Hugo Carneiro, deputado do PSD, confirmou, esta terça-feira, que foi alvo de buscas por parte da Polícia Judiciária (PJ), tendo garantido que colaborou "totalmente" com as autoridades.
"Confirmo que hoje fui alvo de buscas, quer na minha residência arrendada em Lisboa, quer na minha residência do Porto. Colaborei totalmente com o Ministério Publico (MP) e a Polícia Judiciária, facultando os documentos que me pediram e as 'passwords' e [códigos] 'PIN' dos telemóveis e computadores que me foram solicitados", afirmou o social-democrata, que tinha o pelouro financeiro na anterior direção liderada por Rui Rio, numa declaração aos jornalistas a partir do Parlamento.
Reiterando que irá continuar a colaborar com as autoridades "ao longo do processo", Hugo Carneiro admitiu que já "esperava há muito tempo que isto pudesse acontecer", tendo em conta que "praticamente todos os colaboradores", tanto do grupo parlamentar, como do partido, "há muitos meses" foram "chamados" ao MP e à PJ para "prestar declarações", num processo que foi noticiado em 2020 pela revista Sábado.
"Respeito o trabalho do Ministério Público e da Polícia Judiciária, estão a fazer o seu papel, e eu respeito. A única coisa que eu devo pedir é que o processo possa avançar nos termos que o MP e a PJ entenderem, o mais depressa que puderem", frisou.
Interrogado sobre se tinha sido constituído arguido, Hugo Carneiro revelou que tal não lhe foi "indiciado".
"Como sabem os titulares de órgãos de soberano, existe um procedimento próprio relativamente a essa matéria, da constituição de arguido. Não me foi indiciado que iria ser constituir, mas se o Ministério Público pedir ao Parlamento o levantamento da minha imunidade para eu prestar os esclarecimentos que forem necessários, obviamente que eu estou cá para prestar contas sobre aquilo que fiz e a defesa do interesse público que sempre pautou a minha atuação", afirmou.
"A minha atuação sempre foi pautada pela defesa do interesse público, julgo que é reconhecido que sempre tivemos a preocupação no PSD, quando tinha estas funções, de transmitir o máximo rigor nas contas e situação financeira do PSD", assegurou o também vice-presidente da bancada social-democrata.
Do auto de busca, disse, constam referências a eventuais crimes de peculato, abuso de poder e prática de crimes por titulares de cargos políticos. O deputado salientou ainda que o processo nasceu de "denúncias anónimas feitas ao Ministério Público" por colaboradores do partido e assegurou não ter falado com o ex-presidente do PSD, Rui Rio, também alvo de buscas no mesmo processo.
Questionado diretamente se tinha conhecimento de que haveria funcionários do partido pagos com verbas do grupo parlamentar, como noticiou a CNN (que acompanhou as buscas), Hugo Carneiro disse já ter transmitido à comunicação social o que queria dizer por hoje.
"Há muitas coisas que constarão do processo que desconheço, a seu tempo irá desenvolver-se e o que me for questionado, não deixarei de responder", afirmou, dizendo estar sereno perante esta investigação, uma vez que sempre "defendeu o interesse público".
Recorde-se que a PJ informou que foram realizadas 20 buscas, das quais 14 domiciliárias, cinco a instalações do PSD e uma a instalações de um revisor oficial de contas, dispersas pela zona da Grande Lisboa e na região norte do país.
"Está em causa a investigação à utilização de fundos de natureza pública, em contexto político-partidário, existindo suspeitas da eventual prática de crimes de peculato e abuso de poderes (crimes da responsabilidade de titulares de cargos políticos), a factos cujo início relevante da atuação se reporta a 2018", indicou a autoridade, em comunicado.
A operação foi levada a cabo pela Unidade Nacional de Combate à Corrupção e acompanhada por seis procuradores do MP e um juiz de instrução criminal, além de outras divisões e unidades da PJ, com um total de "cerca de 100 inspetores e diversos peritos informáticos e financeiros".
Por último, a PJ adiantou que a investigação vai continuar com um "exame integral" das provas recolhidas, num inquérito que está entregue ao Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) Regional de Lisboa - que também já publicou nota sobre a investigação.
A informação sobre esta operação da Judiciária começou por ser avançada pela CNN, que adiantou que as buscas, que visavam o antigo líder social-democrata Rui Rio, se estendiam ainda a outros dirigentes e funcionários do PSD - como Hugo Carneiro.
Segundo a estação televisiva, as buscas visavam um alegado uso indevido de dinheiros públicos na anterior gestão do partido, através de verbas da Assembleia da República definidas para a assessoria dos grupos parlamentares e que seriam utilizadas para pagar funcionários do partido que não trabalhariam no parlamento.
Entretanto, o PSD assegurou também que "prestará toda a colaboração" com a justiça e informou que, segundo as autoridades, a investigação abrange o período de 2018 a 2021, anos em que Rui Rio era presidente do partido.
[Notícia atualizada às 15h27]
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