"A Conferência Nacional 'Tomar a iniciativa, reforçar o partido, responder às novas exigências' está aí e apelamos à participação de cada um com o seu contributo no debate que se vai seguir", sustentou Jerónimo de Sousa, nos instantes finais do discurso de quase 45 minutos que encerrou a 'rentrée' comunista, na Quinta da Atalaia (Seixal).
A justificação para a conferência comunista -- a quarta em 101 anos -, que decorrerá entre 12 e 13 de novembro, já estava dada, mas o dirigente comunista reforçou-a: a falta de respostas para os problemas nacionais e o agravamento da situação económico-social do país.
Mas o reenquadramento do partido tem igual importância na conferência. Em contexto de maioria absoluta do PS, de agravamento das condições de vida, e com a incerteza quanto ao redesenho do panorama geopolítico internacional, os comunistas "têm de trabalhar para assegurar as tarefas do fortalecimento da organização do partido", prosseguiu.
O dirigente histórico comunista Álvaro Cunhal não ficou de fora da sua intervenção: "dizia ele que o sonho está sempre mais avançado do que a realidade, mas é com a nossa militância que passará do sonho".
Perante os milhares de militantes e simpatizantes da "Festa do Avante!", Jerónimo de Sousa repetiu o pedido de contributo de todos os comunistas para "dar uma confiante perspetiva de futuro à luta".
"Não nos resignamos, não nos conformamos e não desistimos! Queremos um país mais desenvolvido e mais justo, havemos de construí-lo. Vemos com certeza um futuro melhor", vincou, palavras que recolheram aplausos da multidão 'vermelha e amarela' que o escutava.
O secretário-geral do PCP há 18 anos, o mais longo depois de Álvaro Cunhal, não levantou o véu sobre as temáticas da conferência, mas deixou a mensagem de que a mobilização tem de ser todos os comunistas.
Mais do que as críticas ao terceiro Governo de António Costa e a justificação da posição do partido face ao conflito na Ucrânia, o secretário-geral do PCP fez um discurso "para dentro".
Na primeira 'rentrée' depois do fim da "geringonça", Jerónimo de Sousa voltou-se para os militantes, para os "agarrar", numa altura em que o partido está reduzido a seis deputados na Assembleia da República (tinha 10 na última legislatura) e ainda não conseguiu estancar a "sangria" no plano autárquico.
A mensagem foi, pelo menos, recebida com efusividade pelos participantes da "Festa" -- expressão utilizada pelos comunistas para designar o certame político-cultural -, que aplaudiram o discurso várias vezes e durante bastante tempo.
A "Festa do Avante!" faz-se em casa: a Junta de Freguesia da Amora é comunista, assim como a autarquia do Seixal, que pertence a um distrito predominantemente comunista.
Mas Jerónimo de Sousa aproveitou o momento em que comunistas de todo o país e até do estrangeiro estavam no mesmo local para pedir resiliência e um reforço da atividade em tempos que se avizinham difíceis, tal como foi descrevendo ao longo do seu discurso.
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