O ex-ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, está oficialmente na corrida para o cargo de secretário-geral do Partido Socialista (PS), contando com o apoio do antigo dirigente socialista e presidente do Conselho Económico e Social (CES), Francisco Assis.
Começando por contextualizar que a sua candidatura acontece num "momento difícil na vida da sua força política", tendo em conta a demissão do primeiro-ministro, António Costa, o antigo governante apontou que os portugueses conhecem-no, tanto nos sucessos, como nos insucessos.
"Os portugueses conhecem-me. Conhecem as minhas qualidades e os meus defeitos. Conhecem o meu inconformismo e a minha combatividade. Conhecem a minha vontade de fazer acontecer e os meus sucessos. Conhecem também os meus erros e as minhas cicatrizes. Sim, os erros que cometemos e as cicatrizes que carregamos fazem parte das nossas vidas", disse, perante uma multidão que irrompeu em palmas de apoio.
Acusou, nessa linha, aqueles "que não fazem e que não exigem" de raramente cometer 'deslizes', ao mesmo tempo que considerou ser necessário "aprender com os erros". O socialista não se coibiu, por isso, de tecer rasgados elogios a António Costa, que foi "um dos melhores líderes" com quem teve a oportunidade de trabalhar.
"António Costa foi o líder que derrubou os muros do PS e dos outros partidos da Esquerda parlamentar. Foi ele quem teve a iniciativa de desfazer o bloqueio que colocava o PS em desvantagem face a uma Direita que se conseguia entender para governar", complementou.
E continuou: "Seria errado e injusto esquecer o legado que é deixado ao país pelos governos liderados por António Costa. Uma investigação judicial ditou o fim do Governo. É um momento difícil para a nossa democracia e para o nosso partido, em particular."
PS "não vai passar os próximos quatro meses a discutir um processo judicial"
Apesar da conjetura e de ter dado ênfase ao combate à corrupção e à necessidade das regras do Estado de Direito Democrático, como é o caso da presunção de inocência, Pedro Nuno Santos apontou, contudo, que o PS "não vai passar os próximos quatro meses a discutir um processo judicial".
"O nosso dever é preparar e defender uma política para o país. Ao longo dos próximos meses, apresentaremos as nossas ideias nas diversas áreas, para dar resposta aos problemas e aos anseios dos portugueses. Mas, neste momento, permitam-me destacar três preocupações centrais: em primeiro lugar, os salários. Sem salários dignos, os trabalhadores portugueses não se sentirão nem reconhecidos, nem respeitados", defendeu, indicando que, sem salários dignos, não será possível estancar a emigração de jovens "que não se sentem valorizados pelo seu país".
E concretizou: "Portugal só conseguirá ser um país desenvolvido e próspero se valorizarmos os que trabalham, bem como os idosos, que trabalharam toda uma vida, e os jovens, que serão o futuro do nosso país."
Nessa linha, o candidato a secretário-geral do PS salientou a necessidade de o país ter "empresas fortes e rentáveis", através de investimento. Considerou, ainda, que o PS é o partido que "melhor promove o diálogo" entre trabalhadores e empresas.
A segunda preocupação do socialista "é o nosso primeiro direito", nomeadamente a habitação. Confessando que se trata de um "problema difícil", e que "mente quem disser que uma solução única e eficaz", Pedro Nuno Santos deu conta do trabalho iniciado "nunca antes visto" tanto por si, como depois da sua saída do Governo, apesar de reconhecer que é "insuficiente".
Também a valorização do território mereceu a atenção do deputado, em particular aqueles que "se sentem há muitas décadas abandonados num território esquecido".
"Queixamo-nos de Portugal ser um país pequeno, mas damo-nos ao luxo de não aproveitarmos mais de 70% do nosso território. Desenvolver o interior e os territórios de baixa densidade não é só cuidar, é respeitar o povo que nunca desistiu das suas terras e pensar no desenvolvimento de Portugal como um todo. Seremos uma comunidade mais forte, mais rica e menos igual quanto melhor soubermos aproveitar todo o nosso território", disse, apelando ao diálogo com as comunidades e autarcas para tornar "Portugal um país inteiro, continental e insular".
