Em declarações aos jornalistas no Palácio de Belém - onde Marcelo Rebelo de Sousa está hoje a ouvir os oito partido com assento parlamentar para uma eventual dissolução do parlamento, após a demissão do primeiro-ministro -, Rui Tavares defendeu que, caso Marcelo Rebelo de Sousa decida dissolver o parlamento e convocar eleições antecipadas, essas eleições devem ser "marcadas o mais rapidamente possível", apontando para o final de janeiro ou início de fevereiro.
"Não interessa ao país que se prolongue uma situação de incerteza e que estejamos muito tempo sem um parlamento democraticamente escolhido que clarifique os caminhos de futuro para o país", defendeu.
Questionado se considera importante que o Orçamento do Estado para 2024 seja aprovado em votação final global antes de Marcelo dissolver o parlamento, Rui Tavares disse que as negociações orçamentais estão neste momento "completamente esvaziadas", e não se vai conseguir negociar o Orçamento do Estado da maneira que "seria desejável".
"Portanto, desse ponto de vista, protelar à espera de fechar o Orçamento, não nos parece que introduza um grande ganho para o país", afirmou.
Já se o chefe de Estado optar por outro cenário, "dentro da maioria parlamentar que existe", Rui Tavares considerou que é também "muito importante" que Marcelo "comunique ao país com que critérios e de que formas é que o cenário poderia ser outro que não de eleições antecipadas".
Rui Tavares referiu que o Livre está "pronto para ir a eleições" e sublinhou que os dados indicam que o partido poderia passar de ter um deputado único para um grupo parlamentar.
"Portanto, não é certamente por falta de interesse partidário que o Livre enjeitaria eleições. Mas queremos pôr sempre o interesse do país à frente do interesse partidário", assegurou.
Caso haja eleições, o co-porta-voz do Livre disse que o seu partido se vai apresentar com "as ideias que são suas" e com "uma insistência muito grande na questão ambiental", e garantiu que o seu partido "fará tudo" para que a extrema-direita não beneficie com esse cenário.
Sobre a atuação da Justiça, Rui Tavares defendeu que todos os portugueses merecem conhecer "melhor os contornos" do caso que levou à demissão de António Costa e perceber porque é que o país passou de uma situação de rotina para algo "de absoluta excecionalidade política".
Para o co-porta-voz do Livre, um país que tem "normais relações entre órgãos de soberania" tem que ter "uma forma de relação com a cidadania que prime pela transparência, pela responsabilização".
"As coisas, em princípio, não se devem passar com um parágrafo num comunicado do gabinete de imprensa, sem nós sabermos se isso é meramente contingente - e se, portanto, não havia justificação para estarmos numa crise política como estamos - ou se, pelo contrário, existem razões", disse.
Questionado sobre quem é que deve explicações, Rui Tavares respondeu que "todas as pessoas diretamente envolvidas", mas considerou que não se deve "adivinhar nem antecipar".
"Creio que a senhora procuradora, o senhor primeiro-ministro, o senhor Presidente da República, todos nós deveríamos ter sentido de responsabilidade perante uma democracia que tem 50 anos, mas tem elementos de tensão, de preocupação e de fragilidade", referiu.
O Presidente da República está hoje a ouvir os oito partidos com assento parlamentar, antes de auscultar na quinta-feira o Conselho de Estado, para uma eventual dissolução do parlamento.
O primeiro-ministro, António Costa, apresentou na terça-feira a sua demissão ao Presidente da República, que a aceitou, após o Ministério Público revelar que é alvo de investigação autónoma do Supremo Tribunal de Justiça sobre projetos de lítio e hidrogénio.
Numa declaração no Palácio de São Bento, António Costa recusou a prática "de qualquer ato ilícito ou censurável" e manifestou total disponibilidade para colaborar com a justiça "em tudo o que entenda necessário".
[Notícia atualizada às 14h25]
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