A 'saída' de Cotrim, o "lamaçal" e os candidatos. O que se passa na IL?

No passado domingo, João Cotrim Figueiredo anunciou a sua saída da liderança da Iniciativa Liberal. Até ao momento, já dois candidatos se apresentaram na corrida: os deputados Rui Rocha e Carla Castro.

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Notícias ao Minuto
26/10/2022 11:22 ‧ 26/10/2022 por Notícias ao Minuto

Política

Iniciativa Liberal

Foi no passado domingo que João Cotrim Figueiredo 'abanou' o 'planeta liberal' em Portugal, ao anunciar a sua saída da liderança da Iniciativa Liberal (IL) na próxima convenção do partido, marcada para o próximo mês de dezembro. 

Em comunicado, o partido explicou que "João Cotrim Figueiredo comunicou que não será novamente candidato à liderança do partido, dando a oportunidade a uma nova liderança de estar em funções com suficiente antecedência em relação aos próximos atos eleitorais, que terão lugar já a partir do segundo semestre de 2023".

Já o deputado referiu que se tratou de uma decisão estratégica, alegando que não é "a pessoa ideal para corporizar" a "tónica mais combativa, mais popular e mais abrangente a nível nacional" que o partido "precisa".

No Twitter, Cotrim Figueiredo elogiou e salientou o percurso "incontornável" da IL "na cena política nacional", frisando, contudo, que a sua saída da liderança é o melhor para o crescimento do partido. Ainda assim, agradece à IL por "três anos de enorme desafio", escrevendo que continuará "disponível para ajudar o partido em tudo aquilo que a nova liderança entenda ser útil".

Depois, o "lamaçal" 

Na segunda-feira, dia seguinte ao anúncio, o primeiro-ministro, António Costa, comentou a saída anunciada de João Cotrim Figueiredo da liderança da Iniciativa Liberal. O chefe de Governo considerou que o partido, "como já percebemos, decidiu passar a competir com o Chega no estilo de truculência e má educação democrática de como intervém no debate público"

"Percebo que João Cotrim Figueiredo não se sentisse à vontade nesse estilo de luta livre no meio do lamaçal. Conheço-o bem, admito que não se sinta bem"

O primeiro-ministro frisou ainda que "a Direita democrática em Portugal tem um verdadeiro fascínio pelo Chega". E "todos, em vez de entenderem que afirmam a sua identidade demarcando-se do Chega, têm a mesma voragem de normalizar o Chega, de conviverem com o Chega e de imitarem o Chega". 

Para Costa, "deviam olhar para Itália e ver o que é que acontece". "Quando os partidos da Direita democrática começam a normalizar a extrema-Direita, aquilo que acontece é que acabam a ser liderados pela extrema-Direita. Bom futuro para eles e que continuem com essa estratégia que vão longe", ironizou.

Já há dois candidatos (e ambos - já - reuniram apoios)

O deputado Rui Rocha foi o primeiro a lançar a sua candidatura à liderança da Iniciativa Liberal, no mesmo dia em que Cotrim disse que ia sair. Através do Facebook, o eleito pelo círculo eleitoral de Braga, afirmou que a sua candidatura pretende "continuar o atual sucesso da IL e popularizar o Liberalismo pelo país", além de querer "fazer uma oposição feroz e combativa ao modelo de desenvolvimento falhado que o PS implementa no país".

"Pretendo popularizar pelo país a atual identidade política e ideológica da Iniciativa Liberal, consolidada pelo extraordinário trabalho de Carlos Guimarães Pinto e de João Cotrim de Figueiredo. Duas lideranças que impulsionaram o partido para um crescimento notável e consolidado, promovendo a afirmação das ideias liberais e tornando-as centrais no debate político", afirmou. 

Do seu lado, tem o próprio João Cotrim Figueiredo. "Conta comigo, Rui. Apoio, com entusiasmo, a candidatura que o Rui Rocha anunciou ao cargo de Presidente da Comissão Executiva da Iniciativa Liberal", escreveu nas redes sociais. Para o líder de saída, "Rui Rocha é a pessoa certa para liderar a Iniciativa Liberal nesta sua nova fase de crescimento e afirmação"

O candidato e deputado já teve, também, oportunidade de comentar as declarações de António Costa. Em entrevista à RTP, esta segunda-feira, Rui Rocha adjetivou as afirmações do primeiro-ministro de "inqualificáveis" e que demonstram "a inquietação que o Iniciativa Liberal gera em António Costa".

