O Governo reconhece que a proposta do Orçamento do Estado para 2022 (OE2022) surge "num contexto exigente", mas o Ministro das Finanças recusa que este seja um Orçamento de austeridade.
A mesma certeza não tem a oposição, que fala mesmo em "austeridade encapotada" e acusa o Executivo de não responder ao "desafio principal do país", o crescimento económico.
Da esquerda à direita, os partidos queixam-se de que o documento não responde ao aumento da inflação e que será inevitável, por isso, uma perda de rendimentos por parte das famílias.
As principais queixas prendem-se com o facto de os salários não acompanharem o aumento exponencial dos preços e de o Governo nem sequer rever o aumento das receitas.
O vice-coordenador do PSD na Comissão de Orçamento e Finanças Jorge Paulo Oliveira não quis antecipar ainda o sentido de voto do partido na proposta orçamental do Governo, mas deixou claro que o aumento expectável dos salários não acompanha o "aumento muito considerável dos preços".
O Iniciativa Liberal encara o documento como "meio orçamento". João Cotrim Figueiredo antecipou que o mais provável é que o partido vote contra a proposta, que afirma que "mantém o mesmo défice, gastando mais e sem cortar em nada".
Já André Ventura, do Chega, acusou o Governo de apresentar um Orçamento que pouco difere daquele que foi chumbado na anterior legislatura, não estando, assim, preparado para a conjetura atual. Ventura apontou por isso que este é um “Orçamento do ‘quero, posso, e mando’”.
"Vem aí austeridade e é importante que as pessoas saibam isto", alertou.
À esquerda, o PCP considerou que a proposta apresentada hoje está ainda "mais desajustada" do que aquela que o Governo apresentou há cinco meses. A líder parlamenta comunista acredita que este orçamento "aprofundará estrangulamentos" à vida dos portugueses.
O Livre condenou a perda de poder de compra dos portugueses e recusou que o problema seja "conjuntural". O deputado único, Rui Tavares, disse mesmo que o sentido de voto do partido na proposta irá depender da forma como vão decorrer as negociações, nomeadamente do grau de aceitação das propostas de alteração feitas pelo Livre.
O Bloco de Esquerda recorreu à ironia para classificar como "um milagre" que o "Governo ganhe com a inflação" mas transfira "para os trabalhadores o aumento dos preços na economia".
Mariana Mortágua considera que "o Governo não pode dizer que apresentou um orçamento sem cortes" e promete apresentar propostas de alteração ao documento para "corrigir esse desiquilíbrio".
Para o PAN, o Governo foi "pouco ambicioso em algumas matérias", ainda que reconheça que algumas propostas defendidas pelo partido foram acolhidas, "nomeadamente em matéria de proteção animal, de combate à pobreza como os projetos Housing First [de apoio a pessoas em situação de sem-abrigo] e também o investimento nos transportes públicos ou no combate à pobreza energética", afirmou Inês Sousa Real.
O Governo entregou hoje ao início da tarde, na Assembleia da República, a proposta de Orçamento do Estado para 2022, que prevê que a economia portuguesa cresça 4,9% em 2022 (uma ligeira revisão em baixa de 0,1 pontos percentuais face à última estimativa) e mantém a previsão de um défice de 1,9% do PIB.
O Orçamento do Estado de 2022 vai ser votado na generalidade dia 28 e 29 de abril, num processo que culminará na votação final global em 27 de maio.
[Notícia atualizada às 22h24]
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