Miguel Alves? Adjunto sem experiência? Governo está "fechado" e "cego"
Francisco Louçã considerou, esta sexta-feira, que "os dois casos mostram o fechamento do Governo e a sua incapacidade de olhar para as exigências da sua sociedade".
© Global Imagens
Política Francisco Louçã
No rescaldo da demissão do secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, Miguel Alves, e da polémica contratação para o gabinete da ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, o antigo dirigente do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, considerou que os dois casos revelam não só “fragilidade” por parte do Executivo, como também “fanatismo partidário”.
Dando início à sua intervenção na SIC Notícias, esta sexta-feira, o bloquista começou por abordar a controvérsia em que Miguel Alves se viu mergulhado nas últimas semanas, que culminou com a sua demissão, na quinta-feira.
“Todo o caso foi uma enorme trapalhada e, aliás, foi muito reforçada a perceção e o conhecimento do facto pela entrevista que o Expresso fez ao empresário. É verdadeiramente um número dos Gato Fedorento, porque se percebe que é uma operação mirabolante, que é uma fantasia, e que em nome dessa fantasia foram despejados sem nenhum conhecimento verdadeiro”, argumentou Francisco Louçã, recordando que “a empresa diz que trabalha em 20 aeroportos do mundo e tem 175 euros de saldo negativo nas suas contas”.
“É verdadeiramente uma tragédia, uma comédia e, apesar disso, foram gastos 300 mil euros para pagar uma renda de 245. Quem faz isto com este à vontade, porque por ventura esperava ganhar algum trunfo político, apresentar um pavilhão em Caminha, é dificilmente qualificável como alguém que seja chamado para coordenar o Governo, para resolver um problema essencial do Governo”, atirou.
Além dos problemas legais do ‘braço direito’ de António Costa, agora demissionário, o bloquista considerou que “há, sobretudo, um problema de credibilidade política”, que classificou como “uma espécie de efeito dominó de disparates atrás de disparates, em que se percebe, no fim das contas, uma enorme fragilidade da decisão”.
“Deveria Miguel Alves sair porque era arguido? Acho que a ponderação política é que determina, não o facto circunstancial de ser arguido, até porque pode não ser acusado depois”, disse o comentador, complementando que “os 300 mil euros são fatais”.
Por seu turno, também a contratação de um jovem de 21 anos para as funções de adjunto no gabinete de Mariana Vieira da Silva já ‘fez correr muita tinta’. Na ótica de Louçã, este episódio poderá “ter efeitos ainda piores [na imagem do Governo]” do que a “trapalhada” de Miguel Alves, uma vez que Tiago Cunha nunca deu “nenhuma prova” e “é escolhido por uma circunstância de carreira política brevíssima”.
“Um jovem de 21 anos pode ser qualificadíssimo para ser assessor, ou até para ser ministro, não há uma barreira de idade. Agora, alguém que não tenha dado nunca nenhuma prova, e que é escolhido por uma circunstância de carreira política brevíssima, mostra uma vulnerabilidade na organização do poder a um circunstancialismo partidário, a uma cegueira, um fanatismo partidário que acho que, hoje, os jovens que procuram emprego ficarão perplexos com este mundo paralelo, esta realidade virtual que é a governação neste contexto”, esclareceu.
De notar que, numa resposta enviada ao Jornal de Notícias, o gabinete de Mariana Vieira da Silva ressalvou que a contratação de Tiago Cunha se baseou "na adequação do perfil do nomeado à natureza das funções do gabinete" e nota que "a filiação partidária no Partido Socialista nunca foi critério de recrutamento".
Contudo, Louçã é taxativo: “Os dois casos mostram o fechamento do Governo e a sua incapacidade de olhar para as exigências da sua sociedade”, rematou.
Recorde-se que o secretário de Estado Adjunto de António Costa, Miguel Alves, apresentou, esta quinta-feira, o seu pedido de demissão, depois de o jornal Observador ter avançado que o responsável foi acusado do crime de prevaricação pelo Ministério Público, no âmbito de uma certidão extraída do processo 'Operação Teia', informação que foi, posteriormente, confirmada pelo Notícias ao Minuto junto da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Tanto o primeiro-ministro, como o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, aceitaram a exoneração de Miguel Alves, que considerou "não estarem reunidas as condições que permitam" a sua permanência no Governo.
À agência de notícias Lusa, fonte judicial revelou que em causa estão contratos adjudicados pelo município de Caminha para, alegadamente, favorecer uma empresa de comunicação de Manuela Couto, mulher do ex-autarca de Santo Tirso Joaquim Couto, durante o período em que Miguel Alves era presidente da autarquia.
Além disso, o responsável tem estado debaixo de fogo devido a um outro processo que está a ser investigado pelo Ministério Público, que se prende com a construção de um Centro de Exposições Transfronteiriço em Caminha, no distrito de Viana do Castelo.
O jornal Público noticiou, a 26 de outubro, que a autarquia de Caminha fez um "adiantamento duvidoso" de 300 mil euros para o projeto em questão, autorizado pelo agora secretário de Estado Ajunto demissionário, quando liderava aquele município.
Segundo o mesmo meio, o pagamento foi feito pela autarquia em março de 2021 a uma empresa desconhecida e associada ao empresário Ricardo Moutinho, um investidor com um alegado currículo falsificado.
Também o semanário Expresso noticiou que a empresa em questão, a Green Endogenous, S. A., faz parte de um grupo de investimento que foi "criado na hora", conforme avançou a edição de 28 de outubro.
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