A disputa em torno da liderança do Partido Socialista (PS) já está a fazer correr tinta, após Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro - dois dos candidatos - terem trocado farpas na Comissão Nacional do partido, que se realizou no fim de semana.
PNS desafiou Carneiro
O socialista Pedro Nuno Santos, que está na corrida contra o atual ministro da Administração Inteira e Pedro Adrião, desafiou José Luís Carneiro a focar a sua candidatura em "derrotar a Direita", acusando-o de o atacar.
"Esperaria que o meu adversário tivesse o mesmo foco e a mesma concentração no combate à Direita. Simplesmente, não é isso que tem acontecido: o meu adversário interno tem preferido dirigir-me ataques, mais do que à Direita", afirmou Pedro Nuno Santos, no sábado.
Carneiro respondeu
Em resposta às palavras de Pedro Nuno Santos, José Luís Carneiro frisou que não aceita "lições de como combater a Direita". "Temos ainda um longo caminho para conversar entre nós porque somos camaradas e amigos, em primeiro lugar", atirou.
Embora não se tenha alongado muito em declarações, afirmou ainda que "tem de haver muita tranquilidade na campanha e para enfrentar desafios do país".
"Estalou o verniz"
O comentador político Luís Marques Mendes reagiu às declarações trocadas pelos socialistas, apontando que "estalou o verniz" entre os candidatos à liderança do PS, considerando que Pedro Nuno Santo estava à espera que a corrida à liderança fosse, na verdade, "um passeio".
"José Luís Carneiro surpreendeu-o esta semana com vários apoios", referiu o antigo líder do PSD, lembrando o apoio manifestado por Augusto Santos Silva, Adalberto Campos Fernandes, Vieira da Silva e Jorge Lacão. "Surpreendeu-o e há aqui a ideia de que isto já não é um passeio. Mas no resultado final, continuo a achar que o favorito é Pedro Nuno Santos", deu conta.
Daniel Adrião entra na corrida
Outro momento que marcou o fim de semana foi a apresentação da candidatura de Daniel Adrião ao cargo de secretário-geral do PS em nome da "descontinuidade" face à linha seguida por António Costa e defendeu que o novo ciclo exige outros protagonistas.
"Para um novo ciclo político são necessários novos protagonistas. A minha candidatura não é de continuidade, sendo antes de descontinuidade. É uma candidatura com ideias muito claras, muito distintas, com um novo modelo de governança para o PS e com um novo projeto reformista e transformador para o país", sustentou.
Comissão Nacional do PS contou com declarações de Costa
O (ainda) secretário-geral socialista e líder do Executivo mostrou-se confiante no PS nas próximas eleições, afirmando que reúne "todas as condições para ganhar". "Mesmo uma maioria parlamentar aritmética de Direita dependente do Chega nunca será uma maioria governativa, porque o Chega não é um partido igual aos outros", defendeu.
O primeiro-ministro acusou deixou também um recado ao Partido Social Democrata (PSD): "Que ninguém pense que lá por fazer um acordo com o Chega e ter uma maioria na Assembleia da República cria condições de governabilidade".
Eleições diretas internas no PS a 15 e 16 de dezembro
A Comissão Nacional do PS aprovou, por ampla maioria, a marcação do congresso para 6 e 7 de janeiro e as eleições diretas internas para o cargo de secretário-geral socialista para 15 e 16 de dezembro.
Segundo o secretário-geral adjunto do PS, João Torres, "os 25 membros da Comissão Nacional do PS que usaram da palavra expressaram reconhecimento a António Costa" pelo seu trabalho "notável" ao longo de quase nove anos como líder do partido e como primeiro-ministro durante oito anos.
Interrogado se houve confronto entre apoiantes de José Luís Carneiro e Pedro Nuno Santos, candidatos à liderança do PS, o "numero dois" da direção dos socialistas respondeu: "Foi uma reunião serena".
Recorde-se que as eleições diretas para o cargo de secretário-geral acontecem após a demissão de António Costa. Na corrida encontram-se já Pedro Nuno Santos, José Luís Carneiro e Daniel Adrião.
A demissão do chefe do Executivo aconteceu após ter tido conhecimento que é alvo de um inquérito no Ministério Público (MP) junto do Supremo Tribunal de Justiça. Em causa está o facto de suspeitos num processo que investiga tráfico de influências no negócio de um centro de dados em Sines terem invocado o seu nome como tendo tido intervenção para desbloquear procedimentos, mas já recusou a prática "de qualquer ato ilícito ou censurável".
O MP deteve cinco pessoas: o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária, o presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, dois administradores da sociedade Start Campus, Afonso Salema e Rui Oliveira Neves, e o advogado Diogo Lacerda Machado, amigo de António Costa, que no final do interrogatório judicial foram colocados em liberdade.
No total, há nove arguidos no investigação aos negócios do lítio, hidrogénio verde e do centro de dados de Sines, entre eles o ex-ministro das Infraestruturas, João Galamba, o presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta, o advogado e antigo porta-voz do PS João Tiago Silveira e a empresa Start Campus.
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