Questionado pelos jornalistas se um hiato de quatro meses até às eleições de março não é "demasiado tempo", Miguel Albuquerque (PSD) concordou, mas sublinhou que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, "decidiu dissolver a Assembleia [da República] e fê-lo num quadro de alguma dificuldade".
Falando à margem de uma visita a uma empresa no Funchal, o presidente do executivo madeirense e líder do PSD/Madeira realçou que "a primeira dificuldade" prende-se com o facto de o PS não ter líder na sequência da demissão de António Costa.
"É preciso dar tempo para a escolha de um novo líder do Partido Socialista. Por outro lado, eu acho que neste momento também é importante levar em linha de conta que mesmo este hiato do natal não era uma boa altura para nós convocarmos as eleições", defendeu.
Interrogado sobre o facto de os cinco arguidos detidos no processo ligado aos negócios do lítio, do hidrogénio e do centro de dados de Sines terem ficado todos sujeitos a medidas de coação não privativas da liberdade, Miguel Albuquerque disse não comentar as decisões dos tribunais.
"O que eu acho neste momento é que nós temos uma situação que exige uma clarificação política em Portugal", apontou, referindo que "o ciclo político mudou completamente".
"Portanto, há uma mudança substancial no tempo político e, neste momento, também nos protagonistas políticos. Nesse sentido, vamos entrar num tempo novo", salientou.
Relativamente ao Orçamento do Estado para 2024, Miguel Albuquerque afirmou que o normal "seria este orçamento não ser aprovado", mas reiterou que concorda com a sua discussão e apreciação, tendo em conta os "prós e os contras".
"Isto tinha implicações em algumas áreas que são importantes para a população, como o aumento de salários, atualização de pensões", entre outras, elencou.
O presidente do executivo madeirense acrescentou que, após a eleição do novo Governo, em março, "há sempre a possibilidade de apresentar um orçamento retificativo em conformidade com o programa aprovado".
Portugal vai ter eleições legislativas antecipadas em 10 de março de 2024, marcadas pelo Presidente da República, na sequência da demissão do primeiro-ministro, na terça-feira.
António Costa é alvo de uma investigação do Ministério Público no Supremo Tribunal de Justiça, após suspeitos num processo relacionado com negócios sobre o lítio, o hidrogénio verde e um centro de dados em Sines terem invocado o seu nome como tendo intervindo para desbloquear procedimentos.
O Ministério Público (MP) considera que houve intervenção do primeiro-ministro na aprovação de um diploma favorável aos interesses da empresa Start Campus, responsável pelo centro de dados, de acordo com a indiciação, que contém várias outras referências a António Costa.
No dia da demissão, Costa recusou a prática "de qualquer ato ilícito ou censurável".
De acordo com o MP, no processo dos negócios do lítio, hidrogénio verde e do centro de dados em Sines podem estar em causa os crimes de prevaricação, corrupção ativa e passiva de titular de cargo político e tráfico de influência.
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