O Bloco de Esquerda (BE) acusou, esta quarta-feira, o Governo de "ganhar com a inflação" ao prever "em baixa o crescimento real da economia mas também prever em baixa o défice que apresenta" e prometeu apresentar propostas de alteração ao documento.
"É um milagre o que o Governo faz", afirmou a deputada Mariana Mortágua, numa reação à apresentação da proposta de Orçamento do Estado para 2022, por Fernando Medina. "Este milagre só é possível porque o Governo ganha com a inflação mas não devolve à sociedade para compensar essa inflação, por isso, de alguma forma, transfere para os trabalhadores o aumento dos preços na economia."
A partir dos passos perdidos, no Parlamento, Mariana Mortágua referiu que o documento que o Ministro das Finanças apresentou é, "em tudo, igual ao que já tinha apresentado para 2022" com uma diferença: "existe agora uma inflação de 4% que vai erudir os salários e o poder de compra dos portugueses".
"O Governo não pode mais repetir a ideia que apresenta um orçamento sem cortes porque o que se passa neste orçamento é que a inflação foi revista para 4%; o Governo revê assim um aumento das receitas à taxa de inflação, sobe o IVA, sobem todos os impostos que dependem do aumento dos preços", aponta.
Contudo, "o Governo não atualiza as despesas à taxa de inflação". De acordo com a deputada, isso significa, na prática, que "os polícias, os enfermeiros, os médicos" e "todos os trabalhadores dos serviços públicos essenciais" vão ter "um corte real dos seus salários".
"Todas as pessoas que pagam IRS vão ser penalizadas porque nem os escalões do IRS o Governo atualizou à taxa de inflação", acrescentou em declarações aos jornalistas.
"O que vamos assistir na economia de 2022 é um corte generalizado nos salários não só do público, mas também no privado, e em vez de dar um sinal à sociedade e às empresas de que é preciso atualizar salários, impedir a perda de poder de compra, o Governo faz o contrário", criticou a deputada, acrescentando que a proposta não só "deixa que as pessoas paguem todo o custo da inflação, como não resolve os problemas estruturais do país".
"O Bloco apresentará várias propostas de alteração a este orçamento", garantiu a bloquista, referindo áreas como a atualização dos salários e pensões, as "questões estruturais da saúde, dos serviços públicos", mas sobretudo perceber quem pagará os custos da inflação. "É este desiquilíbrio que vamos tentar corrigir através de propostas de alteração ao Orçamento do Estado."
Mariana Mortágua aponta ainda que o que o Governo deveria estar a fazer era "encontrar uma forma de aumentar todos os salários em Portugal".
O problema de Portugal não são salários demasiado elevados, são salários demasiado baixos e não há uma resposta para isso neste orçamento", sublinha.
"Estamos a assistir a um movimento de perda de poder de compra acelerado", insiste.
A deputada do BE questiona ainda como é possível reduzir o défice se a economia real cresce menos. "Isto só é possível de uma forma: o Governo conta que as receitas do IVA e dos impostos indiretos aumenta, mas não devolve nas prestações sociais nem em investimento público o que vai ganhar a mais", concluiu.
[Notícia atualizada às 17h20]
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