Luís Marques Mendes defendeu, este domingo, que o primeiro-ministro mudou de atitude face à pandemia.
"Acho que há uma mudança, acho que [António Costa] está mais exigente consigo próprio e com a situação do que anteriormente", considerou o antigo dirigente do PSD, no seu espaço de comentário na SIC, a propósito de um artigo do Expresso que refere que o primeiro-ministro estava mais pessimista que o Presidente da República.
Para Marques Mendes, esta é uma mudança fundamental para o país, considerando que "é melhor ter um primeiro-ministro exigente do que facilitista".
Mais, para o social-democrata esta transformação do chefe do Governo é clara, dando como exemplo o facto de António Costa ter passado a defender um confinamento pesado e longo até ao final de março, de já ter alertado que a Páscoa não irá ser um momento de alívio de restrições como ocorreu no Natal e considerando que ouviu os especialistas sobre a importância da testagem massiva no país.
Ainda assim, a prende-se a questão: Por que é que António Costa mudou de postura?
Segundo Marques Mendes, "António Costa está politicamente fragilizado" depois das consequências provocadas pelo alívio de medidas de combate à Covid-19 na quadra natalícia e pelo agravamento da pandemia que ocorreu em janeiro.
"Para além disso, do ponto de vista externo, o primeiro-ministro ficou condicionado: a imagem do país é má. E quer salvar a presidência portuguesa da União Europeia", nomeadamente, com a cimeira da União Europeia, marcada para dia 8 de maio, no Porto, que, "se não for presencial, é um flop".
E acrescentou: "António Costa quer recuperar".
"Estamos claramente na boa direção"
Sobre a evolução da pandemia no país, Marques Mendes afirmou que "estamos, claramente, na boa direção". E que, finalmente, o confinamento está a dar resultados visíveis.
Ainda assim, o comentador lembrou que nos hospitais o desagravamento da pandemia ocorre de forma "mais lenta" e que, por isso, é preciso "paciência" e prosseguir um confinamento rígido, ainda que já haja "alguma dose de esperança à vista".
"O número de internamentos tem vindo a reduzir, mas é uma redução modesta. Ainda há uma situação muitíssimo crítica dentro dos hospitais. (...) Quantos aos doentes internados nos cuidados intensivos, os números continuam muito altos, na casa dos 800, temos de baixar de uma forma muito significativa. É isto que dá grande pressão ao Serviço Nacional de Saúde", apontou.
Sobre um eventual desconfinamento, Marques Mendes disse acreditar que, tal como foi sugerido pelo primeiro-ministro e pelo Presidente da República, deverá ocorrer no final de março.
"Só podemos desconfinar quando o numero de infetados estiver abaixo dos 2 mil por dia, ao mesmo tempo que o numero de internados não ultrapasse 1.500 e os 200 internados em Unidades de Cuidados Intensivos", afirmou o ex-ministro, referindo que, apesar destes dados não serem oficiais, são "o grande indicador" dado por Manuel Carmo Gomes, na última reunião no Infarmed, e por Marcelo Rebelo de Sousa na sua última comunicação ao país, que corroborou as palavras de Carmo Gomes.
Adiamento das autárquicas? "É indiferente"
Depois de esta semana o PSD ter anunciado que vai apresentar um projeto de lei que prevê o adiamento das eleições autárquicas por dois meses, de forma a que possam realizar-se entre os dias 22 de novembro e 14 de dezembro, Marques Mendes referiu que, na sua opinião, o adiamento da data do próximo ato eleitoral "é uma questão indiferente" porque as possíveis vantagens e desvantagens desse adiamento, no que diz respeito à pandemia, "anulam-se uma às outras".
No entanto, o social-democrata apontou que há um "problema político" numa eventual alteração da data das eleições: o Orçamento do Estado. Caso o ato eleitoral seja adiado o debate e a votação do Orçamento do Estado serão realizados antes das autárquicas, levando a que ninguém cometa o erro político de inviabilizar o documento.
Para Marques Mendes, esta questão poderá prejudicar sobretudo o PCP. "Se a votação do Orçamento do Estado for antes das eleições, é um grande problema para o PCP. Por isso, acho que o Governo não vai mudar a data das eleições", conjeturou ainda.
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