"Aquilo que estamos a assistir é indecoroso, é a evidência de que o PS usa as empresas públicas para benefício do próprio partido, que não sabe distinguir aquilo que é gestão pública da gestão partidária, vemos a TAP envolvida em guerras internas do PS e tudo isto é inaceitável, indecoroso e António Costa tem muito mais para explicar do que aquilo que explicou até agora", criticou Rui Rocha, em declarações à agência Lusa.
Segundo o líder da Iniciativa Liberal (IL), o facto de o primeiro-ministro, em resposta à Lusa, ter considerado gravíssimo o e-mail que Hugo Mendes enviou à presidente executiva da TAP sobre o chefe de Estado e ter afirmado que teria obrigado à sua demissão na hora, é uma tentativa de se tentar esconder "atrás de um secretário de Estado que já estava demitido".
"Aquilo que foi evidenciado nas audições da comissão de inquérito é muito mais profundo e muito mais vasto do que aquilo que resulta do sacrifício de um secretário de Estado demitido", enfatizou, considerando que "António Costa tinha prometido aos portugueses uma companhia de bandeira" e o que se vê "é uma companhia de bandalheira política".
Para Rui Rocha, o primeiro-ministro "demorou muito a falar e aquilo que faz agora evidencia é a ausência de assumir responsabilidades relativamente a tudo o resto", considerando que o chefe do executivo "está, desde há vários dias, a ser cilindrado na opinião pública".
"Perante essa incapacidade de controlar a agenda mediática, tentou agora fazer uma manobra de diversão, sacrificando alguém que já estava demitido, mas há muito mais para explicar e cada dia, cada hora que passa sem que António Costa venha explicar tudo o que aconteceu na TAP é mais uma hora em que António Costa fica a dever explicações aos portugueses", enfatizou.
Para além do e-mail com um pedido para adiar uma viagem da TAP para "agradar ao Presidente da República" também há explicações a dar sobre a "reunião secreta envolvendo membros de ministérios, deputados do PS e assessores" no dia anterior à audição da presidente executiva da TAP, defendeu o presidente da IL.
"E uma outra questão que é ter havido dois ministros do Governo de António Costa - Fernando Medina e Pedro Nuno Santos - que pediram esclarecimentos à TAP sabendo-se agora que esses esclarecimentos foram preparados com a participação de Hugo Mendes. Ou Pedro Nuno Santos mentiu a Fernando Medina, ou Fernando Medina sabia de tudo também e esteve envolvido em toda esta 'marosca' e, portanto, António Costa não pode agora sacrificar alguém que já estava demitido para tentar aliviar as suas responsabilidades", insistiu.
António Costa referiu hoje à Lusa que "não conhecia" esse e-mail "e, se tivesse conhecido, teria obrigado o ministro [das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos] a demiti-lo [o então secretário de Estado], na hora".
"É gravíssimo do ponto de vista da relação institucional com o Presidente da República e inadmissível no relacionamento que o Governo deve manter com as empresas públicas", acentuou.
Na terça-feira, na comissão parlamentar de inquérito sobre a TAP, o deputado da Iniciativa Liberal Bernardo Blanco confrontou Christine Ourmières-Widener com uma troca de e-mails com o então secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Mendes, sobre uma eventual mudança de data de um voo que tinha como passageiro o chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa.
Nesse e-mail que dirigiu à presidente executiva da TAP, o ex-secretário de Estado das Infraestruturas Hugo Mendes argumentava que era importante manter o apoio político de Marcelo Rebelo de Sousa, considerando que era o "principal aliado" do Governo mas que poderia tornar-se o "pior pesadelo".
No dia seguinte à audição, a Presidência da República afirmou, através de uma nota escrita, que nunca contactou a TAP nem nenhum membro do Governo para uma mudança de um voo de regresso de Moçambique em março de 2022.
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