"Sobre lamaçais nem entro discussões, António Costa sabe muito mais disso do que eu. O primeiro-ministro sabe que o Iniciativa Liberal é o competidor mais presente e alternativo às suas políticas", disse o candidato Rui Rocha. "António Costa está nervoso e sabe que o IL é o seu principal opositor", acrescentou.

Carla Castro, deputada da Iniciativa Liberal, também anunciou a sua candidatura à liderança do partido. O anúncio foi feito no Fórum TSF desta manhã, onde explicou que fez uma ponderação depois da "surpresa" com a saída de João Cotrim Figueiredo, considerando ter condições para "liderar uma lista para uma nova fase de crescimento" do partido.

"Creio sinceramente que posso e vou liderar uma lista ao partido para uma nova fase de crescimento, com um programa muito centrado e uma mensagem muito centrada no crescimento e na mobilidade social. É com todo o gosto e toda a honra e responsabilidade que confirmo que vou ser candidata", disse.

Questionada sobre quais as diferenças que apresenta em relação a Rui Rocha, também deputado liberal, Carla Castro afirmou que haverá "certamente diferenças quer do ponto de vista da gestão interna do partido quer de modos e prioridades externas", deixando claro que ambos têm "uma matriz de liberalismo político, económico e social" e ambos respeitam a matriz que tem permitido o "crescimento de sucesso da IL" ao contribuírem, "de formas diferentes", para este crescimento.

Ontem, Miguel Ferreira da Silva, o primeiro presidente da Iniciativa Liberal, anunciou o apoio à deputada Carla Castro para presidente do partido, considerando ser a "melhor pessoa para liderar a próxima fase de crescimento e afirmação" dos liberais. 

"Depois do sucesso dos 'sprints' das campanhas, podemos finalmente ter a tranquilidade de voltar à maratona de construir uma nova forma de participação política: mais aberta, mais plural, mais participativa, mais liberal", afirmou.

Também o ex-candidato presidencial apoiado pela IL, Tiago Mayan Gonçalves, manifestou preferência pessoal pela deputada Carla Castro na corrida para a liderança dos liberais, aguardando pelas moções e equipas de ambos os candidatos para decidir o seu apoio.

"Para tomar uma posição definitiva [sobre o apoio] vou esperar pelas propostas, pelas moções de estratégia, pelas equipas de cada um dos candidatos, agora numa das componentes da decisão que é a análise pessoal de cada um dos candidatos e das suas características, não tenho dúvidas nenhumas em preferir Carla Castro, sem desprimor nenhum para Rui Rocha, que também é um elemento válido", afirmou, em declarações à agência Lusa, Mayan Gonçalves.

Por seu lado, o líder da bancada da Iniciativa Liberal, Rodrigo Saraiva, assegurou que não será candidato à liderança do partido e que está "focado no trabalho parlamentar", reservando "para mais tarde" um eventual apoio a um dos concorrentes. "É inequívoco que não sou candidato. Estou e mantenho-me focado no trabalho parlamentar, continuando a garantir que o grupo parlamentar e gabinete estão sólidos na missão de ter um Portugal Mais Liberal", referiu Rodrigo Saraiva numa nota enviada à agência Lusa.

O 'percurso' da Iniciativa Liberal

A Iniciativa Liberal foi fundada em 2017 e concorreu às suas primeiras eleições durante as europeias de 2019. João Cotrim Figueiredo foi um dos fundadores do partido que, até 2018, foi presidido por Miguel Ferreira da Silva - que acabou por se demitir quando a Renascença denunciou que a página de Facebook da IL servira antes como página independente de apoio a António Costa, em 2014.

Seguiu-se a presidência de Carlos Guimarães Pinto, que liderou o partido até à histórica entrada no Parlamento, em 2019. O próprio não conseguiu ser eleito pelo círculo eleitoral do Porto (acabando por chegar à Assembleia da República em 2022).

Cotrim Figueiredo assumiria a presidência da Comissão Executiva da IL em dezembro de 2019. Neste mesmo ano, recorde-se, tornou-se no primeiro deputado liberal eleito para a Assembleia da República, conseguindo-o pelo círculo de Lisboa. Durante cerca de dois anos e meio, foi deputado único até às legislativas de 2022, quando a IL 'saltou' de um para oito deputados.

Leia Também: Ventura deseja que IL se recomponha rápido e devolve críticas a Costa

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