Em declarações aos jornalistas no final de visitas a dois projetos na área social em Cascais, Luís Montenegro foi questionado sobre o seu diagnóstico sobre o estado da nação, na véspera do debate parlamentar com este tema.
"O estado da nação é grave, é um estado em que estamos a empobrecer, estamos a sofrer na pele os efeitos da falta de transformação e reformismo em Portugal", afirmou, apontando que, apesar de "o Governo não ter culpa de haver guerra", a inflação já estava a subir antes do conflito na Ucrânia e já existia "um caos completo nos serviços públicos essenciais".
Luís Montenegro apontou alguns números para sustentar as suas afirmações.
"Nós hoje somos um país mais pobre porque estamos a ter um ritmo de crescimento inferior, muito inferior, à media de todos os países da União Europeia, temos um rendimento per capita que é o 21.º dos 27", referiu.
"Pior do que isso", considerou, é que "de 2016 a 2021, anos da exclusiva responsabilidade do PS e anos onde todos os países foram atingidos da mesma maneira pela pandemia, o crescimento acumulado do PIB português foi de 7,1%".
No mesmo período, disse, nos países da coesão o crescimento do PIB foi, em média, de 18,3%, "ou seja, mais do dobro".
"No mesmo período, um Governo socialista estagnou o país condenando-o a ter um impacto mais grave nas dificuldades conjunturais que a guerra trouxe, não estava tão bem preparado como outros e a recuperação da economia portuguesa está a ser muito mais lenta", criticou.
Questionado se não é um problema não estar no parlamento para questionar diretamente o primeiro-ministro, Luís Montenegro respondeu negativamente e aproveitou as visitas as instituições para reiterar um apelo que tem feito ao Governo.
"Neste momento, o Governo tem excesso de receita fiscal, muito acima do que tinha estimado em termos de arrecadação de impostos. É uma exigência moral que o Governo coloque esse excedente orçamental ao serviço dos que no dia a dia têm dificuldades em pagar as suas despesas básicas", apelou.
Montenegro pediu ao Governo para que tenha "sensibilidade social, moralidade e humildade" e deixou um desafio direto ao primeiro-ministro.
"Dr. António Costa, olhe para aqueles que na sociedade estão a ser mais atingidos pelo aumento galopante dos bens mais essenciais", afirmou, dizendo que este apelo pode ser feito sem estar no hemiciclo do parlamento.
Ainda assim, o líder do PSD salientou que vai "acompanhar bem de perto" o debate, sem esclarecer se poderá passar na Assembleia da República, e sublinhou que o partido estará "muito bem representado" na discussão parlamentar.
Questionado sobre a votação obtida pelo novo líder parlamentar do PSD, Joaquim Miranda Sarmento (menos de 60%, muito abaixo da maioria dos seus antecessores), Montenegro respondeu que a bancada expressou "de forma inequívoca a sua confiança na direção do grupo num espírito de grande democraticidade.".
"Se for comparar com o que aconteceu no início do ciclo de liderança anterior, os resultados até foram bem piores", disse, referindo-se, de forma implícita, aos 39% de Fernando Negrão em 2018, depois de ter substituído Hugo Soares por vontade de Rui Rio.
Desta vez, foi também por vontade da nova direção de Luís Montenegro que o anterior líder parlamentar do PSD, Paulo Mota Pinto, convocou eleições antecipadas, depois de ter obtido 92% dos votos em abril.
Sempre acompanhado pelo presidente da Câmara de Cascais, o social-democrata Carlos Carreiras, e o vice-presidente do PSD (e também 'vice' deste município), Miguel Pinto Luz, Luís Montenegro começou por visitar o projeto Bata Branca, na Unidade de Saúde Misericórdia de Cascais, que garante o acesso a consultas de clínica geral a todos os munícipes sem médico de família atribuído.
Daí, o presidente do PSD e comitiva seguiram para a "Cozinha com Alma", um projeto social que vende refeições para fora ao público em geral e cujas receitas são utilizadas para apoiar famílias carenciadas (entre 70 e 80, atualmente).
Luís Montenegro partilhou com a responsável, Cristina de Botton, uma confidência: "Já cozinhei para 80 ou 100 pessoas em refeições sociais, nunca publicitei isso".
Questionado pelos jornalistas qual era a sua especialidade na cozinha, explicou que nessas ocasiões teve de recorrer a pratos mais simples.
"Costumo fazer rojões, feijoadas, coisas que em quantidade se conseguem cozinhar melhor", disse.
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