Rui Rio, que tinha sugerido o dia 16 de janeiro como data para as eleições antecipadas, reagiu esta quinta-feira, em entrevista à TVI, à decisão do Presidente da República de convocar as legislativas para 30 de janeiro de 2022.
"O Presidente da República decidiu o 30 de janeiro, está decidido, há que seguir em frente. Ponto final, parágrafo. Não tenho mais nada a dizer", disse, recusando fazer qualquer comentário sobre se a data escolhida por Marcelo poderá beneficiar o candidato à liderança do partido Paulo Rangel.
Perante a insistência dos jornalistas, Rio atirou: "O que tinha a dizer sobre isso, disse lá atrás. Ponto final, parágrafo". "Até mudei de capítulo", acrescentou.
Questionado sobre qual a razão para preferir eleições mais cedo, o social-democrata voltou a argumentar com o calendário da próxima proposta de Orçamento do Estado. "O Governo que vier a tomar posse tem três meses para apresentar o OE, que depois anda cerca de dois meses na Assembleia da República. O que quer dizer que totaliza cinco meses".
Feitas as contas, com eleições a 30 de janeiro, o Governo tomará posse a meados de fevereiro. "Não teremos Orçamento em vigor antes de junho, de certeza, para não dizer julho", prevê Rio.
O posicionamento do presidente do PSD em relação à data das eleições relaciona-se também com "um princípio", sobre o qual o líder social-democrata entende que "as decisões deste género não devem atender às questões dos partidos", que "têm de resolver internamente as suas questões". "O povo português, que não é do PS, PSD ou CDS, não tem que estar aqui a ser condicionado pela vida interna dos partidos", argumentou. Os partidos é que "têm de se adaptar", acrescentou.
Rui Rio disse não se recordar de nenhuma situação em que, dissolvido o Parlamento, os Presidentes tenham dado tempo para que os partidos se reorganizassem.
Instado a comentar as declarações de Paulo Rangel, que ontem o acusou de fazer um ataque pessoal inédito ao Presidente da República (depois do Chefe de Estado ter recebido o candidato a líder do PSD em audiência), o atual presidente e recandidato insistiu que pôs um "ponto final" nesse assunto. E justificou a decisão de não entrar em troca de acusações com Paulo Rangel nesta altura. Isso seria entrar num "pingue pongue" do qual só o PS obteria ganhos.
Questionado sobre se o Presidente está a querer condicionar a vida interna do PSD, Rui Rio não alterou uma vírgula. Aliás, disse: "Isso foi no capítulo anterior".
"Eu quero, desde o primeiro dia em que sou presidente do partido, ganhar as eleições ao PS"
No capítulo das diretas do PSD, Rui Rio esclareceu que não pretende adiar a data do congresso e que, aliás, a data normal é a de fevereiro, lembrando que o seu mandato vai até a essa altura.
"Eu queria, eu quero, desde o primeiro dia em que sou presidente do partido, ganhar as eleições ao PS. Por um lado, quero, por outro, é minha obrigação", asseverou. E para ganhar as eleições ao PS, frisou, "temos de estar focados nas eleições legislativas" que, de repente, "são agora" a 30 de janeiro de 2022 e não em 2023. "Para o partido estar focado para combater o PS, para substituir o Governo do PS - é esse o nosso principal objetivo -, o partido deve estar unido", disse. "E acima de tudo, focado nisso", acrescentou.
O presidente do PSD apelou a que se retire "a carga emocional" e se passe à "parte racional" da questão. No entender de Rio, "o PSD, já perdeu em outubro com estas guerras", considerando que o partido saiu das autárquicas com um "elã fantástico". "Tudo isso, internamente já está destruído".
Neste sentido, Rio entende que o PSD "vai perder o mês de novembro todo" se for a eleições internas a 4 de dezembro. Porque o "PS e os outros partidos vão andar a fazer campanha". A seguir, "vai perder o tempo todo de dezembro até ao Natal. Com congressos, com listas. A semana no Natal não conta. Isto significa que o PSD está pronto a ir a eleições legislativas no dia 2".
Rui Rio acentuou mesmo que está "numa missão". "Estou, conscientemente, a chamar a atenção para a balbúrdia que vai ser o PS, livremente a preparar-se em novembro, dezembro e janeiro e nós entrarmos a meio". "Estou a pedir para ponderarem, numa coisa em que o prejudicado não serei eu, será o partido todo, e se entendermos que temos maior capacidade que o PS para governar, será o país todo", alertou.
Rio vai tentar comprimir prazos de diretas e congresso
Neste contexto, Rio anunciou que vai "tentar comprimir" os prazos das eleições diretas e do Congresso do partido para diminuir o tempo que o PS tem "a seu favor" para as legislativas de 30 de janeiro.
Rio insistiu que para ser "como devia ser", o PSD devia estar "sem tumultos internos, todos unidos, todos focados para derrotar o PS em janeiro", e aproveitar os meses de novembro, dezembro e janeiro para essa tarefa.
"Estão a dizer que, se fizer isso, se suspende a democracia e que tenho medo de eleições. Então, vou fazer um exercício - não sei se consigo, vamos ver se consigo - de comprimir isto tudo, diretas e congresso. Se se ganhar uma ou duas semanas é tempo que tiramos ao PS a nosso favor", defendeu.
As eleições diretas para presidente da Comissão Política Nacional do PSD estão marcadas para 4 de dezembro (com uma eventual segunda volta no dia 11, caso nenhum dos candidatos obtenha mais de 50% dos votos, o que só poderá acontecer se existirem pelo menos três) e o 39.º Congresso agendado para entre 14 e 16 de janeiro no Centro de Congressos de Lisboa.
No próximo sábado, o Conselho Nacional do PSD reúne-se e tem na ordem de trabalhos uma proposta de conselheiros e dirigentes distritais que pretende antecipar a reunião magna para entre 17 e 19 de dezembro. O prazo de pagamento de quotas termina em 17 de novembro e para apresentação de candidaturas em 22 do mesmo mês.
"Ou sou primeiro-ministro ou é a última eleição da minha vida"
Questionado sobre se se demite se perder as eleições, em caso de ser o candidato do PSD, Rui Rio disse não ser de "teatros", mas assumiu que "é evidente que, se for às eleições, e não ganhar, o partido pode ficar um mês ou dois a ajustar-se à circunstância" e argumentou com a idade: Depois fico mais quatro anos à espera de novas eleições? Isso não existe", acabando por afirmar: "É evidente que, ou eu sou depois primeiro-ministro ou é a última eleição da minha vida".
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