Louçã elogia Catarina Martins e a "personalidade raríssima" de Mortágua
O fundador bloquista Francisco Louçã destaca um "amadurecimento muito grande" do BE e a capacidade de "unificar o partido" de Catarina Martins, apoiando Mariana Mortágua para a liderança, "uma personalidade raríssima na política portuguesa".
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Política BE
Na Convenção Nacional do BE do final de maio, o partido vai mudar de liderança depois da decisão de Catarina Martins deixar de ser coordenadora e, em entrevista à agência Lusa, o fundador e antigo líder bloquista elogia o "trabalho extraordinário" que "provou que uma mulher podia afirmar-se na política entre as maiores personalidades da vida pública portuguesa".
"[Catarina Martins] mostrou que sabia correr riscos, tomar decisões, conduzir o partido, unificar o partido, mobilizar a esquerda, ser uma voz de referência para setores populares muito amplos, ter uma capacidade de diálogo extraordinário. Tenho para com ela uma dívida enorme, como acho que muita gente tem", sublinha.
Assumindo um apoio formal a Mariana Mortágua nesta corrida, Francisco Louçã refere que subscreveu a moção que a deputada lidera e que tem, entre outros, os nomes de Catarina Martins, Marisa Matias ou Pedro Filipe Soares.
"Creio que é uma personalidade raríssima na política portuguesa. É raríssimo ver uma pessoa tão jovem e com uma história tão densa de capacidade profissional, política e humana. E isso não se encontra nem com uma candeia", elogia quando questionado se Mariana Mortágua é a pessoa certa para liderar agora o partido, apesar de recusar precipitar-se sobre a decisão que será tomada na reunião magna de 27 e 28 de maio, em Lisboa.
O antigo líder do BE assume que foi muito crítico da corrida eleitoral interna de 2014 "e o que aconteceu depois disso foi a prova de que houve um amadurecimento muito grande porque as forças que estavam em disputa nessa cimeira de 2014 constituíram em conjunto uma direção sólida".
"A cooperação, o trabalho, a dedicação, o peso de pessoas como Pedro Filipe Soares, Marisa Matias, ao lado da Mariana Mortágua e da Catarina Martins e de muitas outras pessoas - não vou fazer nenhuma listagem -, foi a prova de que é assim que se faz uma esquerda", disse.
Para Louçã, a esquerda não se faz "com pessoas que obedecem a uma doutrina ou que seguem uma determinada espiritualidade", mas "por pessoas que são diferentes, têm razões diferentes, que olham de formas diferentes para a realidade".
"O que divide um partido não é haver duas, ou três, ou quatro ou cinco opiniões diferentes, ou listas diferentes, o que divide é quando uma direção não sabe o que quer ou não é capaz de se entender sobre o seu trabalho, e creio que hoje a direção do BE tem uma maturidade e uma preparação", sustenta.
Na saída de Catarina Martins, o fundador bloquista considera que ela "tem idade para ter muita intervenção pública e cultural na sociedade portuguesa" e deixa um desejo: "que tenha um papel determinante, muito mais do que o meu, no futuro do Bloco de Esquerda".
"Catarina Martins, que foi a heroína das eleições de 2015, soube ter a coerência, correr o risco, pagou esse risco. O Bloco de Esquerda pagou esse risco de não aceitar não fazer um acordo suficiente ou fundamental com o orçamento para 2022", refere.
O "preço da coerência" foi uma derrota nas eleições legislativas, mas para Louçã "a coerência é essencial", considerando que a comunidade precisa de saber que "têm pessoas que não cedem perante lugares ou que não cedem perante facilidades".
"Agora, não há nisso nenhum preço da geringonça. A geringonça é um ativo da história do Bloco de Esquerda, é um orgulho da história do Bloco de Esquerda. Foi importantíssimo que assim acontecesse", defende, apesar do "erro" que foi o PCP ter recusado que os parceiros da geringonça se sentassem todos à mesma mesa de negociação.
Sobre a possibilidade de uma nova solução deste género no futuro, Louçã afirma que não é útil especular sobre cenários, defendendo que "hoje a força da esquerda é a oposição".
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