Alexandra Reis, a agora ex-secretária de Estado do Tesouro, acedeu a um pedido do ministro das Finanças, Fernando Medina, e demitiu-se, esta terça-feira, na sequência da polémica em que está envolvida - devido a uma indemnização de meio milhão de euros que recebeu após ter saído da TAP.
As reações dos partidos não se fizeram esperar, com o PSD a considerar, pela voz do 'vice' Miguel Pinto Luz, que Governo confunde "maioria absoluta com poder absoluto".
O social-democrata disse ainda tratar-se de "mais um caso em que os esclarecimentos nada esclarecem" e em que "as responsabilidades superiores são sacudidas para debaixo do tapete", nomeadamente do ministro das Finanças, Fernando Medina, e das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, "que assobiam para o lado e dizem nada saber". "Como se um não tivesse a tutela da TAP e o outro não tivesse a própria Alexandra Reis como sua secretária de Estado", ironizou.
Solicitei à Eng.ª Alexandra Reis que apresentasse o seu pedido de demissão como secretária de estado do Tesouro, o que foi por esta prontamente aceite. (1/4)
— Fernando Medina (@F__Medina) December 28, 2022
Já a deputada do Bloco de Esquerda (BE) Mariana Mortágua considerou, esta quarta-feira, que a saída da agora ex-secretária de Estado do Tesouro, Alexandra Reis, do Governo "peca por tardia", uma vez que a nomeação "não devia ter acontecido". "A saída da secretária de Estado era inevitável", começou por afirmar no seu espaço de comentário na CNN Portugal.
Em declarações à agência Lusa, a parlamentar considerou que o caso é revelador de "enormes problemas de gestão e na tutela da TAP". "As contradições e o problema de legitimidade política estava à vista", disse, acrescentando: "Uma pessoa que recebe um prémio milionário para sair de uma empresa pública, ainda mais uma empresa que está com dificuldades, não pode depois integrar um Governo que, por seu turno, está a condenar os portugueses a cortes reais nos seus salários, impedir a atualizações salariais à inflação, impor perdas reais das pensões. Isto cria uma contradição política de fundo".
Demissão "não surpreende" e era "inevitável"
Pelo PCP, Jorge Pires defendeu hoje que o fundamental é impedir que haja mais "indemnizações chorudas" em empresas públicas. Em declarações à agência Lusa, o dirigente considerou que a demissão de Alexandra Reis "não surpreende" e realçou que "não apaga" o facto de ter recebido 500 mil euros ao cessar funções na TAP em fevereiro deste ano.
Para os comunistas, empresas de capitais públicos "não podem ter indemnizações deste valor" e "a questão central agora é impedir que isto volte a acontecer no futuro". "Esta demissão não apaga questões que nós temos vindo a denunciar, desde logo o facto de se ter aplicado na TAP, uma empresa pública, os mesmos critérios que consideramos obscenos e que são prática nos grupos económicos e financeiros de indemnizações chorudas aos gestores que saem das empresas", afirmou Jorge Pires.
A porta-voz do partido PAN, Inês de Sousa Real, defendeu hoje que a demissão da secretária de Estado do Tesouro, Alexandra Reis, embora "inevitável", "não resolve os problemas de fundo" na gestão da TAP.
"A demissão de Alexandra Reis, apesar de inevitável, não resolve os problemas de fundo no modo como a TAP e os seus recursos têm sido geridos, a começar pela opacidade da gestão numa empresa intervencionada com dinheiros públicos, num total de 3,2 mil milhões de euros", escreveu Inês de Sousa Real na sua conta oficial no Twitter, pelas 00h15 de hoje, pouco depois de ter sido anunciado que Alexandra Reis tinha apresentado o pedido de demissão, solicitado pelo ministro das Finanças, Fernando Medina.
A demissão de Alexandra Reis, apesar de inevitável, não resolve os problemas de fundo no modo como a TAP e os seus recursos têm sido geridos, a começar pela a opacidade da gestão numa empresa intervencionada com dinheiros públicos, num total de 3,2 mil milhões de euros. (cont.)
— Inês de Sousa Real (@lnes_Sousa_Real) December 28, 2022
Por fim, a líder da Iniciativa Liberal (IL) considerou que a demissão da secretária de Estado do Tesouro "não resolve o problema" e que há explicações que têm de ser dadas pelo Governo, apontando responsabilidades ao ministro Pedro Nuno Santos. "A saída não resolve o problema porque há questões do próprio acordo de saída de Alexandra Reis da administração da TAP que não estão esclarecidas", disse João Cotrim Figueiredo à agência Lusa.
O ainda presidente da IL apontou que "este caso está no princípio" e defendeu que "há explicações que a CEO da TAP ainda tem que vir dar e há sobretudo explicações que o ministro Pedro Nuno Santos e o ministro Fernando Medina têm que dar, não eximindo aqui de responsabilidades o primeiro-ministro que, como sempre, esperou até saber de onde é que o vento estava a soprar, para tomar uma posição".
De recordar que Alexandra Reis esteve envolvida, nos últimos dias, numa polémica relacionada com a TAP, após o Correio da Manhã ter noticiado no sábado que esta recebeu uma indemnização no valor de 500 mil euros por sair antecipadamente do cargo de administradora executiva da companhia aérea portuguesa, quando ainda tinha de cumprir funções durante dois anos.
Meses depois, foi nomeada pelo Governo para a presidência da Navegação Aérea de Portugal (NAV), de onde saiu para integrar o executivo liderado por António Costa.
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