André Ventura visitou hoje algumas ruas do bairro da Mouraria, incluindo aquela onde se situa a casa onde morreram recentemente dois imigrantes num alojamento sobrelotado, e tanto tirou 'selfies' com os imigrantes que lhe foram pedindo -- apesar de alguns, depois questionados pelos jornalistas, não saberem de quem se tratava -- como ouviu insultos e acusações de "fascista" em português.
No final, em declarações aos jornalistas, o líder do Chega explicou que esta visita teve como objetivo "ver de perto uma zona da cidade onde a imigração é preponderante" e os problemas quer relacionados com a habitação, quer com a própria entrada de cidadãos estrangeiros.
Questionado sobre os recentes apelos do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ao bom senso sobre este tema, André Ventura afirmou concordar por se tratar de "uma matéria socialmente explosiva".
"Mas, ao mesmo tempo, o Presidente da República tem noção de que a direita tem de clarificar de uma vez por todas a sua posição sobre a imigração. Não pode ser apenas para ficar bem na fotografia ou ser politicamente correto", afirmou.
Por isso, reiterou o apelo ao PSD -- considerando que a IL "não é de direita" - para esse consenso na política de imigração de que "Portugal deve ser um país que acolhe bem os imigrantes", mas frisando, por oposição à esquerda, que tal não significa "portas completamente abertas e entradas de qualquer maneira".
"Tem de se verificar o cadastro de quem tem vem para Portugal, quem tem contrato de trabalho - excluindo situações de asilo político ou de quem foge de guerra como a da Ucrânia ou outras. Em termos de migrantes económicos, tem de haver um consenso à direita cada vez maior que é uma questão de bom senso que não pode entrar qualquer pessoa de qualquer maneira", afirmou.
André Ventura recuperou a expressão utilizada recentemente pelo presidente do PSD, Luís Montenegro - de que Portugal deve "procurar pelo mundo as comunidades que possam interagir melhor connosco" --, dizendo arriscar "ir um pouco mais longe".
"Temos de ter especial cuidado com algumas zonas do mundo de onde podem vir problemas muito sérios nos próximos anos", afirmou, dizendo estar a referir-se a "zonas onde há presença de extremismo islâmico muito forte" e referindo que esta situação já está a causar "problemas muito sérios em países como a França e a Alemanha".
Ventura acrescentou que a entrada, sem controlo, de cidadãos de países como o Paquistão ou o Afeganistão pode vir a causar no futuro "problemas de segurança" a Portugal, referindo que tal está sustentado em relatórios de agências de informação internacionais.
Minutos antes, durante o breve passeio por algumas ruas da Mouraria -- com alguns polícias a acompanhar à distância a iniciativa partidária -- André Ventura foi cumprimentado e retribuiu os acenos e cumprimentos de vários imigrantes e acedeu a todos os pedidos para tirar fotografias com eles.
Questionado porque não lhes disse, olhos nos olhos, que não eram bem-vindos em Portugal, o líder do Chega replicou que não conhece a situação particular de cada um.
"Uns terão vindo por bem para trabalhar, mas quem tenha estado aqui e esteja em situação de ilegalidade, tenha vindo para obter subsídios ou cometer crimes não são bem-vindos, mesmo que me tenham cumprimentado a minha mensagem é essa", disse.
Já sobre a intenção do Governo regularizar cerca de 300 mil imigrantes até final de março, o líder do Chega disse ser necessário analisar caso a caso, apoiando esse processo para "pessoas que têm o seu contrato de trabalho e têm a situação regularizada por força de atrasos burocráticos, já vivem cá e são parte da comunidade".
"Quem está de forma ilegal e insistir de forma ilegal, deve ser expulso do território português", acrescentou.
No final das longas declarações à comunicação social, com muitos cidadãos imigrantes a assistirem e a filmarem, Ventura voltou a tirar fotografias e 'selfies' e até prometeu a alguns, em inglês: "No próximo verão, vou ao Bangladesh".
A maioria dos imigrantes que pediram a Ventura para tirar fotografias com eles disseram ser deste país, exceto dois, que questionados pelo líder do Chega se vinham do Balngladesh, responderam ser canadianos e perguntaram-lhe quem era.
Os jornalistas explicaram depois que se tratava do líder do maior partido de extrema-direita em Portugal, tendo um deles respondido: "Ah, isso não é assim tão bom".
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