"Moedas menorizou-se enquanto candidato e com isso menorizou Lisboa"

Um artigo de opinião de Pedro Vaz, dirigente do PS, intitulado 'Lisboa não é sacrifício, é amor'.

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Notícias ao Minuto
18/03/2021 18:26 ‧ 18/03/2021 por Notícias ao Minuto

Política

Pedro Vaz

"Recentemente o PSD anunciou a candidatura de Carlos Moedas à presidência da Câmara de Lisboa existindo, quase de imediato, um qualquer clímax de um número significativo de comentadores da nossa praça e dentro das hostes primárias anti PS.

Esta espécie de euforia, foi no entanto sol de pouca dura, um pouco como o sol de dezembro que aparenta ser bom, mas não aquece e nem sequer dá tempo de se aproveitar. Senão, vejamos.

Moedas, o filho pródigo, seria aquele que, regressado, iria liderar a “grande coligação” da direita na capital do país contra a política destruidora dos socialistas que liderariam uma espécie de “geringonça” autárquica (nada mais errado) em Lisboa. Nem uma semana durou a grande coligação, ruindo como um castelo de cartas de tão sólida que estaria. A nova coqueluche da direita dita cosmopolita – a Iniciativa Liberal – que todos julgam valer eleitoralmente em Lisboa o mesmo que obteve o candidato por si apoiado nas Presidenciais, anunciou de imediato que iria candidatar-se com candidato próprio. Restando, assim, ao candidato Moedas o usual acordo PSD/CDS a quem se lhe somam alguns partidos políticos totalmente desconhecidos da grande maioria dos eleitores.

No entanto, aquilo que verdadeiramente releva neste assunto e não se querendo desvalorizar, obviamente, o combate democrático, são os sinais que têm surgido desde que é conhecido o candidato da coligação da direita em Lisboa.

Desde o dia da alegada fuga de informação sobre a sua candidatura, poderemos já fazer uma breve avaliação da mesma a partir dos três momentos públicos relacionados com a mesma. A saber: (i) conferência de imprensa de Rui Rio anunciando a candidatura de Moedas; (ii) conferência de imprensa de Carlos Moedas anunciando novamente a sua candidatura e (iii) entrevista dada à RTP3 onde, e de acordo com as suas (de Moedas) palavras numa rede social, “apresentou a sua visão para a cidade”.

Ora, descontando o fanatismo “groupie” dos do costume, todos estes momentos se revelaram bastante pobres e deprimentes. Em primeiro, porque claramente a sua candidatura nada tem a ver com Lisboa e os Lisboetas, nada sabe sobre Lisboa e nada quer saber de Lisboa, pois só isso justifica que o primeiro ato simbólico da sua apresentação tenha sido feito por Rui Rio, com Moedas a servir de “bibelot” atrás de um dirigente partidário. Um candidato a Lisboa afirma a sua vontade, o seu desejo a sua ambição em servir os Lisboetas, com orgulho e sem precisar de ser previamente anunciado pelo “tutor”. Moedas menorizou-se enquanto candidato e com isso menorizou Lisboa e os Lisboetas assumindo-se como figura tutelada por um qualquer dirigente partidário.

Depois, aquilo que é verdadeiramente triste é que a ambição que afirma ter e as juras de amor que faz a Lisboa são na verdade vazias de conteúdo e isso viu-se nas declarações que já fez, onde, além de repetir ad nauseam a palavra pessoas, talvez sopradas por um qualquer estratego comunicacional, demonstrou que a ideia que tem de Lisboa é simplesmente afirmar que quer fazer tudo e o seu contrário. Do que já disse e publicou nos seus vídeos de campanha, Moedas é contra e a favor do turismo, é contra e favor das ciclovias, é contra e a favor de mais estacionamento no centro da cidade, é contra e a favor dos apoios públicos ao tecido social e económico da cidade, é contra e favor de mais espaço público, é contra e a favor de mais espaço verde, é contra e a favor da reabilitação urbana, é contra e a favor dos programas existente de renda acessível, é contra e a favor do transporte público acessível a todos, é contra e a favor da estratégia de desenvolvimento. Na realidade, Moedas é contra e a favor do que for preciso em função do que o eleitor que tem à frente quer ouvir. Moedas, que assume com “humildade”, como Cavaco, não vir da política, tentando que se esqueça que está há mais de uma década em altos cargos políticos, ainda não percebeu que esta estratégia resulta pouco, perante o exigente eleitorado lisboeta.

Moedas afirma-se indignado com a publicação de um vídeo nas redes sociais sobre o seu papel e influência na governação de Passos Coelho, de muita má memória para os lisboetas da classe média, achando que poderia candidatar-se à capital do país e não ser confrontado com as suas opções políticas passadas e com as decisões que tomou sobre a vida das pessoas, quando teve a missão de o fazer. Caro Carlos Moedas, isto, numa expressão tão querida, pós-moderna e que o mundo “fintech” e dos grandes bancos mundiais de investimento como, por exemplo, o Goldman Sachs gostam de usar, chama-se “accountability”.  E sim, o escrutínio político é importante e necessário.

Termino com um último conselho. Anunciar aos sete ventos que Carlos Moedas terá abdicado, conforme dizem os seus apoiantes, de uma vida de privilégio e mordomias dos tempos modernos na Fundação Gulbenkian, depois de ter sido Comissário Europeu (recorde-se que os Comissário Europeus são indicados por Governo amigo e não eleitos por nenhum cidadão) para vir fazer o sacrifício de governar Lisboa é estratégia errada. Querer dirigir os destinos da autarquia de Lisboa não é sacrifício, é amor. Não é frete, é missão. Não é serviço partidário, é serviço público aos Lisboetas".

Pedro Vaz, dirigente do PS

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