Odemira transformou-se no epicentro da pandemia, em Portugal, mas também no centro da polémica desde que, na passada sexta-feira, os habitantes de duas freguesias do concelho alentejano viram ser-lhes imposto uma cerca sanitária, devido à elevada incidência de casos de Covid-19, principalmente, entre migrantes.
O grande fluxo migratório e a falta de condições em que vivem muitos dos imigrantes têm dado que falar e levantado muitas cortinas, entre as quais acusações de escravidão e tráfico humano.
Na noite deste domingo, Ana Gomes no seu espaço de comentário semanal na SIC Notícias, disse que era impossível que as autoridades e o Governo desconhecessem o problema que se arrasta há décadas e exigiu "medidas exemplares" para que a situação não continue a acontecer.
"Não é novo, havia 'n' avisos, eu própria falei do assunto. Até o próprio presidente de Odemira tinha chamado a atenção do Governo. Não podiam desconhecer", começou por salientar, acrescentando que o que acontece neste concelho alentejano não pode continuar a acontecer.
"É absolutamente intolerável. Espero que seja tomadas medidas exemplares e que isto não se continue a verificar. Para isso é fundamental punir quem tem de ser punido e os beneficiários e as empresas não podem mais beneficiar da complacência das autoridades, desde o ministério da Agricultura, do Trabalho, da própria Saúde, etc [...]. A Autoridade das Condições de Trabalho tem de fazer o seu trabalho e tem de ter meios para fazer o seu trabalho", atirou a socialista.
Ana Gomes recordou ainda que há suspeitas de trabalho escravo em Odemira e que situações como estas não são toleráveis "no país que vai para a semana ser o anfitrião da cimeira social da União Europeia".
"Felizmente acordou-se para a gravidade da situação do ponto de vista das condições sanitárias e dos direitos humanas. Foi o primeiro-ministro que chamou a atenção para isso e é exatamente por isso que digo que não basta tomar medidas como a cerca sanitária. É preciso ação exemplar dos intermediários e dos empresários que utilizam mão de obra em condições quase escravizada, que é o que acontece ali na zona. Não podemos continuar a tolerar isso no país que vai para a semana ser o anfitrião da cimeira social da União Europeia", atirou.
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