O antigo ministro da Defesa, Azeredo Lopes, afastou alarmismos quanto às declarações do Kremlin, que admitiu a utilização de armas nucleares. O ex-governante entende que esta utilização é justificada por Moscovo com uma circunstância que “ponha em causa a sua própria existência” – um argumento também usado pela NATO.
“A invocação sobre a utilização de arma nucleares tem sempre um peso diferente quando se trata da Federação Russa e quando se trata, evidentemente, de um contexto de conflito como aquele que atravessamos”, ressalvou Azeredo Lopes, num comentário na CNN Portugal, esta terça-feira.
“Parece, no entanto, que o porta-voz do Kremlin terá tido o bom senso de dizer aquilo que não é uma especial novidade, que a Rússia admite usar armas nucleares numa circunstância que ponha em causa a sua própria existência. Aquilo que corresponde, de alguma maneira, àquela é a tradição das potencias nucleares, dizerem sempre que, em principio, só usarão armas nucleares em circunstancias extremas”, acrescentou.
O antigo ministro da Defesa recordou depois que também a NATO tem “uma política de dissuasão nuclear” que costuma exprimir no “fim de cada reunião importante” e em que se “autocaracteriza como Aliança que também é nuclear” e como “Aliança que também pode usar, em determinadas circunstâncias, para garantir a defesa dos seus membros” o recurso a armas nucleares.
Azeredo Lopes entende que foi mais “preocupante” o momento em que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, mandou colocar em alerta máximo as forças de dissuasão nucleares russas numa resposta à NATO.
“Parece-me aqui que as declarações do porta-voz foram relativamente banais, caracterizam a utilização de armas nucleares numa circunstância que, no fundo, é também partilhada do lado de cá”, disse, referindo que a NATO também se refere à utilização desse “tipo de armamento exclusivamente para ações defensivas” e também o invoca “como forma de dissuasão” para aqueles que tenham “a tentação” de atacar os seus membros.
Recorde-se que, em entrevista à CNN, o porta-voz do Kremlin disse que existe apenas um cenário em que se coloca a hipótese de usar armas nucleares.
“Temos um conceito de segurança doméstica, é público. Se existir uma ameaça à existência do nosso país, podem ser utilizadas armas nucleares, de acordo com o nosso conceito. Não existem outras dimensões para a utilização das armas nucleares”, afirmou Dmitry Peskov.
No seu comentário, o ex-ministro da Defesa acabou também por falar do presidente ucraniano, que vai participar, através de videoconferência, na cimeira da NATO, na quinta-feira, depois de já ter afastado a adesão à Aliança. Azeredo Lopes entende que a presença de Zelensky nesta cimeira tem, sobretudo, “uma enorme importância política” e que a NATO representa “um abrigo” para que a Ucrânia possa “aproveitar ao máximo a tecnologia, os meios e, sobretudo, a sua vontade e capacidade de resistência neste conflito”.
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