"Hoje, dia 25 de Abril, celebramos os 51 anos da Revolução, porque a democracia tem de saber a data em que nasceu. Que o Governo de Portugal esteja disposto a adiar as comemorações do 25, é só a triste confirmação que nem o dia mais feliz consegue iluminar todo o futuro de um povo", criticou Mariana Mortágua.
A bloquista falava na sessão solene comemorativa do 51.º aniversário da Revolução dos Cravos e do cinquentenário das primeiras eleições livres, para a Assembleia Constituinte, numa intervenção na qual lembrou o seu pai, o antifascista Camilo Mortágua, que morreu no final do ano passado.
Mariana Mortágua começou por agradecer aos capitães de Abril, alguns sentados na tribuna: "Cumpriram a vossa missão, agora é a nossa vez. Este é o tempo que nos calhou viver".
Na opinião da bloquista, "depois de quebrar promessas e devastar o legado de gerações, o capitalismo saiu da sua crise mostrando o que vale, rindo-se da desigualdade e dividindo povos", gerando políticos como Donald Trump, Javier Milei, Georgia Meloni, Viktor Órban.
"Eles levantam a motosserra para dizer quem está primeiro e quem fica para trás, decidem as palavras que se gritam e as que são para apagar e escolhem que mortes são legítimas", criticou.
Mortágua não esqueceu o conflito na Faixa de Gaza, afirmando que "o genocídio iniciado por Israel na Palestina" já matou mais 17 mil pessoas, e a "indiferença da Europa perante o crime a que assiste em direto prova que a política dos novos fascismos faz caminho".
"Quando olhamos para gente como nós e não nos reconhecemos, não foram eles que perderam a humanidade, fomos nós. E é por isso que Gaza é a fronteira da humanidade", sublinhou.
Mortágua deixou ainda uma questão: "De que serve adiar as comemorações do 25 de Abril se as palavras de Francisco são tão cinicamente ignoradas? As últimas que disse, denunciando o delírio da guerra, e especialmente as pronunciadas em Lisboa - «todos, todos, todos». Incluindo os sobreviventes da Palestina, as pessoas ciganas, as mulheres, os migrantes".
Numa intervenção na qual por vezes parou, por ouvir apartes de deputados da bancada do Chega, Mariana Mortágua lembrou as primeiras eleições livres, a Constituição, e dirigiu-se sobretudo aos mais jovens, aqueles que já nasceram em liberdade.
"Admiro os jovens que hoje olham apreensivamente as ameaças do novo fascismo. Ao contrário de mim quando tinha a tua idade e aprendi a ser gente no Largo do General Humberto Delgado, tu hoje sabes perfeitamente que a democracia não está vacinada contra o mal do nosso tempo. Vês o discurso de ódio a entrar pelos pátios da escola, pela rua, pelo telemóvel. E apesar dessa ameaça e dessa apreensão, trazes a liberdade na mão. Este é o tempo que nos calhou viver, e para o enfrentar temos connosco o segredo que Celeste Caeiro um dia contou a Portugal: num cravo cabe outro mundo", rematou.
O Governo adiou a sua "agenda festiva" de celebração do 25 de Abril de 1974 para o dia 1 de maio devido ao luto nacional pela morte do Papa Francisco, decisão que mereceu críticas à esquerda.
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