'Pesos pesados'. Com Carvalhas e Jerónimo, CDU trouxe prova de vida
Lisboa deu hoje uma 'prova de vida' da CDU, ao trazer às ruas da baixa lisboeta mais de mil pessoas, entre as quais os anteriores líderes do PCP, Jerónimo de Sousa e Carlos Carvalhas.
© Álvaro Isidoro / Global Imagens
Política CDU
Da Praça do Município até ao Rossio vai uma curta distância, mas a suficiente para deixar a larga distância a mobilização das outras iniciativas de rua da CDU nesta campanha eleitoral. Ao lado do atual secretário-geral do PCP seguiam figuras de relevo da Coligação Democrática Unitária (CDU, que junta PCP e PEV), como António Filipe (PCP) ou Mariana Silva (PEV), mas todas as atenções estavam centradas no encontro com os antecessores antes do comício.
Com um abraço sentido a Jerónimo de Sousa e Carlos Carvalhas à chegada ao Rossio, Paulo Raimundo enalteceu o "orgulho imenso" em receber os anteriores líderes na campanha. "São os pesos pesados. É mais uma batalhazinha, não é verdade? Ia-te dar um cravo, Carvalhas, mas já tens. E o Jerónimo também já tem... Pronto", afirma o atual secretário-geral.
Para trás ficavam poucas centenas de metros trilhados a passo lento, com cravos e bandeiras nas mãos. Às ruas cortadas para a passagem do desfile juntavam-se algumas pessoas nas varandas e a curiosidade de estrangeiros que tiravam fotos, antes de Paulo Raimundo subir ao palco para se mostrar entusiasmado com "extraordinária imagem" à sua frente.
"Há bocado perguntavam-me se isto era uma demonstração, um último suspiro de quem está quase a cair... Ui, quem faz isto, quem tem esta força e determinação não é de estar quase a morrer. É de estar bem vivo, a crescer e a alargar", atira, antes de um discurso no qual reiterou as principais bandeiras, do aumento dos salários e das pensões ao combate à precariedade e aos grandes grupos económicos.
São bandeiras que Carlos Lapa já conhece há muitos anos, quase tantos como os 81 anos de vida. Com duas bandeiras nas mãos, refuta à Lusa os prenúncios de morte ou desaparecimento que algumas vozes apontaram aos comunistas nos últimos tempos, à boleia de sondagens com resultados negativos para a CDU.
"A morte da CDU já está anunciada há muitos anos, só que o Partido Comunista já tem mais de 100 anos e para a semana comemora os 103 anos", recorda, justificando o apoio ao partido com uma vida de trabalho que começou ainda "muito novo" a ajudar o pai no talho, passou por França para fugir à tropa e que ainda não terminou. "Sou reformado e continuo a trabalhar porque as reformas não dão", refere, esclarecendo trabalhar ainda como técnico de contas.
Garante que "a expectativa é boa" para as eleições legislativas de domingo, mas deixa um alerta: "O problema é que muitas vezes a aceitação das campanhas não corresponde à realização dos votos. Temos de ter cuidado com as expectativas".
Carlos Lapa não veio sozinho. Consigo estava também o filho, Manuel Lapa, de 57 anos, mais tímido nas palavras, mas comprometido com o partido desde há dois anos, quando se registou como militante depois de sempre ter votado na CDU.
"Temos de esperar, fazer o nosso trabalho e no dia 10 os portugueses é que vão decidir o valor das sondagens. Por aquilo que temos sentido, acreditamos que vamos subir", nota, assumindo um olhar benevolente sobre a prestação de Paulo Raimundo à frente dos comunistas: "Tem vindo em crescendo. Tem uma forma diferente de falar, começou há pouco tempo e nos debates veio a crescer. Para a próxima será certamente melhor, porque vai aprender muito".
Do outro lado da praça, outro pai trouxe também a sua descendência ao comício, desta feita uma filha, que herdou igualmente a militância política. Depois da multidão que acorreu hoje à iniciativa dos comunistas, Joana Pires, de 52 anos, confessa estar confiante.
"A CDU nunca me tem deixado mal. Tem defendido sempre os trabalhadores e aquilo que eu defendo para o país", conta, garantindo que há futuro além das memórias do passado do PCP: "Acho que isto é uma prova de vida, sim. Continuamos com força, continuamos cá. O meu pai tem 80 anos e veio aqui. Isto é gente de garra, gente de luta e gente de trabalho".
A mesma luta que pareceu espantar Paulo Raimundo ainda nos primeiros momentos do comício. "E que força é esta? Que esperança é esta de que é feita a CDU e que hoje está a desaguar no Rossio?", pergunta, antes de reforçar "a oportunidade" de 10 de março.
No entanto, e enquanto não chega o dia das eleições, dançou-se no Rossio.
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