Quando a campanha da CDU também se faz numa visita a um museu

Um museu não será o lugar mais óbvio para uma ação de campanha eleitoral, mas foi pelo museu de arte da Gulbenkian, em Lisboa, que passou hoje uma comitiva da CDU liderada pelo secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo.

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© Horacio Villalobos#Corbis/Corbis via Getty Images

Lusa
07/03/2024 22:23 ‧ 07/03/2024 por Lusa

Política

Paulo Raimundo

Por entre uma arruada no Barreiro ao final da manhã e o desfile ao final da tarde no Chiado, o líder comunista fez da exposição "As mulheres de Maria Lamas", em homenagem à jornalista, escritora, fotógrafa e ativista dos direitos cívicos e humanos, um invulgar momento de campanha sob a bandeira da igualdade entre homens e mulheres.

Enquanto caminhava pelos corredores preenchidos com os retratos de mulheres portuguesas de meados do século XX e da dureza das suas condições de vida, Paulo Raimundo ia ouvindo as explicações de Ana Barata, historiadora de arte e bibliotecária na Gulbenkian, que descrevia a vida de uma mulher "à frente do seu tempo" e no caminho da oposição à ditadura.

"É um exemplo do que o regime não queria que as mulheres fizessem. Uma mulher divorciada, que vai sozinha de carro, de burro, de autocarro e de comboio pelo país inteiro com um inquérito para conhecer melhor a vida das suas irmãs portuguesas", contou a especialista.

Das paredes onde repousavam as fotografias -- pequenas, como as provas da época feitas por Maria Lamas -- são devolvidos olhares duros, cansados de "uma vida muito escrava", como descrevia Ana Barata, mas sem a "esteticização da pobreza".

"É preciso ter muita coragem, ainda por cima para fotografar e escrever sobre mulheres, algumas muito novinhas", comentou o secretário-geral do PCP, que seguia acompanhado apenas por mulheres, com destaque para a cabeça de lista por Setúbal, Paula Santos, as candidatas pelo PEV Heloísa Apolónia e Mariana Silva, ou a ex-secretária-geral da CGTP, Isabel Camarinha.

"Estou muito bem acompanhado. Para homens estou cá eu", brincou, sem deixar de estender a defesa da igualdade aos homens: "É uma luta de todos, não apenas das mulheres, mas as mulheres têm um papel determinante. Que os homens sejam arrastados para isso e, como estão a ver, eu fui completamente arrastado -- no bom sentido -- por esta extraordinária moldura de mulheres lutadoras".

Além dos retratos nas paredes, os expositores no meio da sala apresentavam algumas das obras escritas por Maria Lamas, quer em nome próprio, quer sob o pseudónimo Rosa Silvestre para um público mais infantil, mas também obras traduzidas, como 'O Feiticeiro de Oz'.

Durante perto de uma hora, Paulo Raimundo visitou a exposição e aprendeu sobre o percurso de Maria Lamas sem contactar com um único eleitor. Questionado sobre o significado de uma ação sem contacto com os eleitores a poucas horas do fim da campanha, quando os outros líderes partidários se desdobram nas derradeiras iniciativas em busca de mais um voto, o líder da CDU atestou a "grande importância" do gesto.

"É um exemplo que queremos projetar, não só para as horas que faltam da campanha, mas para a afirmação de amanhã no grande dia 08 de março e também para os direitos que vão ter de continuar a ser defendidos e exercidos depois de dia 10. Podia ter feito 20 contactos aí fora, é verdade, mas não teria tido oportunidade de vir projetar esta imagem de Maria Lamas, que valia só por si, mas vale por muito mais do que isso", disse.

Maria Lamas fez um percurso de oposição ao regime e viria a inscrever-se no PCP após o 25 de Abril, lutando pelos direitos das mulheres. Contudo, Paulo Raimundo acentuou, como é habitual, que a luta continua e que os direitos das mulheres não estão ainda plenamente cumpridos quase 50 anos depois em Portugal, recorrendo ao exemplo da "lutadora incansável" que foi Maria Lamas.

"Há muito espaço para percorrer, muita discriminação para acabar, muita violência para com as mulheres para acabar de uma vez por todas. Não há nenhuma sociedade plenamente democrática sem a igualdade entre homens e mulheres", referiu, concluindo: "Podíamos ter vindo amanhã, podíamos não ter vindo... Acho que se não tivéssemos vindo eu tinha perdido e vocês também tinham perdido um bocadinho. Temos de voltar todos".

Leia Também: CDU centra campanha em salários e pensões e vota sondagens à indiferença

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