"São três partidos a sustentar um governo e especialmente um deles tem um programa partidário muito diferente dos outros dois, nomeadamente o PAN", disse o deputado, em entrevista à agência Lusa.
O líder do Chega, partido que elegeu quatro deputados nas eleições regionais de 24 de setembro e se estreia nas lides parlamentares madeirenses na legislatura 2023-2027, alertou, em particular, para a gestão das pastas da agricultura e das pescas, vincando que o programa do Pessoas-Animais-Natureza (PAN) tem "muitas reticências" nesses setores, bem como em relação a obras já projetadas, como o teleférico do Curral das Freiras e a asfaltagem da estrada florestal das Ginjas.
"São os temas que podem chocar com as diretrizes dos partidos mais à direita no Governo Regional", disse.
A coligação PSD/CDS-PP venceu as eleições legislativas regionais, mas ficou a um deputado da maioria absoluta (elegeu 23 num total de 47 que compõem o parlamento regional), tendo sido anunciado dois dias depois um acordo de incidência parlamentar com PAN, que conseguiu um mandato, viabilizando assim o terceiro executivo liderado pelo social-democrata Miguel Albuquerque.
"Em política, às vezes, o que é hoje, amanhã pode não ser. Vamos esperar, não desconfiando de ninguém", disse Miguel Castro, para depois reforçar: "Em democracia tudo é possível. Estamos à espera que seja um mandato democrático e se puder ser tranquilo e proveitoso para os madeirenses e porto-santenses é isso que desejamos".
O deputado do Chega, a quarta força mais votada nas regionais de 24 de setembro (12.029 votos -- 9,13%), destacou, por outro lado, o pluralismo que assinala a próxima legislatura, com nove forças políticas representadas no parlamento da Madeira -- PSD/CDS-PP (23 deputados), PS (11), JPP (cinco), Chega (quarto), CDU (um), IL (um), PAN (um) e BE (um).
"Em democracia, este pluralismo é saudável. As pessoas, o que fizeram foi precisamente passar um cartão amarelo-alaranjado à maioria PSD/CDS", disse, apontando a "confiança excessiva" de Miguel Albuquerque na obtenção de uma maioria absoluta como um dos fatores que penalizou a coligação.
Miguel Castro, que tem 50 anos e é funcionário público e empresário no setor da restauração e atividades turísticas, afirmou, por outro lado, que o líder do PSD e do Governo Regional procurou afastar os eleitores do Chega durante a campanha eleitoral, dizendo que o partido era antiautonomista, classificação que repudia.
"Obviamente que o Chega é um partido autonomista", declarou, para depois advertir: "Quanto mais hostilizarem o Chega, mais o Chega vai crescer. Quanto mais os outros partidos, as outras forças políticas, afastarem o Chega, mais o Chega tem razão de dizer que é um partido antissistema".
O deputado admitiu, por outro lado, que o seu grupo parlamentar poderia viabilizar os orçamentos do executivo PSD/CDS-PP, desde que não fossem despesistas nem prejudicais à economia regional e salvaguardassem os "interesses primários" da população, como o acesso à habitação.
"Nós estamos aqui não para brigar com os partidos, nem para fazer guerras partidárias. Nós estamos aqui para servir as pessoas. O Chega sempre disse que quer ser parte da solução e não do problema", explicou.
Em relação ao novo Governo Regional, que passa de dez para oito secretarias, Miguel Castro espera que seja efetivamente menos despesista, mas, por outro lado, coloca algumas reservas sobre a integração da Secretaria do Mar e Pescas na da Economia.
O deputado defende que as pastas da Saúde e da Educação devem ter um "orçamento robusto", mas questiona a continuação dos titulares, Pedro Ramos e Jorge Carvalho, respetivamente, afirmando que estes setores "têm sobrevivido mais à custa do desempenho dos seus profissionais do que dos secretários regionais".
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