Depois de vários dias de debate sobre a posição do Partido Comunista Português (PCP) quanto ao conflito na Ucrânia, o ainda deputado do partido António Filipe afirmou hoje que "não é sério insinuar que o PCP tem simpatia com Putin".
"Não é sério insinuar que o PCP tem qualquer simpatia com o senhor Putin. Evidente que não", afirmou, em declarações à CNN Portugal. "O PCP nunca se enganou em relação ao sr. Putin."
Depois de o partido ter sido criticado, esta semana, por ser o único que não condenou a invasão russa decidida por Putin, António Filipe defendeu que "uma coisa é a posição oficial e outra coisa é o que se diz sobre ela" e considerou que "se disse muita coisa que não tem a ver com a posição que o PCP manifestou".
A discussão subiu mesmo de tom quando o deputado socialista Sérgio Sousa Pinto acusou os comunistas de serem "vassalos" do Presidente da Rússia.
"Nas fantasias do PCP, isto tudo obedece a uma retorcida intromissão do Ocidente", começou por referir. "O PCP, até ao início das hostilidades, era marcadamente pró-Putin, dizia que este episódio era o resultado do maquiavelismo americano."
"O Partido Comunista Português, durante a Guerra Fria, era vassalo da União Soviética e hoje é um vassalo do sr. Putin", atirou.
António Filipe ameaçou abandonar o estúdio e defendeu ser "mentira" que o partido preste vassalagem ao presidente russo.
"Isso é um insulto. Sabe que o PCP foi um partido que resistiu ao fascismo em Portugal numa situação até de total isolamento durante muitos anos. Dizer que o PCP é vassalo da União Soviética é um insulto, assim como é faltar à verdade dizer que o PCP alguma vez prestou algum tipo de vassalagem ao sr. Putin", defendeu o comunista.
Atirando algumas críticas às sanções até agora aplicadas à Rússia e à decisão de alguns países em enviar armamento à Ucrânia, o ainda deputado sublinhou que essas medidas "não são o mais relevante", já que a Rússia está "há muito" sob sanções da União Europeia.
"É preciso ter noção do seguinte: quando se sanciona um país com a dimensão da Rússia, aplica-se aqui aquela regra de "que quem vai à guerra dá e leva", ou seja estas medidas não deixam de ter um efeito boomerang sobre a própria União Europeia", sublinhou.
Na visão do comunista, a "grande prioridade é haver um cessar-fogo e arranjar forma de chegar a um entendimento", recusando que a "forma de resolver o problema" seja armar a Ucrânia.
Para António Filipe, "o caminho" também não é o das sanções, mas sim "ver o que se pode fazer para que haja um caminho que ponha termo o quanto antes a esta guerra".
"Esta guerra começou já há muito tempo, é uma situação de tensão que se tem vindo a agudizar, havia sinais muito claros e o que deveria ter havido era condições, não para que a guerra acontecesse e para que a Rússia tomasse esta atitude - que é lamentavel -, mas que foi altamente provocada", considerou.
Leia Também: Ana Gomes. PCP devia pedir desculpa a "portugueses, ucranianos e russos"