É muito importante lembrar todas estas promessas que a Direita fez e não cumpriu, porque ainda agora nos promete que não fará acordos com a Direita populista, racista e xenófoba, quando é precisamente isso que se prepara para fazer"
O antigo ministro das Infraestruturas lançou também farpas à Direita, que acusou de "não cumprir direitos", nem as suas promessas. Na verdade, o socialista disse, a título de exemplo, que "a Direita fala muito no controlo das contas públicas, mas o seu último Governo começou o seu mandato com a dívida pública nos 114% do PIB e acabou com 131%".
E acrescentou: "A Direita cortou salários e pensões quando prometeu que não o faria. A Direita cortou na saúde e na educação, quando prometeu que não o faria. Aumentou impostos quando prometeu que não o faria. É muito importante lembrar todas estas promessas que a Direita fez e não cumpriu, porque ainda agora nos promete que não fará acordos com a Direita populista, racista e xenófoba, quando é precisamente isso que se prepara para fazer."
"Só com o PS unido e forte poderemos proteger o legado que tanto custou a erguer"
Pedro Nuno Santos salientou que, com as celebrações do 25 de Abril à porta, será "a primeira vez que poderemos eleger um líder que já nasceu em liberdade", equacionando que, como muitos não viveram naquele tempo, é possível que se tenham esquecido de "que a democracia e o estado social são as maiores construções coletivas de que fomos capazes".
"Não chega comemorar estas conquistas; é preciso consolidá-las. É preciso garantir os meios necessários à escola pública e ao Serviço Nacional de Saúde, bem como a todos os outros serviços públicos essenciais ao bem-estar da população", acrescentou, salientando que "só com o PS unido e forte poderemos proteger o legado que tanto custou a erguer", mas também o futuro.
"O PS foi, é e continuará a ser um espaço comum de quem acredita na liberdade e na igualdade e de quem as entende como valores fundacionais de uma comunidade assente, uma comunidade em que o respeito pela dignidade humana, a tolerância e solidariedade prevalecem", disse ainda, defendendo que uma divisão dentro do PS "tem pouco sentido".
E rematou: "É por tudo isto que sou candidato a secretário-geral do PS. Sou candidato porque, tal como vós, sou herdeiro dos seus fundadores, dos seus valores e das suas ambições. Sou candidato porque acredito no meu país e tenho a esperança de que, convosco, somos capazes de vencer os desafios do futuro de Portugal. Força, camaradas. Temos umas eleições para vencer."
Sublinhe-se que as eleições diretas para a sucessão de António Costa no PS estão marcadas para 15 e 16 de dezembro, em simultâneo com a eleição de delegados, ao passo que o congresso deverá acontecer nos dias 6 e 7 de janeiro.
Face aos acontecimentos da passada terça-feira, na qual o primeiro-ministro apresentou a sua demissão, que foi aceite, depois de o Ministério Público ter revelado que é alvo de uma investigação autónoma do Supremo Tribunal de Justiça sobre projetos de lítio e hidrogénio, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, optou por dissolver a Assembleia da República e convocar novas eleições, que acontecerão a 10 de março de 2024.
Naquela manhã, as buscas da Polícia de Segurança Pública (PSP) e do Ministério Público culminaram com a detenção de cinco pessoas - entretanto libertadas -, incluindo o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária. Já o ministro das Infraestruturas, João Galamba, foi constituído arguido.
Por seu turno, António Costa recusou a prática "de qualquer ato ilícito ou censurável" e manifestou total disponibilidade para colaborar com a justiça "em tudo o que entenda necessário", numa declaração a partir do Palácio de São Bento.
[Notícia atualizada às 19h27]
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