Manuela Ferreira Leite considerou, esta quinta-feira, que é “urgente” a criação de um “projeto” por parte do Governo para fazer face às consequências da invasão russa à Ucrânia em Portugal.
Durante o seu comentário habitual na CNN Portugal, a antiga dirigente do Partido Social Democrata (PSD) começou por referir que o facto de já se estar a fazer uma análise das consequências das medidas de retaliação tomadas contra a Rússia vem provar que se podem “causar grandes danos” sem pegar em armas.
“Os danos que serão provocados na Rússia, como àqueles lhes aplicam as sanções, vão ser muito pesados”, indicou, pegando depois no exemplo da pandemia de Covid-19 para defender a urgência de tomar medidas.
“É uma guerra que tivemos de travar”, recordou, frisando que foram tomadas “medidas penosas” mas “necessárias”, tal como deve acontecer agora. “Neste momento não há uma palavra sobre isto. Não há uma palavra por parte do Governo”, criticou.
“Acho que devia haver um projeto para fazer face a estas inevitáveis consequências, que algumas só se preveem e outras já estão no terreno. Onde está esse projeto?”, questionou, salientando que se não for feito nada muitas empresas podem fechar, nomeadamente empresas exportadoras.
Fernando Medina, que também estava presente, mostrou-se de acordo com Ferreira Leite, mas considerou que este é um momento de “particular incerteza”, com 15 dias de conflito.
“Estamos muito no inicio, é normal que haja muita incerteza”, mas “começa a ser evidente”, que é preciso “agir”, disse.
O antigo presidente da Câmara de Lisboa referiu que a guerra já está a ter um grande impacto nos preços, sobretudo em duas áreas: combustíveis e produtos alimentares. Medina deu como exemplo a indústria da cerâmica, muito dependente do gás na sua produção. Desta forma, defendeu que é preciso haver um auxílio do Estado às empresas e concordou que “mais tarde ou mais cedo” será necessário um plano organizado “em várias frentes” para dar resposta a estas consequências.
“Quanto mais tarde, pior a nossa atuação. Não podemos estar à espera de saber quanto tempo isto pode durar”, reforçou Ferreira Leite. “É urgente que haja um projeto, um plano”, reiterou, sublinhando que “há consequências que podemos não ver a dimensão, mas vemos seguramente que elas vão existir”.
Recorde-se que os chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE) iniciaram esta quinta-feira, em Versalhes, França, uma cimeira de dois dias originalmente consagrada à economia, mas que se irá focar na defesa e energia, por força da ofensiva russa na Ucrânia.
Nesta cimeira informal, deverá ser adotada a chamada ‘Declaração de Versalhes’, que, entre outros aspetos, salientará a necessidade de a UE se libertar da dependência energética, designadamente das importações de petróleo, gás e carvão da Rússia.
De acordo com o 'esboço' da declaração, ao qual a Lusa teve acesso, no capítulo dedicado à autonomia energética, o Conselho Europeu deverá "concordar em eliminar gradualmente a dependência das importações de gás, petróleo e carvão da Rússia", através de uma série de ações, entre as quais "completar e melhorar a interconexão das redes europeias de gás e eletricidade e sincronizar totalmente as redes de energia".
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