A antiga deputada não inscrita Joacine Katar Moreira reagiu, esta quarta-feira, ao adiamento do julgamento de Mamadou Ba, cujo início estava previsto para hoje.
"Toda a minha solidariedade para com Mamadou Ba! Toda", começou por escrever numa publicação partilhada no Twitter.
"Sem mas. Podia ser eu ali, no banco dos réus, acusada por racistas", rematou Katar Moreira, que começou por ser eleita, em 2019, pelo Livre, mas que depois, devido a divergências com o partido se tornou em deputada não inscrita. Atualmente, o Livre tem um deputado único na Assembleia da República, Rui Tavares.
O julgamento do ativista foi adiado juntamente com todas as outras sessões que estavam previstas para hoje, de acordo com fonte do Tribunal Local Criminal. Estes adiamentos prendem-se com a greve convocada pelo Sindicato dos Funcionários Judiciais, que se iniciou hoje e se prolonga até 5 de maio.
O ex-dirigente do Bloco de Esquerda ia hoje começar a ser julgado por difamação, publicidade e calúnia, num processo colocado pelo militante neonazi Mário Machado, e no qual conta com a ex-ministra Francisca Van Dunem como testemunha.
Em 27 outubro passado, foi tornado público que o ativista ia a julgamento por difamação do ex-dirigente do movimento "Hammerskins Portugal" Mário Machado, após decisão do juiz de instrução criminal Carlos Alexandre, que proferiu um despacho de pronúncia para julgamento em tribunal singular "nos exatos termos" da acusação do Ministério Público (MP).
O despacho de pronúncia (ida a julgamento) refere que Mamadou Ba "nem sequer veio provar a verdade dos factos", observando que se o arguido tiver conhecimento de crimes praticados por Mário Machado, que os denuncie "no lugar próprio", ou seja, na polícia ou no Ministério Público.
"O que não pode é substituir-se aos tribunais e invocar o direito de liberdade de expressão", concluiu o juiz de instrução criminal, a propósito de o arguido ter em 2020 apelidado nas redes sociais Mário Machado de "assassino" do cabo-verdiano Alcindo Monteiro, morto em Lisboa, em junho de 1995, por elementos de um grupo de "skinheads".
Mário Machado estava ligado àquele grupo, mas não foi condenado por homicídio no julgamento pela morte de Alcindo Monteiro, razão pela qual decidiu apresentar queixa-crime contra Mamadou Ba por difamação, publicidade e calúnia.
O juiz Carlos Alexandre justificou ainda a sua decisão por entender que Mário Machado já respondeu na justiça por esse caso, questionando: "Pode uma pessoa carregar um anátema toda a vida imputando-se-lhe a participação, a qualquer título, num homicídio, cujo feito já foi introduzido em juízo e objeto de aturado julgamento e com acórdão do STJ, onde é absolvido desse concreto crime, mas condenado por outro? E chamar a isso liberdade de expressão?"
No debate instrutório realizado em outubro, Isabel Duarte, advogada de defesa do premiado com o Front Line Defenders, distinção atribuída a ativistas de direitos humanos em risco, pela sua dedicação à luta antirracista, alegou que neste caso "não há honra suscetível de ser ofendida", acrescentando não compreender os factos imputados ao ativista antirracista pela acusação particular (e que foi acompanhada pelo Ministério Público).
Entre as testemunhas arroladas pela defesa estão, além de Francisca Van Dunem, a diplomata e socialista Ana Gomes, o ex-líder do BE Francisco Louçã, o sociólogo Boaventura de Sousa Santos, o deputado e líder do Livre Rui Tavares, o ex-deputado Miguel Vale de Almeida e os jornalistas Diana Andringa, Daniel Oliveira e Paulo Pena, entre outros.
A ex-ministra Francisca Van Dunem, juíza conselheira jubilada, deporá por escrito, tendo a defesa de Mamadou Ba, a cargo de Isabel Duarte, indicado ainda testemunhas que se vão pronunciar sobre os factos, sobre a personalidade do arguido e sobre o texto que motivou a queixa.
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