O presidente do Partido Social Democrata (PSD), Luís Montenegro, afirmou, esta quinta-feira, que só será primeiro-ministro "se ganhar as eleições", referindo que está "convencido" de que vai vencer as legislativas e chefiar um executivo por essa via.
"Eu venho governar o país com a legitimação da vontade popular. Só serei primeiro-ministro se ganhar as eleições", disse o líder social-democrata, em entrevista à SIC.
"Só governarei o país se ganhar as eleições, o que quer dizer que estou mesmo convencido de que as vou ganhar e de que vou ser primeiro-ministro por essa via", insistiu, recusando formar governo com alianças à direita.
Ainda antes destas declarações, ao ser questionado sobre o que fará com o Orçamento do Estado, que descreveu como "pipi" e "betinho", caso assuma as funções de primeiro-ministro, Montenegro reiterou que criará um orçamento suplementar ou retificativo.
"Vamos, naturalmente, fazer a atualização daquilo que são os seus princípios e muitas das suas medidas, através de um orçamento suplementar ou retificativo, que introduzirá os nossos objetivos principais do ponto de vista das prioridades políticas, para que os serviços públicos possam servir os cidadãos", afirmou.
PNS ou José Luís Carneiro? "Ambos fizeram parte dos governos do doutor António Costa"
Questionado sobre as diretas do Partido Socialista (PS), e ao contrário do que deu a entender ao longo dos últimos dias, o presidente do PSD disse que lhe é "indiferente" quem assume a liderança dos socialistas e, por consequência, o enfrenta nas legislativas.
"Para nós é indiferente e, para mim, pessoalmente, não tenho nenhuma preferência. Tenho respeito pelos dois candidatos, que conheço bem há muitos anos. Evidentemente que isto não significa que nos não tenhamos quer para um, quer para outro, várias circunstâncias que é importante suscitar. Desde logo a circunstância que é comum aos dois: ambos fizeram parte dos governos do doutor António Costa", frisou.
Confrontando com o facto de se ter referido a Pedro Nuno Santos como "radical", Montenegro considerou que o antigo ministro das Infraestruturas "transporta em cima uma convicção muito profunda de governar em parceria com o Bloco de Esquerda e com o Partido Comunista Português".
"E é também um candidato que está associado a três das maiores trapalhadas que este Governo trouxe para a política portuguesa", disse, numa referência à polémica em torno da localização do novo aeroporto, à indemnização a Alexandra Reis e à "necessidade de o Estado injetar" 3,2 mil milhões de euros na TAP.
Incentivado a responder a um desafio deixado por José Luís Carneiro, que o questionou quanto à possibilidade de, no caso de uma derrota e de uma vitória do PS, sem maioria, se está disposto a viabilizar esse governo, o líder social-democrata foi claro: "Eu estou disposto a assumir a minha responsabilidade que é não constituir o Governo e, naturalmente que isso passará pela assunção da responsabilidade governativa por parte do PS. É uma decisão que cabe a mim e caberá também ao PSD nessa ocasião, porque eu não quero acorrentar o PSD a uma decisão que é minha, pessoal. Francamente, sinto-me capaz de conseguir a confiança maioritária do povo e, por via disso, e com base nisso, governar o país."
PSD "aberto a dialogar e ponderar" coligação pré-eleitoral com CDS e independentes
Na mesma entrevista, Montenegro disse ainda que o partido está "aberto a dialogar e ponderar" coligações pré-eleitorais com o CDS-PP e PPM e, sobretudo, a abrir as listas a independentes, apesar de ainda não ter tomado uma decisão.
"Ainda não tomámos uma decisão, mas estamos abertos a poder dialogar, ponderar com esses partidos e, sobretudo, com muitos cidadãos independentes - que se têm aproximado de nós e manifestado disponibilidade - e com isso termos listas ou em coligação partidária com independentes ou, pelo menos, o PSD com independentes", disse.
"O PSD está preparado para se apresentar, como é usual, sozinho em eleições. Não temos nenhum problema com isso. Mas também não excluímos a possibilidade de ter uma frente mais alargada, mais abrangente ainda, para podermos conquistar a confiança dos eleitores", notou.
Já sobre os independentes que pretende integrar nas listas de candidatos a deputados, o líder do PSD disse não ter "convites feitos", mas admite ter "muitas pessoas em mente". E admitiu: "Pode haver algumas surpresas."
Ao ser interrogado sobre a Iniciativa Liberal (IL) e o Chega, o presidente social-democrata notou que "são partidos nesta altura diferentes", mas "que vão disputar os eleitores num espaço político que também" é do PSD.
"Mas eu quero aqui dizer aos eleitores da IL e aos eleitores do Chega que há razões para concentrar o seu voto no PSD. O voto que muda de Governo é o voto no PSD", apelou.
Questionado sobre a ausência de referências ao ex-líder do PSD Pedro Passos Coelho no último Congresso, o atual líder daquele partido contrapôs que falou nele num dos seus discursos, e salientou "o grande orgulho no trabalho patriótico" do Governo PSD/CDS-PP entre 2011 e 2015.
"Dito isto, é verdade que há um certo estigma da sociedade portuguesa em relação a algumas medidas restritivas desse período que não foram bem entendidas. Eu já não estou a olhar para trás, eu estou a olhar para a frente", frisou.
O "programa de emergência na Saúde" com privados e o pedido de contas a Pedro Nuno Santos
A crise vivida na Saúde também foi tema de conversa e o presidente do PSD prometeu "um programa de emergência" na Saúde, através da contratualização com privados e setor social. Ao mesmo tempo, pediu contas a Pedro Nuno Santos pela sua proposta para a função pública.
"É preciso acabar com a teimosia ideológica que marcou os último anos em Portugal e ter um programa. É aquilo que eu vou fazer quando for empossado primeiro-ministro. Uma das primeiras medidas que tomarei é fazer executar um programa de emergência que dê as pessoas uma resposta para terem as consultas que não têm hoje ou estão em atraso, as cirurgias que não têm ou estão em atraso e o médico de família que não têm. Como é que isso se faz? Contratualizando com os privados e com o setor social", precisou, recusando as críticas de que o partido queira privatizar os serviços públicos.
"Não, estamos a aproveitar a capacidade instalada para servir o cidadão, o nosso centro é o cidadão", afirmou, dizendo que foram os governos do PS que "empurraram as pessoas para o setor privado" na Saúde.
Luís Montenegro considerou até que vai ser "muito difícil" reter os profissionais de saúde no setor público sem "uma gestão de complementaridade entre os setores público, privado e social", dizendo que têm saídas profissionais mais atrativas nestes últimos.
Na entrevista, o líder social-democrata reiterou propostas que tem apresentado, como a reposição faseada do tempo de serviço congelado dos professores ou, no Congresso do passado sábado, a subida do valor de referência do Complemento Solidário para Idosos para 820 euros no final da legislatura.
"É uma meta exequível, não é nada de fantástico à beira de propostas como a que ainda hoje ouvi de desbloquear todas as carreiras da administração pública e pagar o período que perderam nas últimas décadas", disse, referindo-se à proposta apresentada por Pedro Nuno Santos na sua moção de estratégia global de "recuperação gradual do tempo de serviço que esteve congelado" de todos os funcionários públicos.
"Vamos lá ver; pedem-me contas a mim, eu é que tenho de pedir contas a quem apresenta uma proposta dessa envergadura. Essa sim tem um alcance muito maior", completou.
[Notícia atualizada às 22h22]
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