O líder do Partido Comunista Português (PCP), Paulo Raimundo, disse, esta quinta-feira, que "o único responsável por como acabou o ano letivo e como começará o próximo é o Governo".
Após o Presidente da República ter vetado o decreto do Governo sobre a progressão na carreira docente, Raimundo disse, em entrevista à CNN Portugal, que a luta dos professores, que reivindicam a reposição do tempo integral de serviço, é "uma luta justíssima".
"É uma boa altura para voltar a relembrar que os professores, por iniciativa própria, fizeram um plano de faseamento. O Presidente da República, verdade seja dita, tem vindo a alertar que era preciso encontrar uma solução para este problema", realçou ainda.
O líder comunista alertou ainda para "a falta de atração da profissão de professor", devido ao "desrespeito e indignidade do poder político face aos profissionais".
"Se há alguém empenhado na educação dos alunos, na forma como evoluem, são os professores. Portanto, não serão eles que criarão dificuldades à aprendizagem e à escola pública. O Governo é que está a criar essas dificuldades", disparou ainda Raimundo.
"Houve muita gente que se sentiu na necessidade de dar maioria absoluta ao PS e que hoje não o faria"
O Governo "tem uma maioria absoluta e meios financeiros que se gaba de ter como nunca teve", realçou o líder comunista, lamentando que, assim, "uma parte dos seus problemas são da sua responsabilidade". "Pode-se dizer que não estamos em condições de resolver tudo de um momento para o outro. É possível, mas é preciso traçar um caminho de resolução dos problemas", pediu ainda.
Confrontado com um futuro pouco risonho nas mais recentes sondagens e estudos de opinião, em que o PCP surgiria com menos votos do que o PAN, nalguns casos, Paulo Raimundo mostrou-se pouco afetado por essa realidade, e argumentou: "Os estudos de opinião e sondagens não têm corrido muito bem, aqui e em Espanha tem sido um bocadinho ao lado. Hoje é uma evidência que houve muita gente, por razões diferentes, que se sentiu na necessidade de dar maioria absoluta ao PS e que hoje não o fariam. No debate político perde-se muito tempo a debater quando cai ou não o Governo, mas o que as pessoas, todos os dias, se preocupam, é como é que resolvem os problemas deles."
Paulo Raimundo deixou ainda uma questão na direção do Executivo, atirando: "Porque é que o Estado não avança, como durante a [pandemia de] Covid-19, com uma moratória durante dois anos? Qual é a dificuldade? A situação económica e social não é menos grave do que durante o período da Covid-19."
O líder comunista defendeu que é necessário atacar o aumento dos preços resultante da inflação internacional, bem como os baixos salários do país. Confrontado sobre a possibilidade de estar a "pregar no deserto", devido à aparente diminuição na intenção de voto que o PCP tem arrecadado, Paulo Raimundo assegurou que "há uma certa bolha e depois há a realidade da vida de todos os dias, das pessoas, dos baixos salários, das baixas pensões, o problema dos custos de vida", sendo que é nessa realidade que seguem as propostas do PCP.
"Pregaremos até onde for necessário com esse objetivo necessário. Não andamos cá para fazer jeitinhos aos grupos económicos", alertou, acusando "um certo bloqueio político".
Para Raimundo, "não é um problema entre esquerda e direita, mas sim entre opções que fazem com que haja políticas dirigidas para salvaguardar os interesses dos grupos económicos". Mais, o Governo liderado por António Costa é "um Governo que nas questões de fundo, quando é preciso optar pela maioria ou os grupos económicos, não tem vacilado" e "tem sido acompanhado em tudo isso, para além do teatro, quer pelo PSD, quer pelo Chega, quer pela IL", acusou o líder comunista, rematando: "Em tudo o que é fundamental, lá estão todos juntos."
Falar com Jerónimo sim, com o Papa, provavelmente não dará
Em jeito de conclusão, o secretário-geral do PCP afirmou que fala "praticamente todos os dias" com o seu antecessor, Jerónimo de Sousa, que está "firme" e "cheio de força". Com quem, no entanto, não augura conseguir chegar à fala é com o Papa Francisco, ainda que os comunistas vão marcar presença num contacto com o líder da Igreja Católica durante a sua vinda a Portugal para participar na Jornada Mundial da Juventude.
"Fomos convidados numa iniciativa institucional no próximo dia 2 [de agosto]. Julgo que não será possível chegar à fala com ele, mas vamos dizer 'Bem-vindo' e que ele não abdique de continuar, com toda a força que tem, nesta batalha fundamental pela paz, que é uma questão fundamental que se coloca ao mundo inteiro e é uma lição que o Papa dá", concluiu Paulo Raimundo.
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