O ex-líder do Partido Social Democrata (PSD), Rui Rio, decidiu usar o sarcasmo, esta terça-feira, para falar do 'arrufo' familiar entre Marcelo Rebelo de Sousa e o filho, Nuno.
"Um Natal com algumas dificuldades em termos de harmonia familiar", pode ler-se numa publicação de Rui Rio na rede social X (antigo Twitter), referindo-se à notícia que dá conta que o filho do Presidente da República se terá reunido com o então secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, sobre o caso das gémeas luso-brasileiras, há quatro anos, porque não o conseguiu via Presidência.
Um Natal com algumas dificuldades em termos de harmonia familiar. 🤓 https://t.co/Pz9akmsYVa
— Rui Rio (@RuiRioPT) December 26, 2023
"Só soube disso agora e tenho muito pena de não ter sabido há quatro anos e tal, porque era nessa altura que devia ter sabido, não agora. Mas isso diz respeito às relações pessoais. Pessoalmente, retiro as conclusões de não ter sido dito o que devia ter sido dito, que me permitia intervir para que não tivesse acontecido o que aconteceu", argumentou Marcelo em declarações aos jornalistas desde o Barreiro, distrito de Setúbal.
"Quem organizou, quem fez esse encontro, fê-lo porque não conseguiu chegar onde queria por outro caminho, que era através do Presidente e da Presidência da República, por isso é que foi a seguir tentar outra coisa", atirou ainda.
Perante a insistência sobre se tinha falado, ou não, com o filho, Nuno Rebelo de Sousa, o Presidente da República atirou: "Quem tem de falar, e há quatro anos e meio, não sou eu. Pois se não tenho que falar, quem tem que falar é que tem que falar".
O chefe de Estado admitiu que esta situação gerou, para si, "uma situação pessoal muito desagradável", ainda por cima na "pior altura do ano para ter situações desagradáveis, que é o Natal".
De recordar que, em entrevista ao Expresso, Lacerda Sales admitiu ter-se reunido com o filho do Presidente da República, num encontro em que Nuno Rebelo de Sousa lhe falou do caso das gémeas.
Lacerda Sales conta que foi o filho do Presidente da República a pedir uma reunião, "com o objetivo de apresentar cumprimentos", e que, durante o encontro, falou do caso das duas crianças com atrofia muscular espinhal, que viriam a ser tratadas no Hospital de Santa Maria com um fármaco de dois milhões de euros (por pessoa).
"Disse-me que conhecia duas crianças luso-brasileiras com AME, com perto de 1 ano, e que seria importante fazerem um medicamento (Zolgensma) até cerca dos 2 anos. Não me deu conta de que haveria um processo paralelo do ponto de vista formal, que tinha havido contactos com a Estefânia, com a Casa Civil, que esse contacto tinha ido para o gabinete do primeiro-ministro e para o Ministério da Saúde", afirma.
O ex-governante conta igualmente que o filho do Presidente da República lhe perguntou qual seria a amplitude da sua intervenção e que lhe respondeu que "trataria este caso como todos os outros, sem privilégio".
O caso das duas gémeas residentes no Brasil que adquiriram nacionalidade portuguesa e receberam em Portugal, em 2020, o medicamento Zolgensma, com um custo total de quatro milhões de euros, foi divulgado pela TVI, em novembro, e está a ser investigado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS).
Uma auditoria interna do Hospital Santa Maria concluiu que a marcação de uma primeira consulta hospitalar pela Secretaria de Estado da Saúde foi a única exceção ao cumprimento das regras neste caso.
Segundo o relatório da auditoria interna pedida pelo Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), os controlos internos de admissão, tratamento e monitorização dos tratamentos a crianças com atrofia muscular espinhal entre 2019 e 2023 foram respeitados, à exceção da "referenciação de dois doentes para a primeira consulta de neuropediatria".
O documento refere ainda que as duas meninas foram referenciadas (através do pedido de consulta) pelo então secretário de Estado da Saúde, uma situação que Lacerda Sales continua a negar.
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