O antigo presidente do Partido Social Democrata (PSD) Luís Marques Mendes falou, este domingo, sobre o acordo entre o ministério da Saúde e o Sindicato Independente dos Médicos (SIM), assim como a crise política e o próximo Governo.
Sublinhando que, apesar do acordo com o SIM, não houve acordo com a Federação Nacional dos Médicos (Fnam), Marques Mendes apontou que esta é uma situação de "copo meio vazio" e que este foi "um meio acordo".
"É uma vitória para o Sindicato Independente dos Médicos, que se autonomizou da Fnam, e que fez um acordo, com aumentos na ordem dos 15%, acima daquilo que são os níveis gerais da Administração Pública", notou no seu espaço de comentário na SIC Notícias.
Mas o comentador falou ainda da '"vitória amarga" para o ministro da Saúde, Manuel Pizarro. "Sempre disse aqui que o ministro saía vitorioso se conseguisse fazer a pacificação do setor - um acordo com os dois sindicatos. Não conseguiu. Claro que tem uma vitória porque conseguiu um acordo, mas é uma vitória com um sabor amargo, com um sabor a derrota", defendeu, explicando que a situação "deixa de fora um grande conjunto de profissionais". "Acima de tudo, o ministro acaba por sair do ministério e não deixa uma marca. Passou pelo ministério", considerou.
Em termos de futuro, o social-democrata disse que esta situação é mesmo um "presente envenenado" para o próximo Governo. "É uma herança pesada para o próximo Governo", afirmou, justificando com a situação das urgências, em que ainda existe recusa das horas extraordinárias.
A saída de Costa...
Com a demissão do primeiro-ministro, António Costa, a ser oficializada esta próxima semana, Portugal passará a estar sob um Governo de gestão, o que marca o fim de um ciclo político.
Salientando que Costa é um "político de peso" e que este marcou a "vida política", o antigo líder social-democrata rematou: "Em grande medida, em questões essenciais, aconteceu tudo durante este ciclo - ao contrário do que se tinha previsto". Marques Mendes lembrou, neste âmbito, a Geringonça, que durou uma legislatura ao contrário do que "previa", assim como a maioria absoluta, que "se dizia ser impossível". "António Costa conseguiu uma maioria absoluta. Tudo ao contrário do que se previa", sublinhou.
"Depois, o que se disse foi que António Costa ia bater o recorde de longevidade como primeiro-ministro - é de [Aníbal] Cavaco Silva, que esteve dez anos seguidos como primeiro-ministro", continuou, entre outros exemplos.
"Há esta curiosidade de um ciclo que em grande medida seguiu um caminho muito diferente daquele que inicialmente se traçava", apontou.
Em geral, Costa "quebrou os muros à Esquerda", mas por outro lado "assassinou a ideia de uma maioria absoluta" - e explicou. "Enquanto as pessoas se lembrarem das trapalhadas que ocorreram, por exemplo, na TAP, ou dos tiques de alguma arrogância na governação e das suspeitas a partir de processos judiciais, dificilmente dão a um partido a maioria absoluta - à Direita ou à Esquerda. E isso eu acho que tem algumas consequências para o futuro", defendeu.
... e a sucessão
Mas para além do fim deste ciclo político, Marques Mendes falou também do futuro, nomeadamente dos candidatos à liderança do Partido Socialista José Luís Carneiro e Pedro Nuno Santos, que surgem como líderes em quatro sondagens.
Apesar de sublinhar que as sondagens mostram a preferência por Pedro Nuno Santos, há também dados que indicam que José Luís Carneiro pode vir a ser o próximo líder socialista.
Para além das preferências, Marques Mendes notou ainda que o ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação tem mais apoios "dentro da máquina socialista".
"Acho que José Luís Carneiro, ao contrário, tem surpreendido com apoios mais na sociedade. Não se se isso tem significado nos votos internos, mas apoios na sociedade", apontou, exemplificando com a antiga primeira-dama Manuela Eanes, que este domingo terá, de acordo com o comentador, telefonado a José Luís Carneiro.
"Não é militante do Partido Socialista, mas é uma figura de referência e prestígio da sociedade portuguesa. Sei que ainda hoje telefonou a José Luís Carneiro. Não a manifestar apoio, porque não é militante, mas a manifestar simpatia pela sua candidatura e pelos valores da sua candidatura. Mostra que José Luís Carneiro na parte dos portugueses tem vindo a surpreender", disse, confessando que estes apoios "de cariz surpreendente" podem não ficar por aqui.
Marques Mendes recordou ainda a entrega das moções de candidatura ao presidente do partido, Carlos César, referindo que ambos os candidatos eram "muito diferentes" e que isso seria algo que podia mesmo "jogar a favor do Partido Socialista".
"Um é manifestamente mais ao centro, ou é manifestamente mais à Esquerda", distinguiu, referindo-se a José Luís Carneiro e Pedro Nuno Santos, respetivamente. "É muito difícil encontrar num debate interno de um partido dois candidatos à liderança tão diferentes e tão contrastantes", apontou.
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