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Genocídio? Azeredo Lopes pede mais "coerência" e menos "hipocrisia"

O ex-ministro da Defesa lembrou que a própria Ucrânia apenas aceitou a jurisdição do Tribunal Penal Internacional "à la carte", em 2014.

Genocídio? Azeredo Lopes pede mais "coerência" e menos "hipocrisia"
Notícias ao Minuto

14:43 - 18/04/22 por Notícias ao Minuto

Política Ucrânia/Rússia

Azeredo Lopes esteve, esta segunda-feira, a comentar os mais recentes acontecimentos na Ucrânia, debruçando-se sobre o que diz ser falta de "coerência" no apelo à responsabilização da Rússia por parte de países que já antes foram acusados das mesmas violações de direito internacional. O antigo ministro da Defesa pediu, assim, menos "hipocrisia" quando se fala, por exemplo, em "genocídio".

"Muitos desses [Estados] que mais clamam por esse tipo de resultado são aqueles que, não só não parte do estatuto do Tribunal Penal Internacional (TPI), como em determinadas circunstâncias infelizes, [são] indiciados pela prática de crimes internacionais alguns dos seus cidadãos ou combatentes - é o caso dos EUA e o caso muito célebre da sua relação com a pratica desse tipo de crimes no Afeganistão", disse.

"Isto não tem a ver com uns serem bons e outros serem maus. Tem a ver com a necessidade de um mínimo de coerência naquilo que se defende", reiterou, enveredando por uma crítica direta aos Estados Unidos, a quem acusa de "hipocrisia".

Azeredo Lopes lembrou a "lei de invasão da Haia" [sede do Tribunal Penal Internacional] aprovada pelos Estados Unidos, que permitia uso da força militar para libertar qualquer cidadão do seu país detido pelo organismo de mediação internacional.

Azeredo Lopes defendeu que, neste caso, à luz do que ocorreu no Afeganistão, "é um bocadinho difícil olharmos para este tipo de situações". "Estamos a falar de quê? Os crimes internacionais só podem ser cometidos por Vladimir Putin e pelos seus sequazes?", questionou, acrescentando que esta questão, "a prazo, acaba por corroer um pouco a argumentação".

"Que fique claro: eu não estou a comparar os EUA com a Rússia. Já sei que é o tipo de resposta demagógica e populista que vem logo a seguir a este tipo de argumento que eu apresento", ressalvou.

Azeredo Lopes aponta baterias, também, à posição da Ucrânia face ao TPI. "A Ucrânia aceitou exclusivamente a jurisdição do TPI - como se fosse uma aceitação à la carte -  para  questão que começa em 2014", disse, defendendo que "o mínimo" que podia acontecer era o país ratificar o estatuto do TPI e "aceitar quaisquer que sejam as consequências dessa jurisdição internacional"

O agora comentador da CNN criticou ainda o 'convite' feito por Volodymyr Zelensky a Emmanuel Macron, depois de o presidente francês ter rejeitado usar o termo "genocídio" para descrever a situação na Ucrânia. "Convidar o presidente Macron para lhe mostrar o que é genocídio? Acho este convite uma coisa peculiar", considerou, dizendo que que o gesto lhe fez lembrar "quando as forças aliadas" levaram os residentes junto aos campos de concentração para que as atrocidades cometidas durante o Holocausto nunca mais acontecessem e "não fossem esquecidas". Segundo Azeredo Lopes, o convite do feito ao presidente francês foi uma espécie de "venha cá para eu o levar a ver corpos e perceber o que é um genocídio".

Azeredo Lopes criticou o eventual "aproveitamento político" por trás deste convite e defendeu que "não foi o momento mais feliz", visto que as eleições para a presidência francesa são decididas a 24 de abril. Considerando que "é preciso que a política fique um bocadinho à porta", o ex-governante elogiou o trabalho da procuradora-geral da Ucrânia, e disse que esta era a forma correta para fazer as coisas, visto que já foram recolhidas, segundo o órgão governamental, provas para mais de 8 mil casos de crimes conta a humanidade ou crimes de guerra.

Leia Também: A Ucrânia "passou a existir no dia em que foi invadida"

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