Fora de questão UE deixar segurança no Sahel nas mãos de mercenários
O ministro da Defesa assumiu hoje a necessidade de a UE "calibrar" a sua abordagem no Sahel, mas garantiu estar fora de questão "um abandono" da região e a entrega da segurança em países como o Mali a mercenários russos.
© Lusa
Política João Gomes Cravinho
"Nós temos de calibrar a nossa abordagem no Sahel. Isto é, está fora de questão abandonar-se o Sahel. Um abandono do Sahel seria o abandono de uma região de interesse estratégico primordial para a UE. A questão, portanto, não é abandonar o Sahel, a questão é como apoiar, como consolidar os Estados do Sahel", disse João Gomes Cravinho, em declarações à Lusa e RTP em Brest, França, à margem de uma reunião informal de ministros da Defesa dos 27.
Apontando que "a Rússia está evidentemente a procurar fazer o contrário: minar a presença da União Europeia no Sahel", o ministro vincou que jamais a Europa pode permitir que sejam grupos de mercenários a gerir a segurança na região.
"Nós não podemos aceitar uma situação em que a segurança desses países está entregue a grupos mercenários que têm um grau de controlo por parte de Moscovo. Isso é absolutamente inaceitável e essa mensagem está a ser muito claramente transmitida", disse.
O ministro salientou que a UE está em "em estreita cooperação com os países da região, nomeadamente com a CEDEAO, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, para coordenar as sanções e coordenar também a abordagem em termos de formação militar no Mali".
"Mas não vamos abandonar o Mali e o Sahel. Vamos, no entanto, calibrar a nossa abordagem para ser consentânea com a realidade, e para que não fiquem dúvidas nenhumas sobre a inaceitabilidade da entrega da segurança do país a mercenários que, aliás, têm todo um histórico de abusos de direitos humanos e de exploração, para efeitos de lucros fáceis e privados, daquilo que são os recursos naturais de países como o Mali e República Centro-Africana também", concluiu.
Numerosos instrutores militares russos foram colocados no Mali nas últimas semanas, nomeadamente na base de Tombuctu, de onde as forças francesas se retiraram recentemente, admitiram responsáveis militares malianos na semana passada à agência France-Presse.
Uma das fontes admitiu a possibilidade de serem já cerca de 400 os instrutores russos colocados em todo o país.
O Mali já tinha no terreno militares russos, nomeadamente para assegurar a manutenção de equipamentos, mas eram muito pouco visíveis, escreve a agência francesa.
A recente chegada de numerosos instrutores russos alimenta a suspeita, amplamente partilhada no Ocidente, mas negada pelas autoridades malianas, da entrada em cena no país de mercenários do grupo russo Wagner.
Um responsável ocidental de segurança, um diplomata africano em Bamaco e um eleito local, sob anonimato devido à sensibilidade do assunto, confirmaram à AFP a presença de mercenários russos no Mali.
Quinze países envolvidos na luta contra os 'jihadistas no Mali', incluindo Portugal, denunciaram em 23 de dezembro o destacamento de mercenários da empresa privada russa Wagner naquele país e o envolvimento do Governo da Rússia no apoio logístico.
O Governo do Mali, saído de dois golpes de Estado, em agosto de 2020 e maio de 2021, tem até agora negado qualquer destacamento de mercenários russos no país, admitindo, no entanto, a presença de formadores russos, a par de formadores europeus.
A força anti-'jihadista' francesa no Sahel, Barkhane, entregou a base de Tombuctu ao exército do Mali em meados de dezembro, após quase nove anos de presença ininterrupta, no quadro de uma reconfiguração do dispositivo francês.
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