Em entrevista à agência Lusa no âmbito da V Convenção Nacional do partido, que decorre entre sexta-feira e domingo, em Santarém, o líder do Chega e recandidato para mais um mandato afirmou que este será um momento de "clarificação de águas" em relação ao futuro.
"Se não houver oposição [a concorrer à liderança do partido], então eu acho que podemos centrar o Congresso mais no que é que queremos para o futuro e como é que vamos passar do partido do protesto que elegeu um deputado ao partido que agora tem doze deputados e quer ser governo", afirmou.
André Ventura considerou que esta convenção "é muito importante" porque é a primeira desde que o partido conseguiu eleger 12 deputados e formar um grupo parlamentar, mas também porque "provavelmente é a última antes das próximas eleições".
"E se houver eleições gerais, vamos aceitar um entendimento com o PSD ou não? Em que moldes? É isto que este congresso tem de decidir, porque teoricamente, se tudo correr bem, não há outro antes das eleições gerais, das várias eleições que temos pela frente", afirmou, defendendo que o Chega tem de se "preparar bem" e definir como se vai apresentar aos eleitores.
O líder do Chega ressalvou que a decisão caberá à convenção, mas adiantou que vai propor aos delegados "não aceitar uma geringonça à direita", sustentando que "é um erro reproduzir o modelo" do acordo que vigorou na última legislatura entre PS, PCP, BE e PEV.
"A geringonça mostrou, aliás, a sua própria fragilidade. Quando os partidos sentem que simplesmente estão lá para levantar o braço e para baixar, mas não são corresponsáveis com a governação, o que acontece foi o que vimos, um governo desmoronar-se, que acabou por cair em outubro de 2021. Portanto, eu, se o congresso me der o poder de decidir, eu nunca escolheria ir para uma geringonça à direita", salientou.
André Ventura defendeu que "os partidos que se comprometem com o governo, têm que se comprometer totalmente e até ao fim".
"Uma solução de governo em que todos garantam a sua diferença, a sua especificidade, mas que todos são corresponsáveis pelas soluções, porque aí cria-se um sentimento de solidariedade institucional, e não cada um a tentar caçar votos por si e sem se preocupar com o país e o governo cai ao fim de um ano ou de dois ou de três", declarou.
O líder do Chega indicou que vai propor que o partido recuse este tipo de acordo na Região Autónoma da Madeira mas também nos Açores, onde o Chega assinou um acordo de incidência parlamentar.
Antecipando que o Chega vai tentar formar governo sozinho, mas reconhecendo que isso é "muito complicado, muito difícil", Ventura referiu que, se não for possível, o objetivo será "governar com um entendimento alargado, mas com peso predominante no Chega".
André Ventura afirmou que o partido deverá "procurar entendimentos que levem a um governo alargado em que o Chega tenha que ter um papel preponderante, seja isso o que for".
Instado a clarificar, o presidente e candidato indicou que o partido deverá integrar um eventual governo, "com ministérios, e com um papel preponderante nas decisões fundamentais".
No entanto, apontou que o resultado que o Chega alcançar nas próximas eleições legislativas será "muito importante", porque definirá a margem negocial.
E defendeu que os eleitores, "quando forem votar, têm que perceber com clareza o que é que estão a votar, e que soluções é que há", sustentando que nas últimas eleições legislativas, houve "muitos [eleitores] que se calhar até votariam Chega ou PSD", mas "sentiram que o PS era o único que oferecia uma garantia de estabilidade", André Ventura.
"Eu acho que isso foi um trunfo de António Costa que nós não soubemos perceber a tempo e deu numa maioria absoluta que, como se está a ver, é um desastre para o país", concluiu.
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