Em declarações aos jornalistas à chegada ao pavilhão desportivo Francisco de Holanda, em Guimarães, onde vai decorrer um almoço-comício do PS, José Luís Carneiro afirmou que o secretário-geral socialista, Pedro Nuno Santos, já demonstrou que "coloca o interesse do país acima dos interesses partidários", ao comprometer-se a viabilizar um Governo da AD caso não vença as eleições ou não haja maioria de esquerda.
É "aquilo que a AD ainda não foi capaz de fazer, refugiando-se num tabu de estar a aguardar pelos resultados eleitorais. Acho que tem o dever, perante o país, de explicar o que é que faz se o PS não ganhar com maioria absoluta. Foi isso que Pedro Nuno Santos colocou no debate e até agora ainda não teve uma resposta política", afirmou.
Questionado a quem é que prejudica este tabu, Carneiro respondeu: "Dizem-me que há umas negociações escondidas entre os partidos da AD e outros partidos em relação ao futuro. Mas os portugueses têm o direito de conhecer aquilo que anda a ser negociado nos bastidores".
Carneiro sublinhou que "os únicos que não clarificaram a posição foi a AD e era importante que pudessem aproveitar este fim de semana para clarificarem e responderem aos portugueses se colocam em primeiro lugar o país ou os interesses partidários".
Pouco depois, no seu discurso neste almoço-comício, José Luís Carneiro voltou ao assunto, para saudar o "grande sentido de responsabilidade" de Pedro Nuno Santos ao ter admitido viabilizar um Governo da AD e para insistir que o líder do PSD, Luís Montenegro, "tem o dever para com os portugueses de transparência, de clareza democrática", de clarificar a sua posição.
"Temos tido muitos cidadãos que vêm ao nosso encontro e nos dizem 'cuidado, porque nós temos informações diversas de que eles andam a negociar nas costas dos portugueses uma futura aliança mesmo com aqueles que são contra os valores constitucionais que nós defendemos'", aviso.
O também ministro da Administração Interna insistiu assim que Montenegro precisa de clarificar se os partidos da AD viabilizam um Governo do PS caso os socialistas não ganhem as eleições com maioria absoluta.
Neste discurso, Carneiro advertiu ainda que as democracias "vivem hoje tempos muito exigentes" e "muito difíceis", referindo-se ao crescimento da direita radical e dando o exemplo do que aconteceu nos Estados Unidos ou no Brasil.
José Luís Carneiro, que foi derrotado por Pedro Nuno Santos na disputa pela liderança do PS em dezembro, sublinhou assim que o secretário-geral do PS tem um "importante desafio": "reabilitar esta relação de confiança dos cidadãos com a sua democracia e as suas instituições".
"E só um voto no PS pode travar os extremismos, sejam eles de extrema-esquerda anarquista, sejam eles de extrema-direita, porque o PS é o partido que salvaguarda os valores constitucionais desde 1976", frisou, gerando um aplauso da plateia.
Carneiro desafiou ainda os partidos de direita a visitarem os 14 municípios do distrito de Braga para testemunharem o investimento público que está a ser feito em setores como a saúde, mobilidade, educação ou infraestruturas.
"Ouvimos a direita negar as evidências daquilo que se consegue ver em todos os territórios deste distrito. Neste momento, temos no distrito de Braga mais de 840 milhões de euros de investimento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)", afirmou, destacando o papel "de grande responsabilidade" que Pedro Nuno Santos teve em vários investimentos no distrito, designadamente na área da habitação e dos transportes.
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