Após uma audiência, por videoconferência, com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a líder bloquista, Catarina Martins, foi questionada pelos jornalistas sobre os atrasos na vacinação contra a covid-19.
"Nós achamos que Portugal tem obrigações particulares e não deve de alguma forma conformar-se com a escassez de vacinas que a indústria farmacêutica quer impor ao mundo como forma de alargar os seus lucros. Não tem nenhum sentido", apelou.
A obrigação de Portugal para com a população deve levar o país a, "se necessário, negociar com mais laboratórios farmacêuticos", defendeu.
Por outro lado, disse, "Portugal tem neste semestre a presidência da União Europeia e é inaceitável que a União Europeia não ponha em cima da mesa a necessidade de, nomeadamente, licenças compulsórias se for preciso para ultrapassar as patentes e aumentar a produção de vacinas".
Segundo a coordenadora do BE, o país tem uma "responsabilidade não só para com a população", mas tem "uma obrigação solidária, internacional em que a União Europeia tem de assumir essa responsabilidade de conseguir produção e universalização das vacinas".
Catarina Martins recorreu às palavras do secretário-geral da ONU, António Guterres, que tem "tido afirmações muito importantes" nesta matéria, desafiando o Governo português a ouvi-lo "nesta necessidade absoluta de perceber que a massificação da produção da vacina e a sua universalização é uma exigência e uma responsabilidade".
"Portugal, que tem neste momento a Presidência da União Europeia, não pode simplesmente conformar-se com esta escassez que é feita em nome dos lucros das farmacêuticas", reiterou.
O coordenador da 'task force' responsável pelo plano de vacinação contra a covid-19 manifestou hoje a sua abertura para a elaboração de um novo plano, fruto das alterações na disponibilidade de vacinas ao longo dos próximos meses.
Numa audição parlamentar, o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo defendeu ainda o adiamento da toma da segunda dose para permitir a vacinação de mais 200 mil pessoas até ao fim de março.
"Está a ser estudado, a meu pedido, pela Direção-Geral da Saúde e pelo Infarmed, se podemos alargar este período por duas semanas, de forma a conseguirmos antecipar a vacinação a cerca de 200 mil pessoas. É muito importante pelos 70% da proteção que pode dar. Reforçar a vacinação uma ou duas semanas mais tarde praticamente não vai fazer grande variação no processo de defesa da pessoa que já foi vacinada com a primeira dose", admitiu nessa mesma audição.
Em Portugal, morreram 16.136 pessoas dos 800.586 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
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