Marcelo "é engraçado por razões que são fáceis de compreender"
Ricardo Araújo Pereira foi o convidado do programa 'Grande Entrevista', onde comentou o impacto do humor no poder político e a perceção sobre o Presidente da República, que considera ser engraçado "por razões que são fáceis de compreender".
© Global Imagens
Política Ricardo Araújo Pereira
Faz piadas sobre políticos há anos, sendo um dos humoristas mais vistos na televisão portuguesa. Esta quarta-feira, Ricardo Araújo Pereira debruçou-se sobre o impacto do seu humor na opinião pública, embora o desvalorize, e comentou o paradoxo que, para si, torna Marcelo Rebelo de Sousa numa pessoa "engraçada".
Ao programa 'Grande Entrevista', da RTP, o comediante afirmou que "o poder do humor é muito sobrevalorizado". Questionado sobre a eleição para presidente de Volodymyr Zelensky, depois de uma carreira como ator de comédia, disse crer que "é tanto uma demonstração do poder do humor como a eleição do Schwarzenegger para governador da Califórnia é uma demonstração de um filme de ação", considerando que "são ambas a demonstração de poder de uma coisa simples: a popularidade".
"Se a Cristina Ferreira se candidatar a um cargo público, em princípio terá uma votação significativa, e isso não é indicativo do poder político dos programas da manhã ou da apresentação, é uma indicação do poder da popularidade", explicou, acrescentando ainda como exemplo a eleição de Tiririca, no Brasil.
Sobre Marcelo Rebelo de Sousa ser um dos alvos 'favoritos' do humorista no programa 'Isto É Gozar Com Quem Trabalha', da SIC, Ricardo Araújo Pereira questionou se isso é culpa sua ou "do facto de ele aparecer muitas vezes".
"Creio que, de facto, o Presidente da República é engraçado por razões que são fáceis de compreender. Tem o cargo de Presidente da República, o mais alto magistrado da Nação, o chefe de Estado, mas quando discursa longamente sobre futebol perante uma plateia de alunos, há um contraste entre a dignidade do cargo e o caráter de saber se a seleção joga em 4-4-2", afirmou.
Justificou ainda que a ênfase dada pelos programas de humor aos governantes e à oposição não é por "serem estes em especial, nem por razões políticas e jornalísticas, mas por questões humorísticas". É porque "tem mais graça um palhaço acertar com uma maçã podre no Presidente do que num cidadão qualquer", sublinhou.
Gouveia e Melo? "Portugueses têm um fascínio pela ideia de um líder que não come em público"
Na entrevista, Ricardo Araújo Pereira também abordou o seu novo livro, 'Ideias concretas sobre vagas: Uma história da pandemia', no qual o autor fala sobre o impacto da Covid-19 na produção de conteúdos de humor e nas piadas sobre os tempos mais incertos, argumentando que "há uma tradição de comédia sobre os falhanços, as insuficiências médicas e científicas".
O livro também fala sobre os confinamentos, os comportamentos dos portugueses durante os primeiros meses da pandemia (como o açambarcamento de papel higiénico) e ainda sobre as principais personagens: Marta Temido, Graça Freitas e Gouveia e Melo.
Perante a possibilidade de o almirante Gouveia e Melo, chefe do Estado-Maior da Armada, se candidatar a Presidente, o humorista acha que "já passámos a fase de ter Presidentes da República militares".
"Pessoalmente, não me agradaria. Acho que os portugueses têm um fascínio pela ideia de um líder que não come em público, de um líder austero, sério - honesto e circunspecto", comentou.
Ventura não é convidado "porque não quero"
No seu programa na SIC, Ricardo Araújo Pereira já convidou praticamente todos os líderes políticos antes e depois das eleições legislativas, mas nunca convidou André Ventura. O líder do Chega já se mostrou "disponível" para "debater" com o humorista, mas Ricardo esclareceu que se trata "de uma entrevista e não de um debate".
"A maneira mais fácil de explicar é: 'eu não convido porque não quero'. Não sou jornalista, tenho um programa de entretenimento. Não existe o direito de ser convidado para um programa de entretenimento, e portanto a questão é essa - liberdade de convidar quem eu quero e não convidar quem não quero. Das poucas coisas em que acredito quando o Ventura fala é quando ele diz que é diferente dos outros. Não me custa acreditar pelas coisas que ele diz", admitiu.
Elaborando que não se trata de uma razão política, refere tratar-se de "uma razão humorística". "Tendo em conta que aquilo é um jogo, eu aceito jogar o jogo com as pessoas com quais tenho divergências mesmo fundas, desde que elas aceitem que o jogo é um jogo, e o jogo é a democracia", explicou.
"Muitas vezes ele designa-me como o 'humorista do regime'. Nada contra. Quando o regime é uma ditadura, significa que estamos a ser protegidos pelos poderes. Mas quando o regime é uma democracia em que quem manda é o povo, ninguém obriga as pessoas a ver. As pessoas veem porque lhes apetece", afirmou o comediante, acrescentando que entrevista "toda a gente, desde o PCP até à Iniciativa Liberal, com quem tenho divergências muito fundas".
"A questão é que o Ventura diz que é diferente dos outros, que é antissistema. O sistema chama-se democracia e eu acho-o muito satisfatório", rematou.
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