O deputado da Iniciativa Liberal Carlos Guimarães Pinto viu a sua intervenção ser abafada pelo PS durante uma audição à ministra da Coesão Territorial quando, após pedir a demissão da governante, uma deputada pediu que a sua intervenção fosse apagada da gravação final daquela audição.
Tudo aconteceu durante a Comissão de Administração Pública, Ordenamento do Território e Poder Local, na qual, a pedido do PSD, a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, foi chamada para dar explicações sobre a falta de um relatório obrigatório sobre o estado do ordenamento território.
Carlos Guimarães Pinto, da IL, abordou antes uma notícia avançada esta quarta-feira pelo Observador, que noticiou que duas empresas do marido da ministra receberam fundos comunitários, sendo que o ministério liderado por Ana Abrunhosa tutela as CCDR, que gerem os fundos comunitários atribuídos a uma das empresas. Segundo o órgão, a Thermalvet, detido a 40% por António de Trigueiros de Aragão, recebeu 133 mil euros, sendo que a empresa foi constituída 15 dias antes do início da execução do projeto, em 2020.
Durante a audiência, Guimarães Pinto destacou que "a situação até pode ser completamente legal mas o conflito moral é evidente", referindo-se ao parecer da PGR que considera a situação legal, mas que aponta para a "obscuridade" da lei.
Foi esta a intervenção que a deputada do PS pediu para ser retirada da gravação da audição de hoje. De notar que a ministra teve a dignidade de se opor posteriormente a essa retirada. pic.twitter.com/yKic4Ol9Xk
— CGP (@carlosgpinto) September 28, 2022
Para a IL, esta é mais uma "falha ética" no Governo e o deputado, procurando "compreender" as "chatices e limitações" de titulares de cargos públicos, vincou que a ministra deve afastar-se do cargo, caso as empresas do marido não devolvam os fundos, acrescentando que a governante tem acesso a informações privilegiadas sobre o acesso a fundos comunitários.
Interrompeu-o então a deputada socialista Isabel Guerreiro que, primeiro, questionou a pertinência das questões da IL para a ordem dos trabalhos. "Do que eu percebi, eu não posso vir para aqui alegar factos que não têm a ver com a ordem de trabalhos. Não posso falar sobre o café ou o chá que podemos ter tomado ontem à tarde", afirmou a deputada.
Continuando, Isabel Guerreiro pediu então que fosse "retirada" a intervenção de Carlos Guimarães Pinto da gravação da audição, e excluída da ata da reunião.
Quanto à ministra, Ana Abrunhosa recusou responder às questões do deputado liberal, considerando que tinha respondido a todas as questões colocadas. Mas, mais tarde, Ana Abrunhosa pediu que a gravação se mantivesse intacta "porque ganha a democracia". "Na minha opinião, nada será apagado", disse a ministra, entre lágrimas.
Carlos Guimarães Pinto elogiou a resposta e a "dignidade" da governante, apontando que não pretende que esta se demita, mas insistindo que os fundos devem ser devolvidos.
Através do Twitter, o líder do grupo parlamentar da IL, Rodrigo Saraiva, criticou a situação como um caso "da série: acham-se e sentem-se donos disto tudo". Já o deputado Rui Rocha, do mesmo partido, acusou o Partido Socialista de "tentar suspender a democracia".
[Notícia atualizada às 12h41]
Leia Também: Empresas de marido da ministra da Coesão recebem fundos comunitários