"O meu conselho ao PS é que pare de falar de maioria absoluta e que governe como se não a tivesse. Até sabendo que em caso de necessidade tem uma maioria parlamentar, deve usar isso como oportunidade para falar com todos os partidos, para falar com a sociedade civil, com as autarquias, com a concertação social, com os sindicatos -- agora, mesmo na questão do ensino - tendo até orgulho na negociação sindical porque essa é uma mensagem importante para o país e não estar sempre a mencionar a maioria absoluta como se ela fosse uma espécie de abracadabra que resolve todos os problemas quando, na verdade, até os agrava", defendeu.
Em declarações à agência Lusa a propósito do primeiro ano de maioria absoluta que se cumpre na segunda-feira, o dirigente do Livre defendeu que o Governo está a atravessar "uma crise" que "tem uma característica muito particular, é que ela é interna ao Governo, e o Governo só se pode culpar a si mesmo por esta crise", referindo-se aos casos que foram sendo conhecidos ao longo das últimas semanas envolvendo vários membros do executivo.
"Tem a ver com um excesso de confiança por causa da maioria absoluta, tem a ver com um défice de coordenação política e, eventualmente, até de liderança ao nível do Governo, e tem a ver até com a falta de alguns mecanismos básicos de escrutínio interno do Governo", assinalou.
Tavares considerou que durante este ano houve alturas em que existiram negociações e "um diálogo produtivo" com o Livre, como por exemplo no Orçamento do Estado.
"Mas por outro lado também se viu muitas vezes aqui no parlamento, nomeadamente quando o Governo perdeu o controlo à agenda política e se viu acossado por estes casos - mais uma vez digo, só se pode culpar a si mesmo - o que aconteceu foi que aí o PS reagiu, virando-se para si próprio e usando a maioria absoluta algumas vezes de forma excessiva, mas acima de tudo repetindo muitas vezes o discurso da maioria absoluta, como se fosse uma forma de encontrar um certo reconforto", disse.
Rui Tavares, figura mais destacada do Livre, apesar de o partido não ter um líder eleito, recordou que há um ano bateu-se "contra uma maioria absoluta" pois "seria um retrocesso para o país" e defendeu que este ano lhe deu "ainda mais razão", porque "talvez não fosse tão previsível que um Governo de maioria absoluta se fosse revelar ser o Governo mais instável dos três governos de António Costa".
Em 30 de janeiro de 2022 o PS venceu as eleições legislativas antecipadas com maioria absoluta e elegeu 120 deputados, tendo o PSD ficado em segundo lugar, com 77 parlamentares. O Chega conseguiu a terceira maior bancada, com 12 deputados, seguindo-se a Iniciativa Liberal, com oito, o PCP, com seis, o BE, com cinco, o PAN, com um, e o Livre, também com um.
Devido à repetição de eleições no círculo da Europa, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, apenas deu posse ao XXIII Governo Constitucional, o terceiro chefiado por António Costa, em 30 de março de 2022.
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