doentes, desejando-lhes força e coragem para vencerem a doença e todos ultrapassarmos esta dramática situação em que vivemos". 

A candidata socialista agradeceu também ao mais de meio milhão de portugueses e portuguesas que lhe deram o voto. "Não consegui o objetivo de levar a uma segunda volta nestas eleições, e a responsabilidade por falhar esse objetivo é só minha, assumo-a".

Mas o objetivo central foi cumprido, um "objetivo patriótico", classificou. "O objetivo de representar o campo dos democratas, progressistas e europeístas e impedir que a ultra-direita ascendesse a uma posição de possível alternativa. Se eu não tivesse estado nesta disputa, estaríamos hoje a lamentar ainda mais a progressão da extrema-direita". 

"A minha candidatura visou afirmar os valores de Abril e dar expressão aos campos do socialismo democrático e da social-democracia europeísta e ecologista, celebrando a diversidade e o pluralismo, a inclusão das minorias, a importância do Estado social, da transparência, e da justiça que funciona, da regionalização por cumprir, e das transformações economicas e sociais para responder à crise climática e outros desafios globais", afirmou. 

Ana Gomes agradeceu também ao PAN e ao Livre que declararam apoiar a sua candidatura independente. 

Para a diplomata, "o elevado nível de abstenção nestas eleições não pode ser apenas atribuído às restrições impostas pela pandemia". Ana Gomes afirmou que houve quem quisesse desvalorizar estas eleições e não tivesse cuidado sequer de assegurar que eram facultados meios alternativos de votos a quem está em casa, obrigado a confinar, e à maioria de milhão e meio na diáspora que se viram indignamente impedidos de votar". 

"Apesar disso", continuou, "a afluência às urnas  mostrou que a abstenção terá diminuído em termos reais (...) Isso quer dizer que estas eleições demonstraram interessar à maior parte dos portugueses, não obstante haver um previsível vencedor à partida". "Tenho a certeza e muito orgulho que a minha candidatura contribuiu para mobilizar mais jovens". 

António Costa, "o principal responsável pela deserção" do PS

Ana Gomes disse lamentar profundamente "a não comparência a estas eleições" do seu partido - o PS - que assim contribuiu para dar a vitória ao candidato da direita democrática". "Foi uma deserção que critiquei e pela qual decidi apresentar esta candidatura", afirmou. 

Respondendo depois às perguntas, e questionada se responsabilizava o secretário-geral do PS por essa deserção, respondeu: "António Costa, obviamente, foi o principal responsável por essa deserção".

"Foi mais uma missão de serviço que cumpri, num momento de insuportável adversidade pessoal, nunca me resignei e nunca me resignarei, que a democracia degenere e fique à mercê de forças antidemocráticas que cavalgam o sentimento dos cidadãos", declarou, com voz emocionada. 

Quanto à direção do PS, espero que os militantes do PS a ajudem a refletir profundamente e a retirar consequências da sua atuação que fez eleger o candidato da Direita democrática". A ex-eurodeputada acusou o PS de ter "apostado na diluição das fronteiras políticas entre a esquerda e a direita democráticas". "Tal diluição não serve certamente a democracia", frisou. 

Ana Gomes disse ter o "sentimento do dever cumprido" e afirmou que mantém a condição de militante base do PS. "E não desistirei nunca de fazer o que for preciso para defender e reforçar a democracia, o que implica pô-la a dar respostas aos problemas dos cidadãos e a exigir isenção e transparência a quem governa e a exigir o regular e independente funcionamento das instituições democráticas". "Viva, Portugal", terminou. 

 

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