A dirigente do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, acusou esta quarta-feira o primeiro-ministro, António Costa, de “acantonar” os partidos à esquerda - o BE e o PCP - e de os colocar numa situação “inviável”.
“Ao rejeitar o acordo em 2019, António Costa diz que quer negociar Orçamento a Orçamento, mas chegando aos Orçamentos o que fez foi não negociar e impor um Orçamento com uma ou outra coisa de pormenor. Orçamentos que eram insuficientes e que não davam passos de acordo com os programas, mandatos e representações dos partidos à sua esquerda”, afirmou em entrevista à CNN Portugal. Na sua ótica, “o Orçamento mais à esquerda de sempre” era “uma frase de propaganda”.
A deputada eleita por Lisboa considera que o Orçamento do Estado para 2022, cujo chumbo levou à antecipação das eleições legislativas, era um “Orçamento com muitos poucos apoios sociais” e que não respondia “aos problemas do Serviço Nacional de Saúde”.
“O Partido Socialista sabia que estas eram as prioridades desde o início de 2019 quando propusemos [o BE] um acordo”, afirmou.
O PS terá tido “uma estratégia semelhante” com o BE e o PCP, que passava por “obrigar estes partidos a aprovar Orçamentos sem ganhos negociais e sem respostas para o país”, tornando-os “satélites do Partido Socialista” ou então os partidos poderiam “votar contra o Orçamento”, que consideravam “insuficiente e sem respostas estruturais”, e “disputar a opinião pública relativamente a esse chumbo”.
Apesar do “contexto difícil” para disputar a opinião pública, devido a vários fatores entre os quais a pandemia, a direção do Bloco de Esquerda “decidiu por unanimidade que tinha um mandato a cumprir e uma convicção para respeitar”.
“Penso que uma parte do eleitorado compreendeu perfeitamente porque é que o Bloco não podia acompanhar aqueles Orçamentos porque seria simplesmente assinar de cruz um Orçamento que não tinha respostas e que não tinha incluído questões essenciais”, frisou.
A "estratégia de maioria absoluta de António Costa - que resultou - passou por desacreditar a hipótese de entendimentos à esquerda" mesmo com a "disponibilidade dos partidos". Sobre os próximos quatro anos, com um Governo maioritário, Mariana Mortágua sublinha que "um partido com poder absoluto só faz o que quer" e não acredita que António Costa esteja disponível para negociar.
O BE foi um dos grandes derrotados da noite eleitoral de domingo. Ficou em quinto lugar, com 4,5% dos votos, e perdeu 14 deputados, ficando agora com apenas cinco.
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