Uma delegação do BE, encabeçada por Mariana Mortágua, visitou hoje o centro de acolhimento do Beato para pessoas em situação de sem-abrigo, em Lisboa, que é gerido pela Associação Vitae.
"Há um histórico mais recente de novas pessoas sem-abrigo, cada vez mais jovens, que vêm parar a este centro de acolhimento temporário porque são despejadas ou porque não conseguem ter acesso a um alojamento, apesar de trabalharem", afirmou.
Falando aos jornalistas depois de ter conhecido o espaço, que existe desde a década de 1990 e acolhe atualmente cerca de 270 pessoas, Mariana Mortágua considerou que existirem pessoas que não conseguem aceder a uma habitação ou são despejadas porque não conseguem pagar uma renda ou a prestação, mesmo trabalhando, "é o maior drama".
"E não é um drama de exceção, é um drama que se está a tornar uma regra e transformar-se num fenómeno que não devia existir, mas que, em vez de se tornar cada vez mais residual, se torna cada vez maior, com números de sem-abrigo a crescer 20, 30% todos os anos por causa da crise da habitação", apontou.
Apontando que "os dados são sempre difíceis de ter como certeza, porque as formas de contabilização de pessoas sem-abrigo mudam", a líder do BE afirmou que "uma coisa é certa, estão a aumentar".
"E estão a aumentar não só por questões tradicionais, problemas psiquiátricos que a pandemia também aumentou muito, problemas de desemprego de longo prazo, problemas de consumos, dependências, mas estão a aumentar porque as pessoas são despejadas e não conseguem pagar uma casa ou um alojamento, apesar de trabalharem. E essa é a maior indignidade que um país pode oferecer a quem aqui vive", salientou.
A coordenadora bloquista sustentou que esta situação não pode ser tolerada e que "a crise da habitação se resolve com casas a preços acessíveis e salários dignos".
"Já é mau demais ter tanta gente na rua, quanto mais acrescentar estes números, simplesmente porque se a habitação se transformou num negócio e em especulação e não um direito que tem que ser respeitado", salientou.
Mariana Mortágua apontou que centros como o do Beato "deviam dar resposta a outras situações e não a uma situação de crise da habitação".
"Este é um centro que existe desde os anos 90, sempre nas mesmas instalações, sempre temporárias, que se tornaram permanentes, como muitas coisas neste país, e que não têm condições físicas neste momento para dar a melhor resposta possível. Estão à espera há muito tempo, há demasiado tempo, de uma verba para obras que, tanto quanto sabemos, será possível num futuro breve e que é importante que venha", afirmou.
A coordenadora do BE destacou também que ali as pessoas não são tratadas "como delinquentes", mas "são acompanhadas com os seus casos individuais, as suas especificidades, as dificuldades que encontraram na vida, e de certo encontraram muitas, e também são acompanhadas para que possam ser reinseridas na sociedade, com um emprego, e possam não voltar a uma situação de sem-abrigo, depois tornando muito mais difícil o seu acolhimento e a sua reinserção".
E apontou que "a situação de alojamento é crucial para que qualquer pessoa consiga ter uma vida estruturada e orientada".
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