Em tarde de homenagens, esquerda mantém silêncio sobre Adriano Moreira

Presidente, Governo e oposição salientaram a importância do antigo ministro do Ultramar e líder do CDS-PP, apesar dos dois partidos mais à esquerda no Parlamento surgirem mais calados.

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Hélio Carvalho
23/10/2022 17:56 ‧ 23/10/2022 por Hélio Carvalho

Política

Adriano Moreira

O domingo ficou marcado pela morte de Adriano Moreira, o histórico presidente do CDS-PP e antigo ministro do Ultramar durante a ditadura, entre 1961 e 1963. Os vários líderes políticos recordaram, esta tarde, o legado de Adriano Moreira, vincando a sua transição para a democracia e a sua importância na política portuguesa e na academia do século XX.

Marcelo Rebelo de Sousa disse, ao início da tarde, que Adriano Moreira, que comemorou recentemente 100 anos de vida, "foi tudo ou quase tudo".

"[Adriano Moreira] Atravessou dois regimes, andou pelo mundo, deixando discípulos, defendendo a nossa língua, a nossa cultura, a nossa pátria comum, sempre com inteligência, com brilho, com tenacidade, com orgulho transmontano, com orgulho português", vincou o Presidente da República.

Através do Twitter, o presidente da Assembleia da República saudou "uma grande figura da democracia portuguesa". "Foi a democracia que o fez deputado e líder partidário, e mestre de várias gerações", afirmou Augusto Santos Silva.

Ainda no Partido Socialista, o presidente do partido, Carlos César, considerou que Adriano Moreira é "uma referência da vida política portuguesa e um académico, um especialista em Relações Internacionais, em Segurança e Defesa Nacional que fez escola e deixou obra relevante".

Evocado como um dos dirigentes mais importantes da direita conservadora pós-25 de Abril, todos os partidos à direita prestaram a sua homenagem a Adriano Moreira, começando pelo CDS-PP, que foi presidido por Moreira entre 1986 e 1988.

"O professor Adriano Moreira foi um português no superlativo: representou o melhor da Nação em muitos tempos diferentes, foi um Homem completo em todas as dimensões e encarnou como poucos os valores da democracia-cristã que teve como essencial ao regime e fundamental no CDS", disse Nuno Melo, o atual presidente do partido, através do Facebook.

Também o PSD, a Iniciativa Liberal e o Chega fizeram homenagens: Luís Montenegro referiu que Adriano Moreira foi "um 'grand seigneur' da academia e da política portuguesa; Rodrigo Saraiva, líder parlamentar da IL, destacou Moreira como "um exemplo de serenidade na política, quando incompreendido e quando consensual"; e André Ventura, líder do Chega, fez grandes elogios e aproveitou para anunciar que o partido vai apresentar um voto de pesar no Parlamento.

Mas, se a maioria, desde o PS ao Chega, saudou o antigo ministro do Estado Novo, a esquerda mais à esquerda ficou, em grande parte, em silêncio.

São conhecidas as divergências políticas entre os partidos mais à esquerda, nomeadamente do Bloco de Esquerda e Partido Comunista, e a história de Adriano Moreira. Os partidos criticaram várias vezes as ligações de Moreira ao salazarismo, nomeadamente os seus contributos para o colonialismo português, um dos mais tardios - isto apesar de Adriano Moreira ter promovido alguma reforma nos territórios ultramarinos, nomeadamente através da revogação do Estatuto do Indigenato.

Muitos acusam especialmente o antigo dirigente pelo seu papel na opressão do Estado Novo, pois foi Adriano Moreira que esteve por detrás da reabertura do campo de concentração do Tarrafal, a prisão em Cabo Verde para onde o Estado enviava os opositores políticos.

Na prática, esta contestação a Adriano Moreira traduziu-se, por exemplo, em votos contra por parte dos vereadores do PCP e Bloco, na votação para lhe atribuir a Medalha de Honra da Cidade de Lisboa (também votou contra uma vereadora independente, eleita pela coligação PS/Livre).

Volvidas quase quatro horas depois da morte do antigo presidente do CDS-PP, entre 1986 e 1988, Bloco, PCP e Livre ainda não apresentaram qualquer comunicado ou comentário, nem através das redes sociais de partidos e dirigentes, nem através da comunicação social.

Em junho deste ano, Adriano Moreira foi condecorado pelo Presidente da República com a Grã-Cruz da Ordem de Camões, antes de fazer 100 anos em setembro. Nascido em Macedo de Cavaleiros, no distrito de Bragança, a vida de Adriano Moreira esteve desde sempre ligada à academia e ao Direito.

Depois de publicar a premiada tese 'O Problema Prisional do Ultramar' e de fazer parte da delegação portuguesa na ONU, Adriano Moreira foi então convidado por António de Oliveira Salazar para fazer parte do Governo da ditadura. Foi subsecretário de Estado da Administração Ultramarina, em 1960, e transitando depois para ministro do Ultramar, em 1961, quando começavam as revoluções independentistas nas colónias africanas.

Após o exílio no Brasil depois do 25 de Abril, Adriano Moreira regressou à política e ao Parlamento, acabando por dirigir o CDS-PP e ser deputado até 1995.

Leia Também: Adriano Moreira, um homem com um percurso dividido entre dois regimes

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