Ainda antes de se debruçar sobre o assunto que reuniu a atenção mediática esta semana, Luís Marques Mendes fez uma ressalva em relação ao seu protagonista: "Fernando Medina pode ter responsabilidades nisto, mas Fernando Medina não é nenhum agente de Moscovo. Nada aconteceu de forma deliberada, não sejamos exagerados".
O comentador político fazia referência às críticas de que tem sido alvo o presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML) depois de terem sido enviados às autoridades russas os nomes, moradas e contactos de três ativistas russos que organizaram em janeiro um protesto, em frente à embaixada russa em Lisboa, pela libertação de Alexey Navalny, opositor do governo russo.
No seu espaço de opinião semanal da SIC Notícias, Marques Mendes sublinha que o incidente é "inacreditável" e "grave". "Fernando Medina não tem razão quando diz que isto é um erro burocrático, não é. Isto é uma grave violação da lei", continua, lembrando o Regulamento Europeu de Proteção de Dados, em vigor desde 2018.
O social-democrata criticou, ainda, a comunicação feita pelo secretário-geral adjunto, José Luís Carneiro, quando atribui o incidente à lei de 1974, que regulamenta o direto à manifestação. "É uma mentira pegada", disse. "Transferir dados para terceiros, designadamente, para uma embaixada, como a embaixada de Moscovo, não é uma exigência da lei de 1974. A lei pode ser antiga, está desatualizada, podem querer mudá-la. Mas não venham cá dizer que foi a lei de 1974, que não é verdade".
"Mais grave é no plano dos princípios, que tem a ver com a liberdade e com a segurança", indicou o conselheiro de Estado, reforçando que o está em causa são os "direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos". "Evidentemente que o caso é gravíssimo e espera-se que haja responsabilidades. Vamos aguardar o resultado do inquérito", disse.
Marques Mendes asseverou, porém, que "a culpa não pode morrer solteira" porque "é desta maneira que depois crescem os populismos e crescem os radicalismos".
Numa nota final, o comentador sublinhou que "o primeiro-ministro é a única pessoa que não se pronunciou sobre esta matéria". Marques Mendes diz não acreditar que o silêncio se deve ao facto de António Costa ter sido presidente da Câmara em questão, mas reforça: "Que o silêncio não ajuda, lá isso é verdade".
Fernando Medina disse este domingo aos jornalistas que os "ataques" de que tem sido alvo, a nível pessoal e na figura de presidente da CML, não ficarão sem resposta. "Nessa altura [revelação da auditoria] direi, também, aquilo que tenho a dizer sobre esta campanha de ataques, de insultos, de ignomínias que tem sido feita à CML ao presidente da CML, que também não ficarão sem resposta", afirmou.
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