Luís Marques Mendes considerou, este domingo, que o 24.º Congresso do Partido Socialista (PS) correu "bem" ao novo secretário-geral da estrutura política, Pedro Nuno Santos, no entanto, entende que os "ataques" e "ajustes de contas" dirigidos ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e ao Ministério Público (MP), sobretudo por parte dos 'costistas', não têm "qualquer utilidade" e prejudicam o novo líder socialista.
No seu habitual espaço de comentário, na SIC, o antigo líder do Partido Social Democrata (PSD) adjetivou o Congresso de "curioso", dividindo-o em três partes "muito diferentes".
Marques Mendes começou por destacar a "unanimidade". "Apoiantes de António Costa, apoiantes de Pedro Nuno, todos no mesmo sentido, que é :afirmar, reafirmar e homenagear o legado de António Costa", frisou. Segundo o comentador, Costa "é uma das figuras mais marcantes do Partido Socialista, fica na história do Partido Socialista e o Congresso reconheceu".
Por outro lado, a reunião dos socialistas ficou marcada por "dois ataques, um ao Presidente da República e outro ao Ministério Público", "mais [por parte dos] apoiantes de António Costa".
"Acho que o primeiro, ao Presidente da República, é um bocadinho irracional", apontou Marques Mendes.
"É um ajuste de contas, mas sem qualquer utilidade", frisou o também conselheiro de Estado, notando que, primeiro, o atual Presidente "já não vai mais a votos". "Segundo, ganhe quem ganhar as próximas eleições legislativas, a verdade é só esta: Marcelo Rebelo de Sousa continua cá e António Costa sai", atirou.
"Não se percebe muito bem a utilidade disto", realçou ainda.
No entanto, para Marques Mendes o "erro maior nestes ajustes de contas é o ataque ao Ministério Público". "É uma anormalidade", considerou.
Apesar de notar que sempre foi "contra o parágrafo" que levou à demissão de António Costa, o antigo presidente do PSD não concorda com as críticas apontadas ao MP por parte dos socialistas nesta fase.
"No momento em que você está a puxar pelo assunto judicial, obviamente, desvia as atenções da mensagem política que quer passar. Por isso é que Pedro Nuno Santos é contra, por isso é que ele não quer que se fale do processo judicial", explicou. "Os apoiantes de António Costa, aqui, estão a prejudicar o novo líder", defendeu.
Além disso, reforçou: "O PS queixa-se da Justiça, mas durante oito anos não fez nenhuma reforma na Justiça, mesmo quando o PSD de Rui Rio se disponibilizou", disse. "Finalmente, queixa-se da procuradora-geral da República. Mas, eu, aqui, recordo uma vez mais, quem é que a escolheu? Foi o Governo que a escolheu", lembrou.
Por último, relativamente ao Congresso, Marques Mendes destacou a presença de Pedro Nuno Santos em palco. "Eu acho que o Congresso a ele correu-lhe bem", considerou.
"Primeiro, conseguiu fazer a unidade do partido. O partido, aparentemente, e parece-me que, realmente, está unido. Segundo, porque ele não se envolveu, naquilo que eu chamo estas tontarias de ataques ao Presidente da República e ataques ao Ministério Público. Ou seja, eu acho que ele foi inteligente", precisou.
"Terceiro, porque ele fez dois bons discursos", completou, referindo que o discurso de encerramento do líder do PS foi "estruturado, bem pensado" e define "as linhas orientadoras de uma agenda governativa".
Para Marques Mendes o "problema" de Pedro Nuno Santos não é, contudo, "o que aconteceu" neste Congresso, mas sim "a sua historia governativa". "É a sua passagem pelo Governo, é a imagem de impreparação ou até de alguma imaturidade que ele deixou nalguns dossiês", destacou.
"PSD, CDS-PP e PPM fizeram bem em fazer esta coligação"
Outro tema em destaque foi a assinatura, por parte do PSD, CDS-PP e Partido Popular Monárquico (PPM), do acordo de coligação Aliança Democrática (AD). "Acho que PSD, CDS-PP e PPM fizeram bem em fazer esta coligação", disse o comentador.
Marques Mendes entende que esta Aliança tem "quatro vantagens": "dá um novo elã político, mobiliza", "permite ter mais deputados do que se os se partidos concorressem separadamente", tem um "ramo além dos partidos, que são os independentes" e que "é uma abertura à sociedade" e, por último, "criou a expectativa" de ser um projeto" reformador e transformador".
Segundo o antigo líder social-democrata, na cerimónia de hoje "tivemos as três primeiras vantagens, falta agora a quarta", "falta um projeto reformador e transformador".
"Claro que, hoje, não era o dia para isso, hoje era o dia de apresentar a coligação. Mas, acho que, nos próximos dias dias e semanas esse projeto tem de existir", defendeu, referindo que o mesmo se deve centrar em quatro áreas "essenciais" - Economia, Saúde, Educação e Habitação.
"Outro problema" desta AD "é o Chega", afirmou. "A Aliança Democrática só ganha as eleições se o Chega não tiver um resultado muito alto. Se o Chega tiver um resultado muito alto, tipo mais de 10%, é muito difícil a AD ganhar as eleições", destacou. "O que significa que a AD vai ter que ter uma mensagem certa, adequada, no sentido de explicar aos eleitores que a concentração de votos é que ajuda, de facto, as possibilidade de vitória", completou.
Campanha "tem de ser menos pela negativa e mais pela positiva"
Segundo Marques Mendes, a campanha, tanto do lado de Luís Montenegro como de Pedro Nuno Santos, tem sido marcada por "diagnósticos ou pela negativa"
"As pessoas estão um bocadinho fartas e bem", disse, referindo que são precisos "menos diagnósticos e mais propostas".
"Já estamos cheios de diagnósticos. E tem de ser menos pela negativa e mais pela positiva", rematou o comentador.
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