As medidas anunciadas pelo Governo para os jovens continuam a não convencer e, na sexta-feira, a antiga dirigente social-democrata, Manuela Ferreira Leite, juntou-se ao coro de críticas e considerou que os apoios são "quase que ridículos".
A antiga ministra das Finanças, durante o Governo de Durão Barroso, disse, no seu espaço de comentário na CNN Portugal que as medidas não são suficientes e que o próprio tom do discurso do primeiro-ministro devia carregar consigo mais esperança e ambição.
"Na situação em que o país está, na situação em que sabemos como os jovens veem o futuro, devia haver um discurso de estímulo, de expectativas, de ambição, e para isso era necessário dizer mais alguma coisa do que dizer que 'isto está tudo muito mal mas eu dou aqui uma ajudinha'", referiu.
Manuela Ferreira Leite avisou que "os jovens não são enganáveis desta forma, nem as crianças", avisando o Governo que não é pelo pagamento retroativo das propinas que os jovens vão deixar de emigrar ou de procurar melhores condições de vida, face às dificuldades económicas que enfrentam no país.
"Se os jovens têm uma perspetiva de vida e acham que a sua vida se resolve se, durante dois anos e três baixarem os impostos (que pelos vistos nem atingem o rendimento para os receber), se acreditam nisso e não têm outro tipo de ambição, então realmente não vamos longe, mas não acredito que haja algum jovem tome uma decisão de não ir para fora, de não ir ganhar mais, de não ter outra perspetiva de vida ou ambição, só por causa de medidas desta natureza, porque elas são mais ou menos risíveis", acrescentou a comentadora, comparando ainda a medida das propinas a "um pacotinho de bombons".
Em alternativa, a antiga líder do PSD defende que "seria bom que [António Costa] tivesse falado de uma reforma fiscal", acrescentando que medidas pontuais "são quase que ridículas" e que, tendo em conta o rendimento médio dos licenciados e os impostos que pagam, esta é "uma dádiva absolutamente fantasiosa".
Na quarta-feira, durante um discurso na Academia do Partido Socialista, naquela que foi a rentrée política do PS, António Costa anunciou que as propinas serão devolvidas aos jovens que ficarem a trabalhar em Portugal, com cada ano de trabalho a resultar no pagamento de um ano de propinas, independentemente da duração da formação superior. Além disso, IRS Jovem vai mudar e, a partir de 2024, os jovens até aos 35 anos terão uma "total isenção de IRS no primeiro ano de trabalho"; foi ainda anunciado que vai-se manter o apoio ao alojamento para estudantes deslocados e o alargamento da gratuitidade dos passes para menores de 23 anos, de Lisboa para o resto do país.
A medida de devolução das propinas foi amplamente criticada por praticamente todos os partidos, à exceção do PS, e muitos jovens apontaram para o facto de o maior entrave ao ingresso no Ensino Superior público não ser o pagamento de 697 euros por ano, mas sim as enormes dificuldades que as famílias sentem para pagar o alojamento dos estudantes deslocados.
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