Apresentado pelo grupo municipal do CDS-PP, o voto de pesar pela morte de Adriano Moreira, que morreu no domingo, aos 100 anos, foi aprovado com os votos contra do BE, PCP e deputado independente Miguel Graça (eleito pela coligação PS/Livre), a abstenção do PEV e Livre e os votos a favor do PS, PSD, PAN, Iniciativa Liberal, MPT, PPM, Aliança, CDS e Chega.
Para justificar o voto contra do grupo municipal do PCP, a deputada comunista Natacha Amaro disse que Adriano Moreira teve "um longo percurso de vida com elementos diferenciados, em que não é possível apagar, entre outros aspetos, as suas responsabilidades enquanto ministro do regime fascista no início da Guerra Colonial".
O BE e o Livre indicaram que irão apresentar uma declaração de voto escrita.
"Faleceu o professor Adriano Moreira, figura maior da política e cultura portuguesas, um democrata cristão convicto, uma referência para além do seu tempo. Um homem de valores, de convicções, de fé, de inquietações, tolerante e respeitador", lê-se no voto de pesar.
Nascido em 06 de setembro de 1922, em Grijó, Macedo de Cavaleiros, distrito de Bragança, apesar das "naturais dificuldades da época e do meio em que nasceu", Adriano Moreira conseguiu mudar-se para Lisboa, onde se graduou em Direito: "Uma importante conquista de um homem que nunca esqueceu o grande esforço dos seus pais para dar estudos superiores aos filhos".
"Em Lisboa iniciou as suas intensas atividades profissional, política e académica. Em Lisboa ensinou e fez escola e discípulos, que se espalham pelo resto do país e do mundo. Foi na Universidade Técnica de Lisboa - mais tarde fundida com a Universidade de Lisboa - que exerceu muito do seu inovador magistério. Autonomizou, entre nós, o ensino da Ciência Política e das Relações Internacionais", refere o documento, enaltecendo ainda o papel que teve na fundação de instituições culturais e científicas que ainda hoje perduram na capital.
O voto de pesar aponta ainda o percurso de Adriano Moreira no campo político, em que desempenhou vários cargos, "servindo Portugal antes e depois do 25 de Abril de 1974", destacando o impulso no acesso à educação e à promoção da cidadania dos portugueses africanos e, depois, em democracia, a adesão ao CDS - Centro Democrático Social, partido pelo qual foi deputado à Assembleia da República, de 1979 a 1991, tendo exercido o cargo de vice-presidente deste órgão de soberania.
Foi presidente do CDS de 1986 a 1988 e, interinamente, de 1991 a 1992, e, "em 2015, foi indicado pelo CDS-PP para o Conselho de Estado, exercendo funções até 2019", acrescenta o documento, referindo que Adriano Moreira "pensou Portugal como poucos, cá dentro e além-fronteiras, deu provas da sua sabedoria e visão, teve uma vida intensa e, como ele próprio fez questão de sublinhar, muito feliz".
"Foi um Pensador. Académico. Político. Intelectual. Defensor dos Direitos Humanos. Doutrinador. Professor", realça o voto de pesar, afirmando que foi "um lisboeta, sem nunca deixar de ser transmontano".
"Partiu, mas deixa-nos um legado superlativo, tal qual ele próprio o foi nas múltiplas dimensões da sua vida. Estamos-lhes profundamente reconhecidos e curvamo-nos perante a sua memória", lê-se no voto de pesar pela morte do professor Adriano Moreira.
Por proposta do PS, os deputados municipais aprovaram, por unanimidade, um voto de pesar pela morte de Carlos Melancia, político e empresário, que foi governador de Macau e que morreu no domingo, aos 95 anos, no Hospital de São José, em Lisboa, para onde foi transportado após uma queda.
Segundo o documento, Carlos Melancia era licenciado em Engenharia e foi gestor antes de ocupar diversos cargos na atividade política e governativa, destacando as funções que desempenhou enquanto secretário de Estado da Indústria Pesada (1976), ministro da Indústria e Tecnologia (1978) e do Equipamento Social e do Mar (1985).
Em 1985, foi eleito deputado à Assembleia da República pelo círculo de Leiria nas listas do Partido Socialista e, posteriormente, "foi um dos últimos governadores de Macau, onde esteve de 1987 a 1991", aponta o voto de pesar, indicando que, após regressar de Macau, se estabeleceu como empresário no Alto Alentejo, tendo sido fundador da Fundação Cidade de Ammaia, de que era presidente à data da sua morte, do Golfe de Marvão, do Hotel Garcia de Orta, em Castelo de Vide, e administrador da corticeira Robinson Bros.
Após a aprovação destes dois votos de pesar, os deputados municipais cumpriram um minuto de silêncio.
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